Perfil Fotógrafos | Vânia Toledo

Perfil Biográfico Fotógrafos | Vânia Toledo
Por Giovanna Ferreira de Souza | 3FN1 FTD 2022-2
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Vania Rosa Cordeiro de Toledo nasceu na cidade de Paracatu em Minas Gerais, no dia 29 de janeiro de 1945. Uma corajosa mineira radicada em São Paulo que deixou para nós como legado o seu olhar poético sobre os símbolos da noite, da beleza e da liberdade no Brasil. Ainda muito jovem, se mudou para São Paulo para estudar Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP), se formando na turma de 1973. Entre 1969 e 1979, trabalhou no Departamento de Educação e Pesquisas Especiais da Editora Abril, e entre  1970 e 1973 lecionou História econômica  e História universal no Colégio Duque de Caxias em Osasco (SP).

Mas somente em 1978 é que inicia sua carreira fotográfica no jornal “Aqui São Paulo” de Propriedade do jornalista Samuel Wainer, do qual chega a ser editora de fotografia no ano seguinte. Nos anos 1980 revelou-se uma profissional ousada, apaixonada pelas artes marcada pelas fotografias de palco e bastidores do teatro e de diversas capas de livros e discos, como “Sujeito estranho”, lançado em 1980 por Ney Matogrosso, e o álbum “Bossa’n’roll”, de Rita Lee (1991).

Trabalhou na revista “Veja” e na revista “Istoé” e fotografava ícones brasileiros, famosa por centenas de retratos que fez que vão de drag queens a grandes divas do palco e personalidades do mundo artístico, se transformando na fotógrafa preferida das estrelas, as principais eram a Marília Pera e Dina Sfat. E então com grande sucesso e reconhecimento decide abrir seu próprio estúdio em 1981, colaborando para a criação das mais prestigiosas publicações nas revistas brasileiras como a Vogue, Claudia, Veja e IstoÉ.

Vania registrou grandes acontecimentos com sua câmera, desde a passagem do autor espanhol Fernando Arrabal pelo Brasil, na época da montagem de “Cemitério de Automóveis” (1968), até o musical “Tom e Vinicius” (2008), passando por importantes encenações, como “O Balcão” (1969), “Macunaíma” (1978), “Hair” (1968) e etc. Vânia sempre se destacou como retratista, principalmente em seus dois livros: “Homens”, lançado em 1980, uma ousada e bem-humorada coleção de nus masculinos, e “Personagens Femininos” lançado em 1992, sendo uma interpretação fotográfica das fantasias de 54 conhecidas atrizes.

Nesse trabalho ela pediu as atrizes que vivessem por um dia uma personagem que nunca haviam representado. Produziu a série em dois momentos: em 1984 e 1991. No livro aparecem mulheres, como Fernanda Montenegro, Marília Pêra, Marieta Severo, Regina Casé, Giulia Gam, Vera Fischer, Glória Pires, Nicete Bruno, Zezé Motta, Beatriz Segall, Regina Duarte e Beth Goulart. Esta obra lhe deu o Prêmio Excelência Gráfica, concedido pela Associação Brasileira de Técnicos Gráficos – ABTG, e a exposição correspondente realizada na Galeria de Arte São Paulo recebeu o prêmio de melhor exposição do ano de 1993 da Associação Paulista de Críticos de Arte- APCA.

Na época disse; “Sempre fui muito ligada ao teatro, foi o teatro que me ensinou a fotografar. Eu pensei: ‘uma atriz que sobe no palco, ela pode tudo. Ela pode ser quem ela quiser, do jeito que ela quiser!’. Resolvi testar essa liberdade de comportamento e raciocínio feminino. Foram muitas conversas com ícones do teatro como Norma Bengel, Dina Sfat, Fernanda Montenegro. A confiabilidade delas comigo foi uma coisa absolutamente enriquecedora pra mim”. Em 2007, ganhou a Ordem do Mérito Cultural, do ministro da Cultura, o cantor e compositor Gilberto Gil, mas acaba falecendo aos 75 anos de idade, em 16 de julho de 2020 em São Paulo. Mas Vânia nos deixou um grande legado e uma visão diferente do mundo através de seus retratos, na exposição da abertura “Tarja Preta”, em 2018 na cidade de São Paulo, afotografa fez um depoimento que dizia;

“Meu vício é gente. Gente atuante, libertária, gente que produz e faz arte, que gosta de viver como eu. Por isso ou por aquilo, sempre fotografei pessoas assim, com esse perfil”, declarou Vania Toledo e também disse. “Eu sinto uma eterna curiosidade pelo ser humano. E levo essa curiosidade, com delicadeza, comigo quando vou fotografar”. Para Emilio Kalil, diretor-superintendente da Fundação Iberê e amigo de longa data, “Vania é uma das grandes memórias da cena cultural e dos mais badalados eventos sociais do eixo Rio/São Paulo. Ela não era apenas fotógrafa, ela era amiga de todos”.

As obras de Vania Toledo tinham um foco preciso, sendo eles os retratos. Porém, seu trabalho realizado na moda também é de grande relevância e beleza. Alguns trabalhos ressurgiram na arqueologia da construção da exposição sobre Conrado Segreto para o SPFW. Tudo começou quando Paulo Borges foi atrás de Vânia porque sabia de duas fotos que ela havia feito com looks de Segreto. Ao chegar lá, descobriu fotos impressas em tamanho de colecionador em papel de algodão Canson, com pigmento mineral para durar mais de 100 anos, sendo uma coleção criada para ter valor de museu, sendo avaliadas em R$ 5 mil reais cada e vêm assinadas pela fotógrafa. E dizem que há um novo projeto de resgate de obras da Vânia dos anos 80 e 90 que em breve serão exibidos em uma grande exposição.

Vânia Toledo foi uma fotógrafa que provou que com coragem e ousadia, você pode conquistar grandes coisas nessa vida e carreira, tendo uma longa trajetória de trabalhos, projetos e trabalhado com grandes celebridades, mas sempre sendo motivada pela sua curiosidade sobre as pessoas que produzem arte e sua vontade de transmitir isso com tamanha delicadeza e precisão.