Por Jaqueline Nunes/AES
O movimento dos 20 centavos, o impeachment de Dilma Rouseff, a eleição de Jair Bolsonaro. Foram estes fatos sequenciais, ocorridos nos anos 10 do século 21, somados aos avanços tecnológicos, que aproximaram a população brasileira – sobretudo os mais jovens – das discussões sobre política. Nos tempos atuais, o debate permanece em ascensão, seja no consumo de conteúdo online ou nas rodas de conversa. Uma pesquisa realizada em setembro deste ano, pela Agência Experimental Esamc Santos, com 93 pessoas e 81,8% dos respondentes entre 16 e 35 anos, mostra que 77% consomem notícias sobre o assunto, a grande maioria pela internet (85,3%). Apesar do ponto positivo da política estar presente no cotidiano de boa parte da população jovem e do fácil acesso à informação, ainda há muita incompreensão quanto ao que é política.
A estudante Cíntia Amorim, de 15 anos, afirma não ter o costume de conversar sobre política porque não entende e se sente incapaz de opinar, além de não acreditar no sistema político brasileiro e, por isso, não ter interesse. “Está todo mundo por uma vontade própria de ganhar dinheiro e eu acho que todo mundo é corrupto, ninguém está sendo certo”, conclui.
Para César Mangolin, sociólogo e doutor em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor da ESAMC Santos, os jovens foram protagonistas nos movimentos políticos brasileiros do século 20, no governo de Getúlio Vargas (1930-1945) e no Governo Militar (1964-1985), mas hoje eles expressam suas opiniões sem abranger o coletivo.
O irmão de Cíntia, Leonardo, de 22 anos, acredita que o debate atual é raso e confuso: “Nunca vejo um acordo entre ambas as partes. Não dá para andar pra frente, é só esquerda e direita”. Mangolin explica que “nós não temos uma evolução da relação do povo brasileiro com a política” e ressalta que as pessoas não possuem condições de fazer uma análise correta do cenário por falta de formação adequada.
Outro ponto importante é o impacto que o assunto causa na relação familiar. Ainda de acordo com a pesquisa de setembro, 55,9% dos entrevistados afirmam que os parentes são envolvidos com conteúdo sobre política e 60,5% acreditam influenciar os mais jovens. Embora não seja a maioria, os dados ainda destacam que 41,9% – quase metade dos respondentes – já romperam laços por causa de brigas sobre preferências políticas divergentes.
Leonardo conta que nunca toma a iniciativa de falar sobre política em casa: “Eu sinto que esse assunto gera muita discussão e eu prefiro não me preocupar com isso”, mas afirma que apesar de poucos jovens da sua idade falarem sobre o assunto, acredita que “o jovem precisa entrar para a política para buscar trazer ideias diferentes do usual, com mais criatividade, mesmo que, como o Chorão dizia, o jovem no Brasil não seja levado a sério, precisamos tentar”, finaliza.
Segundo dados do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) divulgados em junho deste ano, os eleitores jovens na faixa etária de 16 a 24 anos representam 13,28% do total de eleitores no Brasil. Desses, apenas 1,86% – 302.501 pessoas – são filiados a partidos políticos.