Isolamento social

por Bruna Valle (texto) / AES

Recebi a notícia do isolamento social com certa angústia. É engraçado pensar nisso porque não trabalho e só saio de casa à noite para ir para a faculdade, mas ser privada de algo é desesperador. Pois antes, por mais que eu ficasse em casa a maior parte do tempo, poderia sair a qualquer momento.

Além do mais, desde que minha madrasta faleceu, minha mãe tem sido a única fonte de renda aqui em casa. Há uma linha tênue entre ficar feliz por, finalmente, passar um tempo com ela e estar aflita porque sem trabalho não há dinheiro – levando em consideração que minha mãe é autônoma. Sei também que ela usava o trabalho para se manter ocupada e os pensamentos distantes. O reflexo disso é visível quando a vejo a maior parte do dia deitada no sofá, alternando entre dormir e assistir televisão. O sentimento de impotência é sufocante.

Tento manter a rotina, mas tenho a sensação de que as horas não passam. Arrumo a casa, cuido dos animais, faço comida e as atividades da faculdade, leio algum livro – aliás, nunca li tanto na vida, assisto a séries e quando percebo ainda são 15h. Da minha janela vejo uma multidão andando pela rua, alguns até conheço e sei que estão lá desnecessariamente.

Dói-me ver o egoísmo das pessoas em um momento tão delicado e de extrema urgência, pensando somente em si e não no coletivo. O momento é realmente angustiante, mas se todos fizerem a sua parte, logo acabará e poderemos voltar ao nosso cotidiano.