por Allan Bueno
O ano é 1922, imagine uma época com poucos canais de expressão, é bem diferente de hoje, quando temos Twitter, Instagram, YouTube, Facebook e outros tipos de rede sociais na palma da mão. Imagine tentar defender suas ideias numa época em que o machismo era bastante dominante, no trabalho e em qualquer outra atividade social. As pessoas eram muito mais conservadoras, tudo o que era muito novo era de se espantar, en quanto que na Europa a novidade era celebrada, de músicas a tecnologias.
Mas quando foi entre os dias 11 e 17 de fevereiro daquele ano que surgiu um movimento que reuniu vários artistas, de estilos variados, músicos, escritores, poetas, pintores, arquitetos. Foi um grande evento, que apresentou ideias de renovação estética e estilística, e mudou a história da cultura do Brasil. As obras que fugiam do tradicional e questionavam os valores da família brasileira chocaram o público e a crítica. Marcou época por também dar voz a mulheres, quando elas não podiam trabalhar fora, apesar de que muitas mulheres já se expressavam através da arte.
Anita Malfatti e Zina Aita expuseram quadros e Guiomar Novais tocou Chopin ao piano, elas foram pioneiras, pois usaram técnicas artísticas que não eram de bom tom para as mulheres adotarem. Apesar do número pequeno, o passo foi grande quando se contextualiza o período. Às mulheres não era nem permitido votar; esse direito só foi concedido dez anos depois. Elas eram criadas para casar e ter filhos. Fazer quadros para expor já era um escândalo, participar de um movimento vanguardista era ainda mais inimaginável.
Há quem acredita que o movimento não seria o mesmo sem a participação delas. Afinal, foi Anita Malfati a primeira modernista a fazer uma exposição no Brasil, antes mesmo de qualquer um dos outros integrantes homens. Em 1917, recém-chegada de estudos no exterior, ela resolveu expor suas criações inspirada no expressionismo alemão. Além de não pintar paisagens sem graça e temas religiosos, o que a sociedade esperava das mulheres artistas, Anita representou alguns nus masculinos com gestos femininos.
Ela foi duramente criticada pelos jornalistas na época, principalmente por Monteiro Lobato, que ainda não era um grande escritor de histórias infantis. Por um período do século 19 e início do século 20, as mulheres foram apagadas da história da arte, foi só após a Semana de Arte Moderna de 1922, com Tarsila do Amaral (que não participou da Semana mas liderou o movimento modernista) e Anita Malfatti, que as mulheres foram reconhecidas como importantes para a história cultural do país.
O clima de aprovação e aversão do modernismo provocou uma mudança notória no comportamento da sociedade brasileira. A Semana de Arte Moderna foi responsável pela construção da modernidade no Brasil. Ela estimulou uma vida cultural original, a união das elites cultural e social gerou uma série de novas medidas, como projetos de museus, universidades, jornais importantes e partidos políticos. A Semana não teria importância sozinha, ela se conecta à vida cultural e intelectual efervescente de São Paulo.