por Luana Monteiro e Vanessa Lima/AES
As relações sociais sofrem alterações constantes, principalmente após experiências traumáticas, tais como grandes abalos naturais e guerras. Nessas ocasiões, os sentimentos se acentuam, as pessoas se empatizam e, no caso da pandemia na qual estamos inseridos, é diícil prever como a sociedade reagirá à nova realidade que se impõe, mas podemos tentar algumas reflexões.
A sensação de que estamos sob ameaça de um vírus mortal é algo novo na sociedade brasileira, que, historicamente, é tão desigual e heterogênea. A violência e a pobreza são questões que não permeiam todas as rodas sociais. Porém, o contágio pela Covid-19 não escolhe status e, nesse contexto, as relações de afeto se modificaram concretamente.
O funcionamento social está abalado: o que era tido como normal já não é mais possível e a questão é se algum dia voltaremos a viver como antes. Como cita o psicanalista e pesquisador Paulo Amarante, “é preciso começar a digerir essa ideia como uma nova realidade. O ser humano procura uma outra forma de viver”.
As pessoas terão de se importar mais com as outras e todos os outros seres vivos do planeta, tais como vírus, bactérias toda a fauna e a flora, ensinamentos estes que tão cedo aprendemos na escola, mas que teimamos em que colocar em segundo plano.
No caso dos laços de afeto, estes precisarão cada vez mais de ferramentas digitais para se realizarem. Mais do que nunca, nesses tempos de coronavírus, a A tecnologia passou a ser importantíssima para a aproximação. A virtualidade promove reuniões de amigos, festas de aniversário, trabalho e reuniões de famílias.
Se o contato físico e a aproximação social estão ameaçadas no mundo pós-pandemia, as pessoas terão de se acostumar a se relacionar com seus familiares e amigos de outra forma. Talvez isso provoque um sentimento nostálgico por maior valorização do estar junto, do ver-se, falar-se, tocar-se. Talvez as pessoas incorporem de verdade a importância da distribuição do seu tempo, a qualidade de suas relações, e em como verbalizar mais os sentimentos, seja com bilhetes, cartas, desenhos, falas, músicas. Formas do afeto chegar ao outro ser, sem o toque, sem a aproximação de pele.
“Com certeza as relações de afeto vêm sofrendo transformações, estamos descobrindo novas formas de expressar os afetos, o carinho, a saudade e a empatia com o sofrimento do outro. Acontece tanto na vida pessoal como na vida profissional que com meu trabalho terapêutico envolvo esses afetos com os pacientes, mostrando uma forma diferente,” cita a psicóloga Rosana Guarnieri.
Portanto as relações de afeto trarão um novo olhar para essa nova realidade, mostrando que após a Covid-19, serão mais calorosos, mesmo que à distância.