Precisamos aprender a praticar a solitude

Ensaio: Saudade

por Joana Oliveira (texto) e Evelyn Marinho (imagens) / AES

Com a correria do dia a dia, muitos de nós esquecemos o quanto o afeto é importante em nossas vidas, tanto com o próximo quanto com nosso interior. Mas o isolamento social nos leva a refletir a maneira com que nos relacionamos com os demais e conosco.

Nesse momento, as pessoas introvertidas tendem a ficar ainda mais afastadas, por isso, é aconselhável e até mesmo necessário manter contato com amigos e familiares e cuidar de si. Já as extrovertidas sentem mais falta do contato e sofrem mais com a solidão. 

Hoje, a internet possibilita a conexão com pessoas mesmo distantes e em tempo real, podemos, de certa maneira, estarmos “perto” de quem amamos e amenizar um pouco a saudade. Para a professora do Instituto de Psiquiatria Maria Tavares Cavalcanti no site UFRJ, fazer ligações e vídeo-chamadas, além de terapia virtual, minimiza a sensação de solidão. 

A publicitária Bruna Oliveira Santos, de 24 anos, reside em São Paulo desde setembro de 2019. Mudou-se de Bertioga em busca de novas oportunidades. Mesmo fazendo trabalho remoto devido à pandemia, optou por continuar em São Paulo para proteger sua família e evitar colocar vidas em risco.

Para aplacar a saudade, Bruna recorre à internet. “Falo com a minha mãe todos os dias, fazemos chamadas de vídeo também”, declara. “Tem sido muito difícil ficar longe e principalmente não saber quando vou poder vê-los”, completa. A publicitária costumava visitar sua família pelo menos uma vez por mês, mas por conta da pandemia da Covid-19, está distante deles há três meses. Os dois amigos que moram com ela também estão longe de seus familiares. 

Bruna conta como tem sido lidar com a solidão: “Minha ansiedade aumentou, me sinto mais cansada mesmo fazendo home office e não tendo que pegar metrô.”

Maria Tavares, no site da UFRJ, dá mais dicas para manter a saúde mental: “É importante manter uma rotina de exercícios, alimentação saudável, estudo e/ou trabalho, além de lazer. Exercícios de relaxamento como meditação e respiração também ajudam e podem ser encontrados facilmente na internet”.

É hora de ressignificar nossa afetividade e nossos sentimentos. Aproveitar para se conhecer, descobrir coisas novas sobre você, curtir a própria companhia, como se confortar, proporcionar afeto, praticar o amor próprio… Aprender a praticar a solitude. 

O contato não é a única maneira de demonstrar afeto. É também o cuidado, a preocupação e a empatia, ajudar ao próximo, seja fazendo compras para o seu vizinho idoso ou algum favor para os que estão no grupo de risco. O uso da máscara tem sido sem dúvida a ressignificação do afeto.

“Estamos passando todos por inúmeras experiências que estão nos transformando tanto como indivíduos como sociedade,” disse Monja Coen, para Uol. “Seremos novas pessoas”.

A esperança é a de que seremos pessoas mais afetuosas, esse momento tem nos colocado em novas situações e nos dado algumas lições. Como valorizar mais as pessoas, os momentos, demonstrar mais, dar mais atenção às nossas crianças, pais, avós… Passar mais tempo juntos, sentir um longo abraço, lembrar que a vida também é feita de bons momentos e não somente de obrigações. Após a pandemia, talvez pensaremos mais nessas questões e na nossa saúde física e mental, também saberemos com mais propriedade como encontrar prazer na nossa própria companhia. Quem sabe sejamos também menos egoístas e mais empáticos.