A quarentena

por Victoria Fernandes (texto) / AES

Segunda semana de confinamento, para sermos mais exatos decimo primeiro dia. O mundo está um caos completo, pessoas não saem nas ruas, as praças, praias, bares, restaurantes, estão todos vazios, mas todos os lares estão
cheios. 

O pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro, dividiu a população a respeito da quarentena, e devo dizer que nem eu mesma sei o que fazer. Me encontro nos dois lados da história, eu e meu irmão já tivemos crises respiratórias, o que por um lado nos coloca no grupo de risco, por outro lado temos uma padaria, na qual é preciso abrir todos os dias, estar em contato com varias pessoas e que se não abrirmos não teremos rendimento e corremos o risco de perder a clientela.

O que fazer em uma situação como está? É muito fácil pedir para ficar em casa quando se tem de tudo. Mas e aquele trabalhador que recebe por dia? E aquela família que só consegue fazer as compras semanalmente e que hoje, em que já estamos na segunda de confinamento, ela não tem mais nada na dispensa? Acredito sim, que temos que tomar atitudes preventivas, cuidar de nossos idosos e todas as pessoas do grupo de risco, mas também temos que olhar todos os lados, todas as consequências que teremos.

Pelo que vi recentemente o governo irá liberar uma “ajuda de custo” para todos os trabalhadores informais e desempregados. O que pelo meu ver, não é mais do que obrigação, já que pagamos valores altíssimos em nossos impostos. Ficamos com nossa padaria fechado por três dias, e a solução que tivemos foi de apenas o meu pai ir trabalhar. Mesmo com todos os cuidados, sempre lavando as mãos, lavando a roupa todos os dias, minha mãe ficou com febre em certa madrugada.

No dia seguinte, ficou o dia inteiro dentro do quarto, com medo de estar infectada com o covid-19 e acabar passando para nós, não saia para nada. As horas foram passando e ela foi se sentindo melhor e decidimos comer um lanche. Eu já estava preparada para a aula de ciências políticas com o professor Cesar Mangolin, até que meu pai começou a gritar chamando pela minha mãe, ela havia desmaiado. Foi uma sensação horrível, uma sensação que não desejo nem ao meu pior inimigo. Sai correndo do quarto e fui direto bater desesperadamente na casa da vizinha, que é enfermeira. Quando ela foi socorrer minha mãe, eu paralisei na porta, não conseguia respirar e não conseguia me mexer.

A ambulância chegou e a levou já consciente. O que ocasionou tudo isso? Estresse e preocupação. Acredito que a sanidade mental é a coisa mais difícil de se manter em dias como este. Minha mãe não estava doente, mas a  preocupação de passar para nós, de meu pai contrair no trabalho e trazer para casa, e a pressão das contas que não param de chegar, eram maiores do que qualquer vírus.

Hoje estamos todos bem, nos apegamos ainda mais a Deus. Sabemos que isso tudo um dia passará, e que em breve viajaremos e abraçaremos nossos amigos e familiares novamente.