Perfil Biográfico Fotógrafos | Milton Carelo
Por Débora Valiño – 3FN1 FTD 2022-2
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Entrevista com o fotógrafo Milton Carelo, por Débora Valiño
(Débora) Quando e por que você começou a fotografar?
(Milton) Comecei a me interessar pela fotografia por influência de amigos. Quando entrei na faculdade, na segunda metade dos anos 70, o interesse cresceu. Meu pai tinha uma câmera bem antiga, e meus primeiros “clicks” fiz com ela. Logo depois, compramos uma SLR usada. Comecei fotografando surf. Era um bom motivo, pois era o esporte que eu fazia na época. Posteriormente, quando meu pai me deu um ampliador PB, montei um pequeno laboratório num quartinho de casa. Essa independência de poder processar meus filmes e revelar minhas fotos, vendo a imagem surgindo num papel branco dentro da bacia de químicos foi marcante. Logo virou paixão… Lembro que conseguia algumas informações com amigos na faculdade, tentava e testava muito. A informação na época, não era disponível como hoje, ao um clique de mouse.
(D) Por que escolheu trabalhar com a fotografia?
(M) Quando acabei a faculdade, era início dos anos 80 e já havia me mudado para São Paulo, quando consegui um estágio como redator numa agência de propaganda grande aqui em São Paulo. Lá tinha um estúdio, onde eu acabei passando mais tempo como fotógrafo do que com o redator. Acabei sendo indicado para ser assistente de um outro fotógrafo. Fiquei uns 2 anos como assistente fixo e freelancer de alguns fotógrafos, até que comecei a fazer alguns trabalhos sozinho. Posteriormente trabalhei em duas agências fotografando para layouts e para algumas peças finais. Logo depois, junto a dois colegas montamos nosso primeiro estúdio.
(D) Qual sua formação? que cursos fez?
(M) Sou formado em Publicidade e Propaganda. Fiz alguns cursos de produção gráfica, fundamental para entender como as fotos eram impressas numa revista, num jornal, outdoor, etc…
Com a chegada e domínio do digital, fiz cursos dos softwares de edição da Adobe. Hoje, pra edição, utilizo quase 100 % o Photoshop e às vezes uso o Lightroom. Lembrando que esses softwares você tem que experimentar e testar muito. Cursos oferecem uma visão básica.
(D)Como você descreveria seu estilo de fotografia?
(M) Sempre trabalhei com fotografia publicitária e editorial. Nos anos 80/90, um fototógrafo de publicidade fotografava caminhões, pessoas, palito de fósforos, etc. Tinha que ter uma boa noção de eletricidade, de direção de arte, cenografia. Todo trabalho tinha um layout definido e aprovado pelo cliente. Tínhamos que fazer idêntico ao que foi pedido e sem a facilidade dos softwares de edição que temos hoje. A fotografia era 100% analógica. Fiz muito editorial na época de ouro da antiga Editora Abril. Tive 33 capas publicadas da Revista Veja, outras tantas de Casa Claudia além de outros títulos.
Apesar de ter feitos vários trabalhos com moda, nunca tive esse perfil de fotógrafo de moda. Sempre fui muito forte em fotos de produtos. Por ter um perfil mais reservado, sempre gostei de trabalhar com pouca gente no estúdio. Pessoalmente, gosto de fotografar paisagens, cenas do cotidiano que passam despercebidas, também gosto muito de ensaios com modelos em estúdio. Gosto de cor, mas minha preferência pelo PB é indiscutível, influência forte de Ansel Adams.
(D) Qual sua opinião sobre o atual estado e o futuro da profissão de fotógrafo?
(M) Penso que a grande época da fotografia publicitária passou. O digital popularizou a fotografia democratizando o mercado. Antes, um fotógrafo profissional de publicidade precisava de muito equipamento, geralmente 3 formados de câmeras de grande, médio e pequeno formato. Eram equipamentos caríssimos, sendo necessários pelo menos 3 lentes para cada formato, iluminação, flash de estúdio, refletores de iluminação contínua, além de manter um estúdio bem estruturado, com laboratório de processamento de cromos (filme positivo usado para impressão gráfica), e uma equipe competente. Isso demandava muito investimento financeiro e muito conhecimento. Por conta disso, a remuneração era excelente.
Atualmente na mídia digital, com uma câmera de pequeno formato de boa qualidade (não precisa de excepcional), conseguimos fazer de filmes 4K, a fotos com um bom tamanho de impressão. Isso você compra com menos de U$ 3.000, inclui aí um bom computador ou até menos. Tem pessoas fotografando e filmando com Iphone, e dependendo da finalidade, resolve bem. Sou contra, mas é realidade.
Na época do analógico a mídia era outra. A periodicidade de uma revista geralmente era mensal, um cartaz de ponto de venda durava meses. Hoje, as mídias digitais têm vida curta. Em um dia, o filminho Tik Tok já morreu. Tudo é muito rápido e descartável. Antes do digital, as imagens tinham que ter qualidade, pois você as olhava em um suporte físico. O tempo de apreciação era outro. Hoje, numa tela, você precisa de apenas 72ppi de resolução e ainda pode usar arquivo bem compactado. A velocidade com que olhamos a tela do celular é absurda, e o bombardeio de imagens é brutal. Hoje em dia, um fotógrafo precisa ter um grande conhecimento de softwares de edição. O fotógrafo não se limita mais a imagens estáticas, ele fotografa, filma e edita. Muitas vezes não precisa nem de assistente. Com isso, o trabalho é maior e a remuneração menor. Os bancos de imagens suprem toda uma necessidade com pacotes de imagens royalty free.
Na publicidade ainda tem o 3D, que está cada vez mais acessível. Na época do filme, o trabalho do fotógrafo acabava quando ele escolhia as fotos e entregava para o cliente. Se por sua vez, ele não gostasse do resultado por algum motivo não técnico, era cobrado outro valor, uma vez que não tinha como corrigir. Era começar do zero. Hoje você tem que tratar a foto, modelar o nariz da modelo, trocar aquele céu que o cliente não gostou das nuvens, mudar a cor da calça que ele escolheu e não gostou. O cliente acha que correções não tem custo, e por aí vai.
Em meio a tudo isso, está tendo uma valorização da fotografia autoral como objeto de decoração. Por ser mais acessível que obras de arte tradicionais, definitivamente a fotografia caiu no gosto de decoradores, e também está tendo um espaço maior com mostras em galerias. Atualmente, nesse cenário pós pandemia, mudanças que estavam acontecendo tiveram seu processo acelerado. Poucos fotógrafos mantêm estúdio próprio. Os estúdios de locação vieram pra ficar. Se precisar fazer um trabalho de estúdio, o fotógrafo aluga por dia.
Quanto ao futuro, penso que a fotografia profissional sob demanda sempre existirá. Sempre surgirá um produto novo a ser lançado, sempre terá alguém querendo fotografar um projeto novo, um casamento, um catálogo de moda, um retrato para um diretor de empresa. Como a velocidade da tecnologia é imensa, o domínio de softwares aliado a informação, seja na área técnica ou nas referências estéticas, será um dos grandes diferenciais. Quanto a fotografia autoral, não importa se analógica ou digital, aquela fotografia que nos emociona, aquela que nos mostra o que olhos desatentos não percebem, nunca irá morrer.
(D)Que equipamentos você utiliza pra fotografar?
(M) Atualmente meu equipamento profissional é Canon. Tenho 3 corpos de câmera Full Frame, 5D Mark II, 5D Mark IV, e 5DS, e diversas lentes que vão de 15 a 200mm. Ainda possuo diversas câmeras analógicas que as vezes uso para trabalhos pessoais.
Website
https://miltoncarelo.myportfolio.com
Instagram
https://www.instagram.com/miltoncarelo