O filme “Rádio Favela – Uma Onda no Ar”, dirigido por Helvécio Ratton, conta a difícil trajetória de uma rádio comunitária criada por um grupo de amigos em uma favela de Belo Horizonte. De forma clara e expressiva o enredo nos leva à alguns pensamentos a respeito da falta de liberdade de expressão que a sociedade brasileira vem sofrendo no decorrer dos anos.
A ideia de criar a Rádio Favela surgiu de Jorge em conjunto com seus amigos Brau, Zequiel e Roque, que são moradores da favela. Zequiel, entendia sobre eletrônica e se propôs a construir o 1º transmissor e os aparelhos necessários para dar início a Rádio, mas, isso sairia bem caro para o grupo. Jorge, o mais empolgado com a ideia, abriu mão de suas economias, conquistadas como flanelinha durante o colegial, e comprou os aparelhos, apesar da difícil aceitação de sua mãe. “A gente precisa de uma rádio para a gente falar o que a gente quiser para todos escutarem. Uma rádio da gente”
Jorge Brau foi quem surgiu com a ideia da Onda no Ar, um artista de rua, que adorava fazer rima e foi quem criou um rap para tocar na rádio. Porém, teve sua vida interrompida ao levar um tiro por engano, em meio a um conflito envolvendo seu amigo Roque. Em busca de dinheiro fácil, Roque se envolveu no mundo do crime e não demorou muito para chegar ao mesmo fim que Brau. Foi assassinado enquanto comandava um ponto de drogas no alto do morro.
Todos tinham o sonho de serem ouvidos por toda comunidade e também dar voz a ela, uma vez que as outras rádios não faziam isso. E mesmo com esse triste fim, Jorge e Zequial não desistiram e seguiram na luta pelo sonho. Apesar de toda a dificuldade para montar o transmissor e os outros aparelhos para a rádio, os amigos uniram-se e com a ajuda dos moradores da comunidade, conseguiram fazer a primeira transmissão, que contou com intensa divulgação na comunidade, por meio da entrega de panfletos e grafites pelo morro. Foi na sala da casa do próprio Jorge que a Rádio Favela foi ao ar, propositalmente às 19h, horário da “Voz do Brasil”. Sem qualquer autorização e trazendo informações de forma clandestina, continuaram com o projeto, mesmo sabendo dos riscos.
Com o tempo, a rádio e os jovens ganharam destaque, dentro e fora da favela. Eles trabalhavam pautas sobre a utilidade pública e levavam os ouvintes a pensarem em questões sociais, que ninguém havia parado para refletir. Criticavam a elite e autoridades, como: políticos e policiais e expressavam suas opiniões sobre os mais variados assuntos. Davam espaço aos músicos para tocarem suas canções e divulgavam a cultura da comunidade.
As autoridades locais começaram a se preocupar e perseguir os idealizadores do programa, alegando interferir em outros meios de comunicação e que a população era induzida a ir contra o sistema. Jorge foi preso várias vezes. Quando a polícia ameaçava invadir o local de transmissão, a aparelhagem precisava ser levada de uma casa para outra, para que não fosse destruída. Quando o governo percebeu que a sociedade estava apoiando o trabalho dos rapazes do morro e a mídia já estava dando espaço para tal ideia, resolveram conceder autorização para a transmissão do programa e cancelar a perseguição. Ironicamente, em um ano de eleições.
A Rádio Favela sobreviveu à muitas situações em que poderia ser decretado o seu fim, como a falta de verba para a manutenção, carência de local apropriado e ações de vandalismo, por parte de policiais. E só permaneceu porque Jorge, Zequiel e toda a comunidade se dedicaram e deram continuidade à rádio, que era para um bem comum.
O filme é um belo exemplo de como a voz do povo tem poder. A união presente na comunidade e a força de vontade em realizar um sonho foram mais fortes que qualquer prêmio da ONU ou algum retorno financeiro. Ajudar a comunidade a se defender e terem seus direitos garantidos se tornou a maior riqueza para Jorge e Zequiel.