Músico de Santos é referência em R&B

por Ellen Reginato e Mariana Miranda

A junção dos estilos Rhythm and blues (R&B) e Soul em uma única música está crescendo cada vez mais, não somente no Brasil, mas no mundo todo, recebendo o título de R&B contemporâneo. Trata-se de um ritmo mais calmo e leve, mas muito envolvente. Isso porque conta com a presença de algumas batidas específicas que dão mais originalidade à composição.

Introduzido na década de 1980, os arranjos desse som geralmente são carregados de referências de discos de hip hop, soul e funk. Dois exemplos muito importantes da música são os artistas Michael Jackson e Whitney Houston, que conseguiram transformar o R&B em música Pop. Logo, o estilo musical é muito importante por unir grandes ritmos e artistas, sendo totalmente voltado para a diversidade. 

Em Santos, litoral paulista, o R&B tem conquistado a atenção de muitos jovens, especialmente com a influência de Pedro Soares. O cantor de 20 anos tem se empenhado em levantar a bandeira do estilo para a Baixada Santista, trazer referências do passado para o presente, e influenciar positivamente os jovens a consumirem o R&B contemporâneo. Confira abaixo a entrevista:

Como foi sua ligação com a música e desde quando você canta?

Eu imagino que muita gente tenha uma ligação com a música, questão de sentimentos ou questão só de ouvir. Mas eu tive meu contato de forma natural como qualquer outra criança, só que eu já sentia prazer em reproduzir tudo o que eu já ouvia, cantando. Então eu pedi a meu avô para me dar um violão para eu aprender a tocar, e com uma semana tentando eu desisti porque era muito difícil. Com nove anos de idade, eu tentei novamente voltar a tocar, pesquisando na internet, aprendendo outros instrumentos. Comecei a tocar na igreja, e ali tive uma percepção diferente sobre a música, pois precisávamos tocar com um pouco mais de excelência.

Houve alguma influência por parte da família?

Meu irmão. Apesar de ele não cantar tão bem assim, ele canta afinado. E sabe tocar vários instrumentos também. A gente sempre se reúne e faz um som bem legal, então considero ele minha maior influência. Quando éramos crianças, ele sempre me desafiava, e se eu não conseguia fazer algo na música era porque eu era muito fraco. E aí eu tentei tocar uma música do Djavan, não consegui, mas diferente de quando eu era mais novo, eu decidi me empenhar mais. A partir desse momento, com a referência da banda, eu passei a enxergar a música de uma outra forma. Eu nunca tive um professor de música, então as músicas do Djavan me ensinaram a entender o que eu estava tocando e cantando.

Como foi a decisão de seguir na carreira musical?

Foi muita coisa ao mesmo tempo, eu lembro que quando eu estava com 16 anos eu estava obcecado pela música em si, e meus amigos, não que eles me zoavam, sabe? Mas enquanto eles estavam comprando celulares novos e roupas, eu ia para a escola bem básica e buscava investir na música, pensando nela o tempo todo. Só que eu acabei ficando bem desanimado a trabalhar com música, principalmente por muitos músicos não terem tanta visibilidade no mercado, então eu acabei não tendo tanta expectativa. Só que houve um momento em que a minha obsessão me despertou a vontade de pelo menos ganhar um cachê. Meu primeiro dinheiro com as performances foi quando eu toquei em uma balada para um artista, e na época eu devia ter lucrado 60 reais, foi quando eu percebi que poderia ganhar dinheiro com o que eu gosto de fazer, já que na época eu só trabalhava cuidando de cachorros.

Como você descobriu que R&B e Soul eram realmente o que você queria cantar?

O R&B contemporâneo, que é quando ele se une com o Rap, por exemplo. Vira um pouco mais R do que B, fica mais comercial. E no final de 2018, eu conheci um artista daqui de Santos, que estava fazendo R&B, na época, ele foi para o pagode, e eu pensei: “Cara, como que ele faz uma parada que não tem aqui no Brasil? Ele é tipo um Tim Maia, que está importando dos Estados Unidos o R&B, só que cantando em português”. Então eu fui estudar a fundo sobre o ritmo musical e acabei vestindo a camisa. Me absorvi dessa estética e mostrei para as pessoas que não sou mais o Pedro que toca aquelas músicas Djavânicas, mas que também a minha principal característica é a música negra americana. Foi a partir desse pensamento que eu decidi me aprofundar e tem dado certo, tenho tido bons frutos.

O que te fez se apaixonar por esses estilos?

Eu até brinco e falo que assim, 90% das pessoas falam de R&B, escutam R&B, mas elas não sabem do que se trata. Todo mundo já ouviu o R&B na vida, mas ninguém associa com a palavra, e eu justamente vi essa brecha para levantar essa bandeira. Às vezes, levantar um movimento que ainda está engatinhando, por mais que já haja artistas produzindo esse tipo de música, ainda é um processo bem vagaroso. Mas eu vi uma oportunidade, pois como o R&B hoje é muito comercial, as pessoas ouvem bastante, é um bom caminho para obter reconhecimento. 

Como você descreve a repercussão crescente dos dois ritmos nos últimos anos em Santos? 

Desde que o primeiro cantor de R&B lançou a primeira música para cá, já melhorou muito. Óbvio que é muito devagar, mas está acontecendo há um tempo, e principalmente com a chegada da internet isso está ocorrendo com mais facilidade. Eu até penso que nós artistas que estamos no gênero, precisamos de mais de união. A gente fala sobre isso, mas não se une de fato. E mesmo que haja essa desunião, eu sou do time que pensa que se está desunido, está começando, seria pior se eu não fizesse nada pelo movimento. Eu enxergo que até o meu próprio trabalho e de outros artistas que eu fui conhecendo ao longo dessa minha carreira, tem me ajudado. Fiz bons contatos e isso para mim é um novo passo, porque eu nem sabia que tinha outro artista que cantava R&B aqui em Santos. Percebo que isso está melhorando e o termo está ficando conhecido, principalmente no meu ciclo de amizades ou por pessoas que me seguem porque gostam da minha música, eu fiz questão de apresentar o rítmo musical.

Por você ser um artista jovem, qual a maior dificuldade que você encontra em ser cantor?

Por eu ser jovem, a indecisão ainda percorre. Chegar aos 20 anos acaba nos fazendo questionar se há tempo para fazer uma faculdade, ou outra coisa. Sempre vem aquela dúvida de se realmente é o que eu quero fazer. E outra dificuldade que eu encontro, é o fato de as pessoas levarem muito em consideração o status, o dinheiro, o poder e quem você conhece. Isso acaba prejudicando quem é novo, pois nós não temos um bom recurso financeiro, e claro, eu não tenho uma carreira de muitos anos, eu não tenho tantos contatos famosos. Para um gênero que está começando agora como o R&B ainda sobram muitas dificuldades para um jovem artista levantar a bandeira.

Há quanto tempo você faz apresentações em bares?

Canto desde 2019, então, foi um ano cantando, pois infelizmente teve o ano de 2020, em que não conseguimos socializar devido à pandemia. E há mais de quatro anos que eu toco. 

Como você se sentiu quando a pandemia chegou e os shows tiveram que ser adiados e qual foi sua estratégia para continuar fazendo seu trabalho?

A pandemia foi realmente algo doloroso, ficar longe das pessoas, do trabalho, e até mesmo daquilo que pensávamos que era difícil de lidar. Eu senti muita falta da proximidade, da minha profissão e, também, do dinheiro que parou de entrar. Entretanto, a pandemia me beneficiou com muitas coisas, principalmente em relação a mim mesmo. Eu pude evoluir muito e dar valor a coisas que antes eu não valorizava, também percebi que alguns artistas que eu achava que eram intocáveis, não eram tão grandes assim. Reparei que eu e eles estávamos lado a lado. Foi a partir da pandemia que eu criei coragem para dar minha cara no Spotify e no Youtube. Nesse momento eu entendi a própria força que a minha arte tem.

Você acabou de lançar um novo single, como foi o processo?

Depois que eu lancei minha primeira faixa, que foi R&B Para Fazer Amor, eu senti vontade de fazer algo que se assemelhasse a essa primeira música. Então, eu fui muito fomentado pelo cantor Daniel Caesar ao lançar Luiza, meu primeiro R&B, de fato. A produção foi algo demorada, e eu achei em um certo momento que não teria repercussão pelo motivo de ela não ser tão comercial. Só que curiosamente depois que lancei, eu recebi muito feedback positivo. Algo que me surpreendeu.

Há algum outro projeto em andamento?

O próximo lançamento, foi muito sem querer, mas é o desfecho de Luiza, então a próxima música já está bem encaminhada. Ela se chama Dezenove e já está pré-produzida. A música retrata mais ou menos a história de quem é que nunca foi ficar com uma pessoa e pensou que ia casar com ela.