por Caterina Montone
Em 13 de fevereiro de 1922, uma segunda-feira, acontecia o primeiro dia da semana que marcaria a história da cultura brasileira. O evento contou com grandes escritores, artistas plásticos, músicos e ainda havia espaço para arquitetos e cineastas. O objetivo era claro e foi cumprido: “promover uma semana de escândalos literários e artísticos de meter estribos na burguesiazinha paulistana”, como citou o pintor Di Cavalcanti, em seu livro de memórias ‘Viagem da minha vida – testamento da alvorada’.
Antes disso, no dia 29 de janeiro do mesmo ano, o jornal O Estado de S.Paulo anunciava a Semana de Arte Moderna, que ocorreu nos dias 13, 15 e 17, de fevereiro, no saguão do Theatro Municipal, com atividades envolvendo poemas, danças, concertos musicais e recitais nos dias.
O Brasil se encontrava em um cenário cheio de tensões políticas e econômicas, o período da República Velha já em decadência e controlada pela política conhecida como Café com Leite.
Entre nomes conhecidos estava o escritor e diplomata Graça Aranha, responsável pela abertura do evento que pretendia renovar as artes no Brasil, com referências das vanguardas europeias, misturadas às manifestações da cultura popular dos rincões do País. Ao contrário do que muita gente pensa, Tarsila do Amaral não fez parte da Semana, apesar de estar inserida movimento modernista brasileiro, ela estava estudando pintura na França.
O escritor e crítico Monteiro Lobato foi um dos intelectuais mais combativos da Semana, pois via o movimento com outros olhos, sua intenção era atingir os modernistas em sua vaidade, como a pintora Anita Malfatti. Ele qualificou sua arte como “paranóica e mística”. Um fato curioso foi quando o músico Villa-Lobos se apresentou com um pé usando sapato e o outro um chinelo. O público vaiou firmemente, encarando aquilo como uma afronta, mas o maestro explicou que a vestimenta não era uma expressão artística e, sim, uma forma de driblar a dor de um calo inflamado.
Todos os fatos acima podem ser encontrados no livro “A Semana de Arte Moderna de 1922 e o Modernismo Brasileiro: atualização cultural e ‘primitivismo’ artístico” do autor Evando Batista Nascimento.
De modo geral, a Semana de Arte Moderna, prestes a completar cem anos, pouco agradou ao público e à crítica, com vaias e duras críticas, o que já era de se esperar desde sua idealização. Mas de uma coisa temos certeza: a arte nunca mais foi a mesma depois de tamanha revolução. O evento foi um marco de ruptura promovida por intelectuais das classes mais abastadas.