Ensaio: Gerações
por Maria Angélica (texto) e Vítor Fagundes (imagens) / AES
Casais estão aprendendo uma nova dinâmica em tempos de pandemia e isolamento social, mas como a mudança vai alterar esses relacionamentos? O contado físico sempre fez parte da rotina das pessoas, troca de abraços, beijos e apertos de mão são impulsos quase que automáticos. O toque, em muitas culturas, é uma demonstração de carinho e amor, mas esse costume mudou da noite para o dia, e o que antes era inofensivo se tornou um perigo mortal. A ameaça do Novo Coronavírus trouxe uma série de restrições que vão transformar a vida de todos.
É provável que o mundo pós COVID-19 seja bem diferente do que estamos habituados, principalmente na forma que nos relacionamos com os outros. Amigos, familiares e casais de todos os tipos estão se adaptando, essa ruptura na nossa rotina vai trazer efeitos que ainda não temos como controlar ou até mesmo prever.
A estudante de Jornalismo Laila Aguiar, de 21 anos, está sentindo isso na pele. Há quatro anos ela namora o estudante de Engenharia Química Lucas Santos, de também 21 anos, os dois sempre tiveram uma rotina muito unida, pois estudam na mesma instituição. Lucas estava acostumado a buscar a namorada no trabalho e juntos seguirem para faculdade, o mesmo acontecia no retorno para casa, além de se encontrarem nos finais de semanas.
“A pandemia é uma coisa muito complicada na nossa cabeça, eu acho que influenciou a forma que a gente se relaciona. No meu caso o que mais complica é que se a gente se via todo dia, e agora quando a gente se vê não pode ficar muito perto, nem tocar muito. Talvez pra ele seja pior, porque ele é mais grudado”, afirma Laila.
Esse período difícil testa os laços e projeta novos objetivos. Para Laila, a volta da rotina também vai causar certo estranhamento. “O que eu acho que vai mudar é que a gente vai ter de voltar a se entender pessoalmente, porque a distância têm o lado ruim, mas também tem o lado bom, a gente briga muito menos e quando briga se resolve muito mais fácil.”
Os casais que estão passando pelo isolamento social juntos também percebem uma mudança no relacionamento, além de enfrentar situações nunca vistas. Afinal, passar 24 horas junto pode ser extremamente desafiador, até para aqueles que são apaixonados. É o caso de José Aparecido e de Rose Gimenes, casados há 27 anos. O casal se conheceu na infância, mas só foram namorar na adolescência, e entre algumas idas e vindas, na fase adulta decidiram se casar, mesmo dividindo uma vida inteira juntos é nesse momento que eles estão se reconectando. “Estamos juntos praticamente a vida toda, mas não de uma forma tão intensa como esta, eu particularmente estou gostando bastante, sentia falta de ficar esse tempo em casa, já que sempre trabalhei fora”, comenta José.
Para a esposa, Rose, a sensação de segurança por ter o marido todos em casa é maior que qualquer estresse: “Eu sempre gostei de ter todo mundo em casa, agora tenho todos aqui comigo. Acredito que seria um problema se eles tivessem de sair de casa, não iria aguentar de preocupação, mas nem tudo são flores, temos que ter mais paciência com todos, está todo mundo bem tenso com o que está acontecendo lá fora, e às vezes isso pode atrapalhar um pouco, mas fora isso é muito bom ter todos em casa comigo.”
Juntos ou separados, o que vale é aprender a se relacionar com quem amamos nos mais diversos cenários. A distância traz muita saudade, mas também é com ela que aprendemos a valorizar os momentos, e a união é poder manter a esperança nas horas ruins. Os impactos da COVID-19 ainda estão sendo estudados, é provável que mesmo quando o vírus for contido ainda serão necessários alguns cuidados, além de certo receio da população, afinal sobreviver à pandemia de uma doença altamente contagiosa pode deixar marcas no subconsciente, por isso é importante manter as relações de afeto em segurança.