por Allan Bueno e Matheus Rodrigues
Demorou, mas após quase dois anos, o maestro da Orquestra Sinfônica Municipal de Santos (OSMS) Luis Gustavo Petri voltou a sentir a euforia de pisar o palco com a retomada dos eventos presenciais. Desde março de 2020, o principal e mais prestigiado projeto musical da cidade foi obrigado a migrar para as apresentações on-line. Os concertos marcados previamente foram cancelados e os ensaios, dificultados, visto que a sintonia (pela falta de aparelhos de alta qualidade ou pelo delay natural da tecnologia) não pôde ser alcançada como nos treinos presenciais.
“No começo, a gente estava cheio de ideia para gravar de modo off-line e depois juntar em uma coisa só, mas nenhuma teve uma qualidade boa, nada deu certo. Nós fizemos algumas coisas, mas é quase impossível, não foi uma questão só nossa (orquestra). Fazer qualquer coisa simultânea on-line é muito difícil, nem os tops, quem tem dinheiro, conseguiram fazer algo do tipo, nenhuma execução que funcionasse”, lamentou Petri.
A regente do Coral Municipal de Santos Nailse Machado tem uma opinião parecida com a o maestro sobre os ensaios: “Foi algo totalmente estranho. Vimos que iríamos sofrer muitas dificuldades em relação à qualidade do áudio e vídeo. Acabou afetando bastante nosso trabalho, mas soubemos lidar com isso sem problemas”.
Os ensaios foram mantidos com persistência por um único objetivo: a volta para os palcos. “Acredito que com o número reduzido e com um número maior de vacinados, poderemos ter sim apresentações com mais segurança. Claro, isso só vai depender da população em relação a vacina. Nós acreditamos que não vai demorar muito para voltarmos aos palcos”, afirma Nailse.
Apesar das dificuldades, houve algumas experiências positivas: “Uma das coisas boas que a pandemia trouxe foi a comunicação internacional e nacional entre os organismos teatro, orquestra, grupos de danças e corais. A tecnologia ajuda muito, de qualquer maneira, aprendemos muito sobre o jeito de gravar, de fazer, de produzir e isso vai trazer certamente um ganho quando as coisas voltarem as serem presenciais”, pondera Petri.
O maestro afirmou que voltou a ter contato com pessoas do meio artístico, com as quais não falava havia muito tempo, e utilizou o tempo em casa para estudar música, marketing digital e edição. Além disso, conseguiu desenvolver um hobbie de interesse pessoal: cozinhar.
Retomada das apresentaões
A Prefeitura de Santos autorizou oficialmente o retorno das atrações teatrais neste segundo semestre, e Luis Gustavo Petri revelou seu calendário: “Faz quatro meses que estamos planejando voltar às atividades presenciais, temos plano A, B e C, além de sempre acompanhar os casos de Covid-19 e os protocolos sanitários. Não posso reclamar da Prefeitura de Santos., não tivemos demissões, não tivemos nada além de um pedido de redução do valor que ganhamos, mas não houve pressão para fazer as coisas de qualquer jeito, colocando em risco as pessoas, pelo contrário, houve apoio”.
O tão esperado momento chegou e Petri não vê a hora de receber o público. “Em todo concerto, a reação do público é grande. Igual ao futebol, que não deve ser tão diferente. Imagina o jogador fazer o gol para o estádio vazio, deve ser horrível, é legal, mas é horrível. Quando você faz o gol e tem aquele estádio inteiro gritando, é a mesma coisa com a gente. Várias lives que fizemos simplesmente terminava a música e não tinha aplauso, é muito frustrante, a gente sente falta mesmo. Essa interação sempre foi alimento para quem assiste tanto para quem faz e isso foi cortado nesse meio tempo”.
O primeiro concerto presencial desde o início da pandemia foi realizado no dia 18 de novembro, em homenagem aos 40 anos do rock brasileiro da década de 1980, mas com menos da metade do elenco da orquestra, no Teatro Municipal Brás Cubas, que liberou um terço da capacitade total. “É muito esquisito fazer um espetáculo ao vivo em que você não vê o rosto das pessoas, é muito estranho. Quase 70% do que a gente faz é com o rosto, a respiração, a olhada, o sorriso e com a máscara não existe essa comunicação e acaba dificultando muito”, comentou Petri.
“A volta está engatinhando, então não dá para programar nada muito grande, que empenhe muita produção porque a gente não sabe o que vai acontecer ainda, está instável. As vezes um investimento que você faz num negócio muito grande pode dar para trás e não é bom para ninguém”, complementa o maestro. Além do mais, a próxima atração será no dia 16 de dezembro, quando o clima natalino invade o teatro.