Ensaio: Audiovisual – Mercado audiovisual vai precisar de profissionais na pós-pandemia
Por Nicole Zadorestki e José Lucas de Sena/AES
Localizado de frente para a praia do Gonzaga, com sessões de tarde e de noite, o Cine Arte Posto 4 reunia pessoas de diferentes idades, a fim de assistirem filmes nacionais e internacionais. Porém, diante da pandemia, o cenário é diferente. Agora, uma placa vermelha informa o fechamento temporário de uma das atrações culturais mais tradicionais de Santos, no litoral de São Paulo.
O cineasta Fabiano Keller, de 42 anos, já exibiu um filme de sua autoria naquele equipamento público. O documentarista caiçara produz obras audiovisuais há oito anos, fomentando a cena cultural da Baixada Santista. No entanto, desde que se fez necessário o distanciamento social, a criação tem sido remota. A iniciativa é uma maneira de não abrir mão da carreira e aperfeiçoar as técnicas, pois acredita que, quando o setor retomar as atividades, a demanda pelos profissionais será maior.
“Atualmente, estou dirigindo o longa-metragem COVID.a, que surgiu em meio à pandemia e mostra a realidade de 30 brasileiros morando em diversas partes do mundo, e como eles têm encarado esse período de quarentena em suas cidades. As entrevistas estão sendo captadas através de videochamadas, e as imagens de cobertura são realizadas pelos próprios entrevistados, com seus celulares”, conta o cineasta.
Fabiano faz parte das 5,2 milhões de pessoas que atuam no setor cultural, diretamente ou indiretamente, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, em 2018. Esse número representa 5,7% do total de ocupados do País. E claro, nessa área, o principal ingrediente é o contato entre as pessoas. O que, no momento, não há previsão de retorno, dificultando ainda mais a vida de quem trabalha no setor.
Em Santos, desde quando foi decretado o isolamento social, em 17 de março, cursos presenciais, funcionamento dos equipamentos culturais e eventos promovidos pela Secretaria de Cultura foram suspensos, seguindo o que foi determinado em decretos estaduais e municipais.
Como forma de prestar apoio à esta classe, a Prefeitura de Santos lançou, no final de maio, o projeto Hora da Cultura Digital. A iniciativa vai permitir que os artistas exibam apresentações artísticas e culturais, além de produções audiovisuais, nos canais eletrônicos da prefeitura. Os artistas que tiverem suas propostas selecionadas receberão R$ 650,00.
“O edital é uma importante ferramenta para reaproximar o grande público dos artistas da Cidade, além de gerar renda para eles”, afirma o secretário de Cultura de Santos, Rafael Leal.
Ainda sobre as iniciativas, a Secult está centralizando o cadastro único de artistas e técnicos da área, juntamente com o Concult (Conselho Municipal de Cultura), o Movimento SOS Graxa e outros movimentos.
“A meta é firmar parcerias com a iniciativa privada, para que possam ser distribuídas cestas básicas aos profissionais do setor cultural, que no momento estão desimpedidos de exercer suas atividades profissionais”, complementa o secretário.
Infelizmente, boa parte das produções audiovisuais não retornaram no Brasil. Mas ao redor do mundo, começa a caminhar. Este é o caso da Netflix, que voltou a gravar séries autorais. A plataforma está adotando diferentes métodos de controle sanitário, entre eles manter o elenco e equipe numa quarentena durante o período de produção.
Já no Brasil, a pausa abrupta das gravações pode gerar uma grande procura por profissionais na pós-pandemia. “O audiovisual já vive mudanças, por exemplo, com a enorme quantidade de lives que vêm sendo realizadas por artistas. No mais, acredito que muitas produções que no momento estão paradas, vão acontecer simultaneamente ao haver a reabertura do mercado. Isso, com certeza, vai gerar uma procura por profissionais qualificados”, explica o documentarista caiçara.
Para o secretário de Cultura de Santos, município que tem o selo de Cidade Criativa pela Unesco, o mercado vai ser um dos últimos a retornar às atividades. “É fato que seremos um dos últimos a voltar ao normal, até porque o ingrediente base do nosso segmento é o encontro de pessoas. Acredito que dotado das informações de tudo que está sendo feito dentro e fora do país na área de eventos, seremos mais uma vez vanguarda, e, assim que possível, retornaremos às atividades culturais. Todos os nossos espaços culturais estão passando por manutenção, justamente para receber esta demanda”, diz.