Consumo de álcool aumenta durante a pandemia

por Amanda Aguiar Canton e Alceli Maria Silva

 

O isolamento social tem sido um aliado eficaz no combate à disseminação do novo coronavírus (Covid-19). Com essa mudança na rotina, muitos estão sobrecarregados com trabalhos, aulas, serviços, filhos. Sem locais para sair ou se divertir, a grande salvação para alguns tem sido encontrar meios diferentes de passar o tempo.

Com o confinamento, a falta de contato e afazeres sociais tem provocado ansiedade e depressão em diversas pessoas. Como uma forma de aliviar a tensão emocional, muitos estão recorrendo ao uso de bebidas alcoólicas. Pesquisa realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revela que durante o isolamento social o índice de consumo de substâncias licitas tem aumentado, dados mostram que o crescimento se deu principalmente nas faixas etárias de 18 a 29 anos, em 19,1%, e de 30 a 39 anos, em 25,6%.

Para o bailarino Michael Nicandio, de 19 anos, o único entretenimento durante esse período tem sido assistir a lives e beber. Antes da pandemia, bebia, em média, uma vez por mês, quando saía para alguma festa. Hoje, passou a consumir cerveja, vodca e caipirinha todo fim de semana. 

Ele pretende diminuir o consumo quando o isolamento acabar, mas por enquanto isso é uma válvula de escape de suas aflições “É um misto de sentimentos, ora estou bem e aí do nada fico mal, tenho saudades, raiva, e por aí vai. Já inclusive baixei um aplicativo de meditação pra ver se acalmo um pouco”, diz Michael.

Usufruindo de bebidas quase todos os fins de semana, as amigas Luciane Dias, 41 anos, e Marcela Cavalcante fizeram da cerveja e do vinho uma constante em suas vidas. O tédio e a ansiedade de ficarem presas em casa fizeram com que o consumo de álcool aumentasse, mas, para elas, esse hábito não será mantido após a quarentena.

A psicóloga Raphaela Vidal da Rocha explica que o aumento do índice de drogas ilícitas e lícitas, quando alguém está passando por um problema pessoal como depressão e ansiedade, se dá pelo fato de que muitas pessoas não sabem lidar com suas emoções, e acabam recorrendo a métodos que amenizam seus temores.

“As pessoas acabam recorrendo a esse tipo de costume, muitas vezes para poder satisfazer a uma necessidade momentânea de evitar um contato com algo que lhe cause dor e sofrimento. Isso pode ser a comida, um jogo ou qualquer outro comportamento compulsivo (pensando na pessoa que faz um uso disso de forma compulsiva). Está relacionado a não saber lidar com sua tristeza e emoções, então recorre a algo que entorpece seus sentidos”, diz Raphaela.

Consumos no pós-pandemia

O consumo de bebidas alcooólicas em excesso e de forma repetida pode vir a se tornar um problema, o atual estado pandêmico acaba sendo um potencializador de efeitos negativos, que em excesso vira um problema futuro. A psicóloga afirma que é importante saber diferenciar quando a bebida está servindo a apenas um momento recreativo e quando se torna uma dependência.

“O limite seguro é aquele, dentro da minha visão, que não te traz nenhum tipo de ônus, é quando faz o uso de forma recreativa e responsável, respeitando o que a lei determina. É necessário respeitar os limites para não atrair prejuízos. É importante perceber se você está bebendo por conta das frustações ou se você está fazendo isso para relaxar e apreciar. Se a pessoa está bebendo por conta da frustação ou tristeza isso acaba não sendo muito saudável”, afirma.

A mesma ressalta que é importante que as pessoas tenham diversas atividades prazerosas para que elas possam recorrer a uma única opção. Se a pessoa fica só dependente da bebida como atividade principal, a probabilidade de ela se transformar em alcoólatra depois de algum tempo é muito maior do que a de uma pessoa que é mais flexível e aberta, que dispõe de diversos recursos, não só nas suas relações, mas na sua análise pessoal, para poder ter satisfação e prazer na sua vida.