por Vitor Fagundes
Acredito que a parte mais difícil do isolamento social é ficar sozinho com os próprios pensamentos. Por mais que eu tenha pessoas na minha casa (meus pais e irmão), em algum momento, me pego vagando sozinho nos pensamentos e ‘bum’, crise. Crise por estar sozinho, por não saber o que vai de fato acontecer, medo ao descobrir o que vai acontecer, pensando nas pessoas que não têm o mesmo privilégio que eu, de conseguir ficar em casa, e a clássica crise de estar feliz por conseguir ficar em casa e triste por ter que ficar em casa, ou seja, um caos.
Descobri, nesse período de recolhimento, que pessoas precisam sim das outras pessoas. Eu sempre me imaginei sozinho, sem filhos, sem muitos amigos, um ou dois já está bom. A família, sendo meus pais e irmão, nossa, já é o suficiente, pensava eu. Enganei-me. Estou sentindo uma falta muito grande da bagunça dos meus dias, da correria que é, a quantidade de pessoas boas que eu tenho ao meu redor.
Sempre me dei bem com os meus pais, acredito que pelo fato de só ter em média duas horas por dia em casa com eles. Meu pai eu só vejo aos domingos, pois é a nossa folga. Minha mãe trabalha em home office desde que me entendo por gente, mas tem os seus horários e prazos para entregas de trabalhos, então não sobra muito tempo livre. Em meio a isso tudo, a empresa que ela trabalha decretou falência, e o meu pai, dois dias depois, chegou ao fim do seu contrato de trabalho que, infelizmente, não foi renovado.
Ficamos, de certa forma, tranquilos, pois ao menos estamos seguros em casa, mas não podemos fingir que está tudo bem o tempo todo. Meus pais estão começando a diminuir as despesas, porém, sem demonstrar ao meu irmão que uma crise está chegando, isso deixa meu coração quentinho e me faz gostar ainda mais deles – por terem essa mesma preocupação comigo, mesmo depois de adulto. Espero que fique tudo bem no final.
Na verdade eu sei que vai ficar.
Vou tentar procurar e tirar coisas boas nessa fase. Acho que isso é o melhor que todos nós podemos fazer.