Por Letícia Alves/AES
Em tempos de redes sociais, as pautas relacionadas à saúde mental estão cada vez mais evidentes. É urgente a necessidade de repensarmos como lidamos com o assunto, principalmente no Brasil, que ocupa o primeiro lugar no triste ranking de países da América Latina com maior taxa de depressão e ansiedade. No País, a cada 46 minutos um jovem entre 15 e 29 anos comete suicídio.
Segundo a empresa de treinamento CMOV, 80% dos universitários brasileiros não sabem qual carreira seguir. Além desta decisão emblemática, existem também outros fatores que acabam interferindo na saúde mental da juventude. “A fase da adolescência já é por si um período estressante para os indivíduos: mudanças corporais, descoberta da sexualidade, comparações com colegas da escola, início de relacionamentos, novas perspectivas etc.”, apontam as irmãs gêmeas Júlia e Patrícia Fernandes, psicóloga e terapeuta ocupacional, respectivamente, em entrevista à revista Capricho.
“Muitas transformações externas e internas ocorrem nessa fase, inclusive o aumento das responsabilidades. Por conta de tamanha demanda que surge, muitos acabam se sentindo sobrecarregados e não sabem como lidar com a pressão externa [pais, escola e sociedade] e interna [estresse, ansiedade e depressão]. Por isso, o apoio, acolhimento e validação dos pais e/ou responsáveis é de extrema importância na adolescência. Em famílias em que há diálogo, carinho e confiança, essa fase pode se tornar mais leve e não se transformar em casos de depressão e crises de ansiedade”, apontam as profissionais da saúde.
Helena (nome fictício) é uma das jovens que enfrentou depressão, síndrome do pânico e ansiedade durante a transição da adolescência para a vida adulta. Após perder a avó paterna e sofrer um assalto à mão armada, a jovem recebeu o diagnóstico. Atualmente, aos 21 anos, a universitária contou um pouco sobre como foi o processo de tratamento: “Difícil, muito difícil. Primeiro porque eu não aceitava estar doente, segundo porque é algo que não se resolve do dia para noite, mas sim de maneira gradativa. De pouquinho em pouquinho. Havia dias que eu estava muito bem, outros em que tinha crise. Então dá pra entender um pouquinho de como ficou tudo confuso, né?”.
Além disso, Helena também comentou sobre a importância dos pais nesta fase tão delicada: “Na verdade, quem decidiu [procurar atendimento psicológico] foram meus pais ao verem o quanto eu estava sofrendo. Fomos ao médico após cerca de dois meses de crises de pânico, angústia e ansiedade, quando comecei a tomar remédios que amenizassem a dor. E o tratamento com o psicólogo começou logo em seguida. Minha família me apoiou e se mostrou presente em todo o processo, o que facilitou muito”.
Ficou claro: é crucial a presença e o apoio dos pais ou responsáveis durante a adolescência. Por ser um período repleto de pressão (sobretudo em relação ao futuro), é fundamental que haja compreensão. Além disso, é também necessário que informações de qualidade cheguem à sociedade, para que todos possam contribuir positivamente. Mais do que nunca, é preciso facilitar o acesso ao atendimento psicológico, para que a população possa contar com consultas de qualidade. E, claro, boas doses de afeto são importantíssimas não só durante o Setembro Amarelo. Que possamos exercer um olhar humanizado para o próximo ao longo dos 365 dias de cada ano.