Tarsila impulsionou movimento modernista, mesmo sem participar da semana

Por Jaqueline Nunes/AES


A pintora e escultora Tarsila do Amaral (1886-1973) apesar de ser mundialmente conhecida como artista do modernismo, não esteve presente no principal marco do movimento: a Semana da Arte Moderna, em 1922. Na ocasião, a artista estava estudando em Paris, mas de acordo com a última entrevista de Tarsila concedida ao jornalista Leo Gilson Ribeiro, em 1972, “embora estivesse na Europa, participou da Semana pela carta que Anita Malfatti [uma das responsáveis] mandou, contando tudo, com todas as minúcias”. 

O evento ocorrido em São Paulo, de 11 a 18 de fevereiro de 1922 – que completará centenário no próximo ano – teve como principais idealizadores artistas como Anita Malfatti, Mário de Andrade, Zina Aita, Heitor Villa-Lobos, Oswald de Andrade, Di Cavalcanti, Menotti Del Picchia, Graça Aranha e outros. O episódio enfrentou inúmeras críticas de conservadores, causando até mesmo vaias para as obras apresentadas, pois até então a forma de fazer arte no Brasil era carregada de símbolos estrangeiros e formais. Já no novo movimento, o foco era a identidade e a cultura brasileira, com linguagem mais informal e próxima do povo, algo nunca visto antes por aqui. 

Após dois meses da semana, Tarsila retornou ao país e começou a eternizar o movimento na arte local, imprimindo a marca de “pintora do Brasil”. Com obras que traziam pinceladas fortes de amarelo, verde, azul e referências sociais, liderou, ao lado do então marido Oswald de Andrade, o movimento antropofágico, que dentro do modernismo reforçou a ideia da força da cultura brasileira nas obras, como forma de “engolir” as interferências de fora na arte do Brasil.  

O quadro mais conhecido, o “Abaporu” (1928), foi um presente da artista para Oswald, e ainda na entrevista de Leo Gilson, ela conta como escolheu o nome de sua obra mais famosa: “Eu quis dar um nome selvagem também ao quadro, porque eu tinha um dicionário de Montoia, um padre jesuíta que dava tudo. Para dizer homem, por exemplo, na língua dos índios era Abá. Eu queria dizer homem antropófago, folheei o dicionário todo e não encontrei, só nas últimas páginas tinha uma porção de nomes e vi Puru e quando eu li dizia “homem que come carne humana”, então achei, ah, como vai ficar bem, Aba-Puru. E ficou com esse nome”, conclui. 

Além do Abaporu, obras como “A Negra” (1923), “Operários” (1933), “Carnaval em Madureira” (1924), entre outras, ficaram internacionalmente conhecidas e fizeram de Tarsila uma das principais mulheres brasileiras a liderar um manifesto artístico. A “modernista que não participou da Semana da Arte Moderna” deixou legado no movimento como mulher e profissional, construindo um novo jeito de fazer arte no Brasil.