Por Victória Fernandes e Letícia Alves/AES
O comércio santista já sentiu a queda nas vendas por causa das medidas seguidas pela população para prevenir a propagação da Covid-19, que incluem a menor circulação de pessoas em ambientes fechados. Com medo da pandemia, a queda na movimentação de consumidores deixou lojas praticamente vazias e atendentes usando máscaras para evitar a contaminação.
Em estudo recente, o Banco Mundial publicou, no dia 12 de abril, que o PIB Brasil está negativo em 5%. As projeções anteriores ao início da pandemia em retração econômica indicavam uma perca de 2,5%. Mas devido aos impactos que nossa economia acaba absorvendo em questão de importação, exportação, commodities por agronegócio e pelo fato de nosso PIB ter peso sobre negócios e serviços, os serviços são extremamente afetados.
Michael Albuquerque, de 42 anos, proprietário da mercearia Empório Vitória, localizada na Zona Noroeste de Santos, diz que o que mais tem afetado seu negócio é a falta da clientela. “As pessoas ficaram com medo de sair de suas casas e deixam de vir até nós. Na primeira semana (do isolamento) o impacto foi muito grande, mas com o passar dos dias e de acordo com a necessidade da população, aos poucos as pessoas foram tomando coragem e voltando ao comércio. Acredito que hoje estamos com cerca de 50% de lucro”, revela.
“Conscientizamos nossos funcionários sobre economizar energia, como luzes acesas e ventiladores sem necessidade. Possuímos 12 freezers e geladeiras em nosso estabelecimento, conseguimos remanejar os produtos e desligar seis deles. Além dessas medidas, infelizmente também tivemos de dispensar três funcionários”, lamenta Albuquerque.
Os serviços de vendas online, apontados como uma solução aos negócios nesses tempos de pandemia, não estão sendo suficientes para gerar os recursos necessários para honrar os compromissos mensais da empresária Juliana Moura, 36, proprietária da loja de vestuários Sintonia, no Centro de Santos. “Estamos há 22 dias com nossas portas fechadas, e nosso faturamento caiu 98%. Não podemos comprar mercadorias e tive de dispensar dois funcionários. Se esta quarentena continuar, acredito que, infelizmente, o Brasil não conseguirá se reerguer. Não temos estrutura, a taxa de desemprego será gigantesca. Mas apesar de tudo isso, temos que crer que esta situação logo passará”, desabafa a empresária.
O empresário Jean Carlos Lira, de 40 anos, dono da rede de lojas Periferia, presente há 15 anos na Baixada Santista, conta que teve de fechar suas portas, dispensar funcionários e colaboradores sem saber o que irá acontecer. “Nossos lucros foram caindo gradativamente, quando começou a pandemia tivemos cerca de 60% de queda, a partir do momento que foi determinado o fechamento do estabelecimento a quarentena afetou 100% nos lucros”, conta.
Marcelo de Abreu, 40 anos, proprietário da Distribuidora de Alimentos Panificação e Restaurante Peg Pan, em São Vicente, constatou uma redução de mais de 60% no movimento, desde que se iniciou a pandemia da Covid-19. “O isolamento social tem afetado diretamente em nosso faturamento. Conseguimos negociar o aluguel do imóvel, mas tivemos de dispensar dois funcionários”, lamenta e completa: “A redução da economia é um fato, tenho medo do caos econômico surgir em nossa região, caso esta situação continuar por muito tempo”.
De acordo com o especialista em economia e professor Luciano Simões, a cidade de Santos possui uma forte movimentação em serviços e no porto, cuja movimentação já teve uma grande queda. “Temos dados com 80% de registros em diminuições de cargas em nosso porto. Essa diminuição em cargas irá refletir em todas as empresas que trabalham diretamente e indiretamente na prestação de serviços destes setores. Os setores de shoppings, bares, restaurantes e comércios locais da baixada santista já estão sentindo quedas de mais de 80% de faturamento”, diz.
O especialista acredita ser necessário que os empresários entrem em contato com seus contadores e gerentes de banco para, juntos, entenderem qual é o contexto de sua empresa. “O empresário deve analisar e identificar negociações com seus fornecedores, clientes e ideias que nunca deixaram de existir como voucher e vaquinhas virtuais. É necessário que o setor de serviços esteja disponível para os seus clientes neste momento, estes não devem ser fechados. Identifiquem a possibilidade de gerar receita com o seu estoque. A sobrevivência das empresas garantirá um pouco do grau de desemprego que será extremamente alto nos próximos meses”, finaliza o economista.