| Perfil Biográfico Fotógrafo | Carol Caminha
| Isabella Aparecida dos Santos Domingues | 5FN1 FTI 2024-2
| 11443 caracteres
Nesta entrevista realizada online via e-mail com a fotógrafa Carol Caminha, de 40 anos, ela nos apresenta sua jornada pelo universo da fotografia. Nascida em Fortaleza, Ceará, seu caminho neste universo começou na infância, imersa nas imagens e vídeos que eram registrados pelos seus pais. Formada em jornalismo, trilhou um caminho autodidata na área da fotografia, complementando sua formação com cursos técnicos e aprendendo com a experiência.
Encontrou na fotografia a sua verdadeira vocação após uma oportunidade inesperada que a levou a trabalhar com Ricardo Stuckert, fotógrafo do Presidente Lula. Com 15 anos de carreira, Carol compartilha e reflete sobre os desafios e conquistas de sua trajetória profissional, os equipamentos que utiliza, e a importância da fotografia na sociedade atual, nos mostrando que a arte da fotografia é muito mais do que um registro visual; é uma forma de contar histórias e conectar pessoas. Segue abaixo a entrevista na íntegra.
(Isabella Domingues) Quando começou o seu interesse por fotografia?
(Carol Caminha) A fotografia (na verdade, o audiovisual) sempre esteve presente dentro de casa desde a minha infância, já que cresci acostumada a ver meu pai sempre fotografando as viagens e eventos familiares e a ver minha mãe sempre registrando tudo em vídeo. Meu pai até hoje se define como fotógrafo amador e lembro de tirar dúvidas com ele quando não sabia como determinada foto tinha sido feita – tipo quando a água de uma cachoeira, por exemplo, é registrada em velocidade baixa. Então, o interesse e a curiosidade sempre estiveram ali, mesmo eu nunca tendo visto a fotografia como uma opção de profissão quando comecei a me questionar sobre o que faria da vida.
Possui alguma formação técnica ou acadêmica na área da fotografia?
Sou formada em jornalismo e tive Fotografia como matéria em um semestre da faculdade, mas, curiosamente, passou um pouco batido por mim. “O grosso”, mesmo, eu considero que fui pegando sozinha ao longo do tempo – tirando dúvidas com meu pai, lendo os livros técnicos que encontrava em casa, investindo nas revistas especializadas, pesquisando em blogs e passando a ver o que fotógrafos que chamavam a minha atenção produziam. Depois comecei a usar mais o YouTube para pesquisa também. Em 2012, resolvi investir em um curso de 3 dias de iluminação com flash speedlite, ministrado por um fotógrafo da Rede Globo que eu achava muito bom, o Renato Rocha Miranda. No mesmo ano, enquanto estava de férias em Londres, também investi em um curso de uma semana de iluminação de estúdio na London School of Photography, porque sentia que precisava ter um conhecimento mais palpável de iluminação. Essas ocasiões são as mais técnicas que tenho no currículo.
Como e/ou onde você começou a sua carreira como fotógrafa?
Quando me formei em jornalismo, não me via escrevendo em redações, ou sendo assessora de imprensa ou de comunicação… Faltava eu me encontrar, mas não sabia no que exatamente. Sempre gostei de ler e escrever (o básico de quem escolhe jornalismo para cursar); meu pai e minhas duas irmãs são jornalistas…
O jornalismo me pareceu sempre o mais óbvio a seguir, mas faltava o “click”. Então, uma vez, vi em uma comunidade do finado Orkut, um anúncio de estágio na fotografia em um movimento sindical que ficava sediado em Brasília. Aquilo me deu uma luz e fui para a entrevista, onde tudo começou bem, mas à medida que o rapaz falava, eu fui vendo que eu não ia durar muito ali: era esquema de ter hora pra entrar e não ter hora pra sair; as horas extras não eram pagas, tinha de estar disponível fora do horário de trabalho também…
Enfim, um esquema muito exploratório que ia me frustrar rapidamente. Fiquei triste por não ter podido seguir adiante e mais ainda porque vi que finalmente identifiquei uma coisa com o que me faria feliz trabalhar, mas que, por N motivos, não iria dar certo. Conversando sobre essa frustração com a minha irmã mais velha, que tinha (e até hoje tem, rs) uma amiga casada com um fotógrafo, ela falou que
falaria com essa amiga pra ver se o Ricardo (o fotógrafo) de repente não sabia de alguma oportunidade para me indicar, ou coisa assim. Um dia depois, minha irmã chega me dizendo que dali a dois dias é para eu ir para o Palácio do Planalto me encontrar com o Ricardo. E sim, acontece que o Ricardo em questão era o Ricardo Stuckert, o então (e até hoje) fotógrafo do Presidente Lula, rs. Obviamente já fiquei muito honrada por ele separar um tempinho para me receber; imprimi algumas fotos aleatórias que eu achava boas e que tinha tirado por aí e levei junto comigo. Ricardo me recebeu; gostou das fotos, disse que eu tinha um olhar diferenciado, que eu tinha futuro e que não podia me chamar oficialmente para o time de fotografia da Presidência naquele momento, mas que, se eu quisesse, poderia acompanhá-lo nas pautas do Presidente que acontecessem em Brasília. Assim, eu poderia praticar e ele poderia me dar alguns toques. Eu estava no céu, obviamente! E então ele vira e me fala o que eu nunca vou esquecer: “então você agora vai pra casa, troca de roupa, e esteja aqui de volta às 15:00h, porque às 16:00h o Príncipe Charles vem encontrar o Presidente e você já faz comigo”.
Eu tinha ido pro encontro vestida super casualmente, no meu normal, vestida de calça jeans e tudo, porque jamais imaginei que só iria sair dali 6 meses depois, rs. Então, foi naquela tarde de 2009 que o Ricardo mudou a minha vida e que eu nunca mais trabalhei com outra coisa. Tive as mais variadas experiências depois disso; quem sabe um dia ainda escreva um livro pra contar tudo, rs.
Quais foram os maiores desafios que você enfrentou no início da sua trajetória profissional como fotógrafa?
Pra falar a verdade, eu não tive muito tempo para identificar os maiores desafios, porque eu estava tão ávida para encontrar o que realmente queria fazer, que fui engatando uma experiência na outra. Fui “metendo as caras”, atirando sem medo pros meus objetivos, e agarrando o que ia aparecendo – e melhorando minha fotografia e meu olhar na prática, mesmo. Todo começo tem a sua beleza, porque – pelo menos quando eu olho para trás – me achava muito destemida e capaz de tudo. Acho que com o decorrer do tempo, com a experiência que vamos ganhando, a gente acaba se cobrando mais, se comparando mais, também, com outros fotógrafos, e isso também vai travando um pouco.
Mas, já que é pra apontar um desafio, rs, acho que foi conseguir juntar dinheiro para investir no equipamento que eu achava ser o ideal, porque tudo é muito caro na fotografia. Depois da experiência na Presidência, eu fiz um contrato internacional como fotógrafa em navios de cruzeiro e, ganhando em dólar e comprando lá fora, que sai muito mais barato, consegui comprar. Mas até hoje é um desafio trocar qualquer coisa de equipamento, pois os preços no Brasil são absurdos demais e só pioram!
Qual foi a foto ou o projeto que mais te trouxe satisfação pessoal e profissional?
Pessoalmente, a foto que mais me emocionei em fazer foi a do nascimento do meu primeiro sobrinho, Fabrício. Ele nasceu na água, dentro de uma banheira, com a família toda ao redor presenciando o momento. A foto traz a doula sorrindo, enquanto o tira da água, e minha irmã com um rosto de grande surpresa, com a boca aberta, olhando pra ele. Me lembro do meu rosto úmido, porque obviamente eu estava chorando muito, mas sem parar de fotografar, rs. Essa foto, pra mim, não tem preço.
também e é geralmente com isso que trabalho mais. Pra brincar de luz de estúdio, tenho um Godox AD200pro, que super supre minha demanda, um bastão led que geralmente uso como luz de contorno e alguns modificadores – softboxes de diferentes tamanhos, um octa e um rebatedor básico.
Em sua opinião, qual é o papel da fotografia na sociedade atualmente, especialmente com o aumento das redes sociais?
Gosto muito da frase de uma escritora americana, chamada Susan Sontag que, em um de seus ensaios (ela escreveu muitos sobre fotografia), disse: “hoje, tudo existe para acabar em uma fotografia.”
Eu acho que essa frase condensa muito da importância da fotografia ao decorrer do tempo, das gerações e dos acontecimentos. Fotografia nunca vai deixar de ser importante; sempre vai ter o seu lugar como registro documental e sempre vai ser um veículo emocional que nos transporta pra determinado momento. Sobre as redes sociais, eu acho maravilhoso o aspecto democrático de (quase) todo mundo ter a possibilidade de fotografar.
Não acho que fotografia deva ser privilégio de alguns poucos, afinal, todo mundo tem seu próprio olhar para as coisas; todo mundo quer guardar – e também compartilhar – a sua visão de mundo. Isso para mim não soa como ameaça aos fotógrafos profissionais, porque não é somente o acesso a determinado equipamento (no caso de quem posta nas redes, geralmente, o celular) que faz um fotógrafo.
São sua sensibilidade, seu olhar apurado, sua noção de posicionamento, de composição; sua bagagem cultural, suas experiências… Enfim, gosto mais dos dias de hoje, onde o acesso à fotografia é muito mais fácil, do que quando era algo restrito apenas para poucos.
Há algum tema ou assunto que você ainda não fotografou, mas tem vontade de explorar no futuro?
Gostaria muito de fazer still em cinema; essa experiência ainda me falta. Na televisão, já tive esse gostinho, ao trabalhar fotografando cenas (e também bastidores) de produções da Rede Globo, quando trabalhei por lá entre 2013 e 2017.
Atualmente, se me perguntassem a ocasião de trabalho dos sonhos, rs, seria fazer stills de produções do Steven Spielberg, pois sou muito fã dele, ou de trabalhar junto da Annie Leibovitz, cujo trabalho também acompanho muito. O negócio é sempre sonhar alto, (rs).
Quais conselhos você daria para quem está começando agora na área da fotografia?
Acho que é essencial fotografar o que puder, o quanto puder, porque só assim você vai perceber o que gosta mais e o que gosta menos de fotografar. Só dessa forma, também, vai passar a identificar no que sente mais dificuldade para, assim, poder mapear melhor onde deve se aprofundar pra ser um fotógrafo melhor e mais confiante. E, claro, pra isso, você também tem de ir desenvolvendo sua habilidade de comunicação com as pessoas: não ter medo de oferecer seu trabalho nem de criar conexões; seja sincero sobre o seu desejo de querer registrar aquele tal evento e não tenha vergonha de dizer que está começando. Todo mundo já passou por isso; todo mundo tem de começar por algum lugar pra poder evoluir. Aos poucos, você vai encontrando o seu próprio caminho e a sua identidade.
Gostaria de acrescentar mais alguma informação ou curiosidade que não perguntei?
Eu adorei suas perguntas, mas aqui vai uma curiosidade quentinha: comecei a fotografar em 2009; ou seja, há exatos 15 anos. Como disse antes, tive várias experiências e sei que milhões de pessoas já viram fotografias que foram feitas por mim.
Mas nada chegou perto da viralização que aconteceu no dia 13/10/2024, quando meu nome saiu em vários lugares e veículos de comunicação como “a fotógrafa da mão da filha da Iza”, (rs). A mãozinha me deu minha maior fama até o momento, rsrs. Beijos a todos os seus colegas de faculdade, um abraço ao professor e fotógrafo Cláudio Vitor Vaz e espero que pelo menos alguns de vocês virem nosso colega de profissão! Nos vemos por aí!
Instagram:
https://www.instagram.com/carolcaminha/