Três conceitos para um consumismo

Por Samuel Fernandes/AES

“Mais um episódio”, “mais um story”, “mais uma blusa”, “mais uma planilha”. O consumismo não é mais uma característica de pessoas extravagantes, membros do seleto grupo apelidado de “gente rica”. Hoje já é um estilo de vida e fator motivador de muitos dos hábitos sociais seguidos, pois são muitas as “verdades” que contamos a nós mesmos, a fim de justificar ações hedônicas.

Em um mundo que se torna cada dia mais conectado, é inevitável que os traçados modernos tragam consigo diferentes conceitos e percepções de normalidade para a sociedade, pintando alguns dos hábitos de consumo que retratam a cara da geração conectada (spoiler: são todos em inglês). Começando pela febre das séries que atingiu seu ápice nos últimos anos com o surgimento da Netflix e o impacto que a ascensão desta causou no mercado do entretenimento. O streaming está sendo para a televisão, talvez pela primeira vez, um adversário à altura e que a põe de frente para o velho ditado de que tal tecnologia “vai acabar com a TV”.

Os serviços de streaming de séries e filmes criaram o hábito de “maratonar” séries, isto é, assistir a muitos episódios em sequência e sem pausa. Para isso, foi inventado o termo Bing-watching, que se originou do termo em inglês binge, utilizado para traduzir ações excessivas e para designar pessoas que passam horas frente a telas, consumindo conteúdo. A vontade de assistir a tudo e estar sabendo de todas informações da maneira mais rápida e prática possível que os serviços virtuais criaram no consciente do consumidor, sustentam a comparação e a necessidade de fazer parte de algo, o que alimenta o consumismo e o que cunhou o termo F.O.M.O., sigla para Fear of Missing Out, que é o medo de estar perdendo algo, de estar por fora das tendências, pois: “eu preciso me desfazer de meus óculos de sol e comprar o modelo que a blogueirinha usa”; “eu preciso comprar o relógio inteligente que todo mundo tem, já que meu relógio comum não é mais suficiente”; “eu preciso trocar meu iPhone 10 pelo iPhone 11, porque não posso ter um celular velho”.

O consumismo permeia o âmbito das falsas necessidades, o que também evoca o próximo conceito. O movimento dos Sneakerheads, que, como o próprio termo sugere, são pessoas que “têm tênis em sua cabeça”, ou seja, adeptos de marcas e admiradores de modelos de tênis. Eu mesmo posso me considerar um fã de marcas de tênis, porém, os sneakerheads não se limitam apenas ao vislumbre, como eu faço, eles também consomem e muito. Compram diversos e diversos modelos de tênis para colocar em estantes, muitas vezes os mantendo nas caixas, para fins de coleção e, também, claro, de ostentação. O economista Victor Lebow, na década de 1950, defendia que “a nossa enorme economia produtiva exige que façamos do consumo nossa forma de vida” e eu acredito que essa ideia, apesar de antiga, se torna cada vez mais atual.