Uma tela em branco

Por Luanna Gomes/AES

Quando aprendi sobre os grandes filósofos na faculdade, um deles me chamou atenção. Ele dizia que “o ser humano é  uma folha em branco”, e que tudo o que vivia, experimentava, sentia, o transformava em quem ele seria no futuro. Ouvir essa frase me permitiu refletir sobre minha vida e de todos que me cercam. Porém, mais do que isso, me levou a pensar no mundo que vivemos hoje e como ele influenciará em quem seremos amanhã.
 
Está certo que todas as gerações falam e falarão aquelas famosas frases:  “na minha época não era assim”, “o meu tempo era melhor”. Então, terei que seguir o clichê pra dizer que tenho medo do futuro. Crianças já nascem com o super poder de saber mexer no celular enquanto, às vezes até eu que pude crescer com o acesso à internet, mesmo que mais restrito, tenho dificuldade em certas coisas. Nós, já tão maduros, incluímos os celulares em nossa rotina bem mais do que seria o necessário, e a dependência já é tão comum que ninguém mais fala dela.
 
Hoje, me sinto consumindo informações que eu não queria, me influenciando por pessoas que não considero tão incríveis assim, querendo ter o que é muito distante da minha realidade, me frustrando por não ser como todos são, me obrigando a gostar do que eu jamais gostaria se não fosse a famosa repetição nas redes sociais que eu já entro de forma automática. Parece que o mundo hoje está dentro de um aparelho móvel, que nos mostra imagens frias, sem cheiro, sem gosto, com pessoas falsamente perfeitas, e que mesmo assim nos cega para tudo que nos cerca.
 
Algo com valor é diferente de algo que tem preço. Pra mim, um tempo de qualidade comigo, é um tempo de valor. Pra mim, um almoço com minha vó é um tempo de valor. Ir a uma praia mais reservada com meu namorado é um tempo de valor. Horas mexendo no celular, não é um tempo de valor, e adivinha quais das opções anteriores eu mais faço no meu dia-a-dia?! Exatamente, perco tempo com o que sei que não me traz valor nenhum, e sei que muitos se identificam com isso. Meu medo do futuro é por não saber como meus filhos vão lidar com isso, como meus netos vão sobreviver nesse mundo tão tóxico. Sinto-me contaminada com esse looping sem fim, e quase que sem saída.
 
Hoje sei que os grandes filósofos teriam que se atualizar pra dizer que somos uma “tela em branco”, e não mais uma folha, afinal, seria algo muito ultrapassado. E eles teriam um grande desafio em dizer se hoje em dia, o que mais nos influencia é realmente nosso meio e nossa experiência de vida, ou se tudo aquilo que consumimos, direta ou indiretamente, querendo ou não querendo. Nessa tela em branco, temos que ter cuidado, lembrar do que temos quando ela bloqueia, que é a vida de verdade. Não podemos impedir que a tecnologia e tudo que vem dela evolua, mas devemos lembrar todo dia quem é o dono de quem.