Por Matheus Rodrigues Leite/AES
A semana que foi do dia 11 até 17 de fevereiro de 1922 se tornou um marco na história brasileira devido ao movimento que revolucionou a arte no país. Acontecia naqueles dias, há quase cem anos, a Semana de Arte Moderna, planejada, realizada e inaugurada por diversos artistas e intelectuais, entre eles Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Zina Aida, Heitor Villa-Lobos, Di Cavalcanti, Graça Aranha e outros, que se atreveram se ser futuristas e quiseram colocar em suas obras os verdadeiros sentimentos que regiam no Brasil.
O evento ocorreu em São Paulo, capital, onde ainda se admiravam estilos artísticos mais tradicionais europeus, e ainda hoje é visto como o ponto de partida para o modernismo nacional. Os modernistas tinham a necessidade de inovar e ter um estilo mais próprio, com uma nova estética, buscando a valorização do país verde e amarelo, até se tornar uma vanguarda.
Os princípios do movimento buscavam chocar os admiradores de arte com o novo, com o inesperado, com algo que fosse realmente diferente de tudo o que já haviam visto. Entretanto, este comportamento foi duramente criticado, a “rebeldia” era quase um desrespeito à arte, sendo assim, foi visto com desprezo pelos paulistas conservadores.
No entanto, duas mulheres tiveram um papel essencial durante essa transição de militância cultural. Tarsila do Amaral (que não compareceu ao evento, pois estava na França) e a já citada Anita Malfatti (além de Zina Aita), foram as principais figuras femininas que participaram do movimento que buscava a fuga do normal. Para estas mulheres, ter feito parte do projeto, foi e ainda é algo histórico, visto que, naquela época, as mulheres não podiam nem expressar sua opinião nas eleições, além de todo o machismo cultural no seu auge.
Um pouco antes, em 1917, Malfatti realizou uma grande exposição autoral em São Paulo, aliás, a primeira mostra de um artista modernista brasileiro, contendo obras com homens nus, fato que já demonstrava o pensamento fora do comum da artista. O reflexo disso foi o desentendimento com o renomado escritor e crítico do jornal O Estado de S. Paulo Monteiro Lobato.
De acordo com a revista Correio Braziliense, Anita Malfatti nunca esteve com a cabeça dentro da caixa, isso é sua principal característica e qualidade, foi autora de quadros irreverentes e autênticos, mesmo com um problema na mão (um dos motivos de ser tão tímida). Já a amiga, Tarsila do Amaral, era mais extrovertida e adorava ser o centro das atenções. Para isso, utilizava bem a simbologia das cores, principalmente o vermelho, em sua arte e também nos apetrechos que vestia no dia a dia. Ambas as artistas estudaram arte e se aperfeiçoaram na Europa, mas deixaram um extenso legado no Brasil até os dias de atuais.
Outros nomes como Pagu (Patrícia Galvão), Olívia Guedes Penteado também representaram bem o feminino no movimento modernista. Fora do país, Sonia Delaunay (Ucrânia), Marie Laurencin (França), Aleksandra Exter (Polônia) e Sophie Taeuber-Arp (Suiça) provam que o futurismo rodou o mundo todo e sempre teve mulheres para o representar.