por Vitor Fagundes e Nicole Zadorestki
Muitos estão se questionando até quando o isolamento social será necessário e, até o presente momento, não temos de fato uma resposta concreta e exata. Sabemos da sua importância no combate ao novo coronavírus. Artistas e celebridades fazem campanhas o tempo todo sobre esse assunto, mas e quando essa situação se aplica para pessoas que não têm o mesmo privilégio, quando o fato de ficar em casa se torna um problema, como por exemplo nos casos de violência doméstica contra mulheres e crianças, que já aumentaram 9% durante isolamento social?
Essa é só uma parte do problema. É inevitável falar do isolamento social e não tocar no tema da solidão. Para algumas pessoas, ter de ficar em casa em tempo integral pode ser um grande desafio. Uma pessoa pode estar socialmente isolada, mas não sentir-se sozinha, enquanto outra, com uma rede social grande, ainda pode experimentar a solidão.
Em alguns casos, a solidão está presente mesmo dentro de casa. “Nunca me dei bem com os meus pais, pensamos diferente desde sempre e isso causa bastante conflitos entre nós. Ter de ficar em casa o tempo todo é um verdadeiro desafio”, diz *José (nome fictício). Mudanças na rotina também são um fator a ser explorado dentro do isolamento social. Coisas do nosso cotidiano que foram mudadas em um período muito rápido de tempo.
“É um processo cansativo se higienizar a cada troca de ônibus para chegar ao meu trabalho, trocar máscaras o tempo todo, e quando eu volto para casa é o mesmo processo. Higienizo todos os meus pertences, o uniforme já fica do lado de fora. Assim que entro em casa já vou direto tomar banho, toda vez que tenho contato externo, no mercado perto de casa ou que preciso ir ao shopping. Mudou bastante a rotina, está mais cansativa”, reconhece Danilo Bonifácio, que trabalha na administração no Hospital Guilherme Álvaro, em Santos.
Nos dias de hoje, já se foi criada uma cultura de que, se estamos em casa, temos de ser produtivos, fazer diversos cursos online e, em casos extremos, de pessoas que estão até agradecendo o isolamento social, mas devemos lembrar que somos indivíduos diferentes e que cada pessoa tem a sua realidade no dia a dia. “O isolamento social tem sido difícil, pois agora sou obrigada, de certa forma, a ficar em casa, com os meus familiares, e o fato de ser uma mulher trans e não ter o respeito que mereço, deixa mais complicada a minha situação. Mas procurei algo de que eu goste para começar a fazer, que são as minhas maquiagens. Tenho mais tempo e com isso mais incentivo pessoal para compartilhar com as pessoas nas minhas redes sociais o meu trabalho. Isso tem me trazido um pouco de paz!”, desabafa Chris Cinelli, make up artist, drag queen e DJ.
(Os entrevistado não quiseram se identificar)