Medo se espalha tanto quanto o vírus nessa pandemia

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Fotografia: Maria Angêlica Medeiros / AES


Por Maria Angêlica Medeiros / AES

A pandemia do novo coronavirus intensifica um sentimento já conhecido pela população: o medo. Seja de ir ao mercado seja precisar ir ao médico. No dia 26 de fevereiro de 2020, foi registrado o primeiro caso do novo coronavírus no Brasil. Desde então ,já se passaram quase dois meses e a pandemia se espalhou pelo País, os estados entraram em situação de calamidade e medidas foram adotadas, entre elas o isolamento social.

O confinamento é uma forma de prevenção, mas também traz problemas conhecidos, como o medo, principalmente para aqueles que esperam o atendimento médico para outras questões de saúde. A pandemia trouxe um temor alarmante de situações que antes eram simples e seguras. Ir ao mercado é quase como se preparar para uma guerra. Além das recomendações de vestuário e higienização a OMS informa que os idosos e pessoas do grupo de risco devem evitar ao máximo o contato com o mundo exterior, sendo assim os mais jovens são escolhidos para tais tarefas.

A estudante de jornalismo Laila Aguiar, de 21 anos, mora com os avós e a mãe, todos do grupo de risco. Por esse motivo, ela proibiu os familiares de irem à rua. “Toda vez que eu saio, fico pensando, será que eu peguei? Se eu for para casa e eles pegarem? Como vai ser? Como eu vou conseguir cuidar deles? … Eu fico pensando nesse sentido, poque é muito difícil. A minha avó tem 80, o meu avô 87 e a minha mãe vai fazer 60 … eu me sinto muito preocupada em relação à saúde deles mesmo, essa é a minha preocupação durante a quarentena”, lamentou. 

No momento atual, tudo é motivo para ter medo: os hospitais deixaram de ser o local de cura, as recomendações são para que a população não vá a nenhum posto de atendimento se não for estritamente necessário. Com isso, algumas pessoas estão enfrentando enfermidades em casa, porque por mais absurdo que pareça essa é a melhor solução.

O aposentado Celso de Souza Costa, de 88 anos, tinha uma cirurgia marcada para a remoção de hérnia na virilha, mas o procedimento foi adiado. “A gente sabe que esse é o melhor jeito, mas eu fico preocupado né, a hérnia dói e incomoda e cresce também, cada dia tá maior, me preocupa muito como vai estar quando isso acabar e também tem a validade dos meus exames, vai vencer de novo”. 

Costa não é o único que se preocupa com o tratamento médico neste período, a mãe da Laila teve câncer no ano passado, porém, este ano ela descobriu que o tumor voltou como benigno, mesmo assim o exame de retirada já estava marcado. “Depois da pandemia, eu um tenho medo, acho que é o maior de todos … é fato do câncer da minha mãe ter voltado. E quando volta, ele cresce de uma forma muito mais rápida e a gente estava com tudo certo para poder fazer o exame e retirar esse tumor, mas eu tenho medo de quando tudo voltar ao normal e ela for no hospital e o tumor estiver do tamanho do outro … eu tento ficar positiva, ficar tranquila e não transparecer isso, para ela principalmente”.

Nesse tipo de situação, não resta a fazer muita coisa ao não ser manter a calma, e algumas atividades ajudam, é preciso ocupar a mente e cuidar do corpo para conseguir seguir frente. Costa procura não parar, já costurou suas camisas e está sempre tentando consertar algo dentro de casa. Laila busca opções na internet para se distrair. “Eu espero que os meus medos sejam apenas umas bolinhas que vão fazer ‘puff’ e sumir, porque eu tento ficar calma, estou até fazendo aulas de ioga online e tem ajudado”.

Laila e Costa são moradores da Baixada Santista, e sabem que a região não tem capacidade para atender as demandas corriqueiras e agora enfrenta o coronavírus. Os casos nos municípios aumentam todos os dias, por isso os hospitais estão desmarcando operações e consultas se dedicando ao combate da pandemia. O que resta a eles, e aos outros, é esperar em casa e torcer para que a situação se normalize e os atendimentos possam ser feitos de forma segura para todos.