Violência doméstica aumenta 9% no isolamento social

Por Mariana Santana e Jéssica Vieira/AES

Central de Atendimento à Mulher registrou a mudança entre 17 e 25 de março, no Brasil; chefe da ONU alerta para relação com pandemia

Em tempos de Covid-19, a recomendação de diversos órgãos oficiais é que a população fique em casa para evitar a propagação do Coronavírus. Mas nem sempre isso é simples. Mulheres que sofrem violência doméstica estão sendo obrigadas a passar mais tempo com o agressor, o que pode levar à tortura física e psicológica.

Entre os dias 17 e 25 de março, foi registrado um aumento de 9% no número de ligações para a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180. Além disso, a Defensoria Pública de São Paulo alertou para o crescimento de notificações desde o início do isolamento social.

Portanto, o período que deveria ser de resguardo, pode resultar em assassinatos. Foi o que alertou o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, segundo a Agência Brasil. Na ocasião, ele ainda destacou a importância de adotar medidas para combater este problema, além do Coronavírus.

No Brasil, a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL) elaborou um Projeto de Lei com o principal objetivo de garantir segurança para as vítimas de violência doméstica e para seus filhos. A proposta é que os abrigos das cidades sejam disponibilizados gratuitamente e, em alguns casos, hotéis e pousadas. Todo o processo aconteceria de forma sigilosa, inclusive o transporte. 

Segundo Marcela Moreira, de 39 anos, professora, socióloga e presidenta do PSOL Campinas, a iniciativa é importante, pois atende a uma parcela específica da população, que precisa de visibilidade para viver. “Infelizmente, o problema da violência doméstica ainda assola o País. Para essas mulheres, estar em casa, em isolamento social, quer dizer estar correndo risco de morte”, explica. Ela ainda ressalta que o Brasil é o 5º país que mais comete feminicídio em todo o mundo, o que pede atenção.

O Projeto de Lei, que ainda não entrou em vigor, já foi aprovado por quem, um dia, sofreu esse tipo de violência. Uma empregada doméstica, de 56 anos, moradora de Santos, que não quis ter sua identidade revelada, já esteve em uma relação abusiva, em que sofria diversos tipos de agressão. Hoje, livre de seu antigo agressor e companheiro, ela reconhece a necessidade de iniciativas como essa. “Acho uma boa ideia porque, assim, as pessoas falam sobre o assunto e percebem a realidade de muitas famílias, que parecem felizes, como acontecia com a minha”.

Rede de apoio e sororidade

De acordo com a necessidade específica nesse momento de pandemia de Coronavírus, uma rede de apoio está sendo desenvolvida para mulheres vítimas de violência doméstica. Isso inclui Poder Público, empresas privadas e profissionais autônomas.

No dia 6 de abril, a Polícia Civil do Estado de São Paulo anunciou que o Boletim de Ocorrência para violência doméstica poderá ser registrado de forma remota, online, através da Delegacia Eletrônica.

Além disso, empresas como Natura e Avon iniciaram o movimento #IsoladasSimSozinhasNão, por meio das redes sociais das marcas.  As orientações como o que fazer e para quem recorrer são explicadas, de forma didática. “Deixe uma pequena mala preparada para você e seus filhos com roupas básicas, documentos, um pouco de alimento e algum dinheiro”, recomenda uma publicação.

Para aumentar ainda mais a rede de apoio, a promotora de Justiça de São Paulo, Gabriela Manssur, criou o projeto Justiceiras, que conta com 700 voluntárias, entre psicólogas, advogadas, médicas e assistentes sociais. Através do Whatsapp (11) 99639-1212, elas acolhem mulheres de qualquer lugar do Brasil.

Jéssica Vieira com Agência Brasil, Agência Câmara de Notícias, jornal Nexo, BBC News e UOL