Por Bruno Lina, Thiago Guimarães e José Lucas Senna de Almeida/AES
Dez meses após o estopim da confusão, associados e torcedores não sabem quem comanda o clube
Jabaquara Atlético Clube, ou Jabuca, foi fundado por jornaleiros espanhóis em 15 de novembro de 1914, no bairro do Jabaquara, em Santos, pelo nome Hespanha Futebol Clube. Na década de 40, o time foi um dos pioneiros na fundação da FPF (Federação Paulista de Futebol) e, devido à Segunda Guerra Mundial, precisou mudar de nome, por causa da referência à Espanha – algo que não era permitido por causa de um decreto de lei. A partir daquele momento, numa votação feita por torcedores, o time passou a se chamar Jabaquara Atlético Clube, homenageando o seu bairro de origem.
Um clube cuja história do futebol paulista se mistura com a sua, visto que fundou a Federação de futebol do estado e revelou grandes jogadores importantes para a Seleção Brasileira, passa por um momento delicado: uma crise administrativa que preocupa torcedores e se estende às quatro linhas, deixando o time fora de competições oficiais.
Essa crise começou em 19 de dezembro de 2020, quando ocorreu a Assembleia Geral de Eleição, envolvendo o Conselho e a Diretoria, com a inscrição da da Chapa 1, liderada por Ricardo Gonçalves, o Cacá, que tinha o apoio da Diretoria Executiva, que era presidida por Adelino Rodrigues. No outro lado, tinha a Chapa 2, comandada por Cláudio Fernández, com apoio da maioria dos Conselheiros.
Quem contou pra gente foi Fabrício Lopes, ex-conselheiro do clube. Ele, que foi candidato à presidência do Jabaquara nas últimas eleições, é líder do movimento “Renova Jabuca”, que visa expor, nas redes sociais, o dia a dia da equipe. Fabrício diz que, no mesmo dia, o Conselho, o qual a maioria apoiava Fernández, não homologou o resultado e não marcou data de posse dos Conselheiros Eleitos e da Diretoria Executiva eleita. Segundo os Conselheiros, há uma divergência entre o que deve ser a lista de sócios e o que foi disponibilizado pela secretaria do clube.
O ex-conselheiro também relembra que, no começo de fevereiro de 2021 o Conselho Deliberativo voltou a se reunir, e decidiu pela anulação da Assembleia, realizada em 2020. Temporariamente, mantiveram a chapa eleita em 2018 à frente do clube. Em 6 de abril de 2021, todos os integrantes da chapa 1, do Conselho e da Diretoria, ligados a Cacá, foram à justiça pedir a validação da eleição de dezembro de 2020.
Três meses depois, o Conselho se reuniu novamente e aprovou a convocação de novas eleições para 21 de agosto de 2021. Porém, indignados com os acontecimentos, a chapa 1 solicitou, no processo que já está em andamento na justiça, a não realização das eleições sem que o processo seja julgado. Vale ressaltar que, no último dia para inscrição das chapas, a chapa ligada a Cacá se inscreveu para as eleições. Como a liminar não foi avaliada, tampouco validada, a inscrição da chapa configurou concordância com a votação realizada em 2020.
Sábado, 21 de agosto. No Centro Espanhol de Santos, é realizada uma nova eleição e ocorre um novo problema: associados que alegaram estar em dia e com o pagamento do sócio torcedor, foram barrados e não puderam participar do pleito. Isso fez com que dois sócios protocolassem um novo processo, questionando o local e a legitimidade da eleição. Dez dias após a eleição, o Conselho Deliberativo faz nova reunião para dar posse aos conselheiros eleitos e à nova diretoria. Eleitos e empossados vão até a sede do clube para começar a gestão e, ao chegar, encontram a parte administrativa fechada.
No mesmo dia, o juiz Daniel Ribeiro de Paula, responsável pelo segundo processo, marcou uma nova audiência para o dia 15 de outubro. Essa audiência, mediada pelo Excelentíssimo Juiz Daniel Ribeiro de Paula, teve como sentença a compreensão de que “ […] às partes o prazo comum de 5 (cinco) dias para que apontem, de maneira clara, objetiva e sucinta, as questões de fato e de direito que entendem pertinentes ao julgamento da lide, sem prejuízo de eventual julgamento da lide no estado, informem as partes se têm interesse na designação de audiência de tentativa de conciliação e se concordam com julgamento antecipado. Indiquem, se o caso, as provas que pretendem produzir, justificando a sua concreta necessidade e pertinência, ou seja, qual ponto controvertido pretende provar com cada meio de prova indicado. Desde já, informo que não será aceita indicação genérica de prova, o que gerará a preclusão do direito à prova […]”. Em suma, nenhuma parte tem razão.
Nas redes sociais, a Renova Jabuca faz a atualização dos fatos ocorridos e tenta levar ao torcedor o que acontece nas dependências do clube. Mas como fica o torcedor? Fabrício, que é “jabaquarense desde criancinha”, expõe seu lado torcedor e fala, com toda a emoção que lhe cabe, a realidade do Jabuca: “É triste ver esse clube de tanta tradição, de tanta história, viver o que está vivendo. Me chateia ver um clube tendo seu Estatuto desrespeitado, não sabem o que é ser Jabaquara Como podem pintar as arquibancadas do estádio de preto, se suas cores são amarelo e vermelho? Isso é um absurdo. Eu amo esse time, eu amo esse clube. Não torço para o Santos e nem para nenhuma grande equipe. Eu sou torcedor do Jabaquara”.
Uma possível mudança de ares para o Jabaquara e muitos clubes que vivem endividados é transformar a agremiação em clube-empresa. Isso vem acontecendo com o Botafogo do Rio de Janeiro e com o América de Minas Gerais. Também aconteceu com o Figueirense, mas lá não foi bem-sucedido. Fabrício vê esse assunto de suma importância, já que representa uma mentalidade de gestão de resultados. Ele traça alguns fatores que auxiliam nesse sentido, tais como: alimentação dos jogadores, preparação física e análise esportiva. Em contrapartida, não pode deixar de lado a parte orçamentária. Sendo assim, é possível resultar em melhor desempenho da equipe.
Fabrício é razão e emoção, como todo torcedor. Ele quer o Jabaquara na primeira divisão, disputando títulos. Para isso, segundo ele mesmo, precisa limpar o clube. Um sonho de criança e que muitos aficionados pelo seu time tiveram: ser presidente do clube que tanto ama. Não conseguiu, mas ele não vai desistir de recuperar e “limpar a mancha que há na bandeira do Jabaquara”.
Em publicação recente nas redes sociais de Fabrício, há a informado de que mesmo que ainda seja muito cedo para avaliar, houve um grande avanço em relação aos processos judiciais referente às eleições. Ele completa dizendo que deseja que a diretoria, que de forma liminar tomou posse, esteja atenta às necessidades dos associados, como também garante que o Jabuca não seja novamente vítima de projetos personalistas.