Perfil Fotógrafos | Madu Barbosa

| Perfil Biográfico Fotógrafo | Madu Barbosa
| Por Julia Beatriz Christina dos Santos | 5FN1 FTI 2024-2
| 6045 caracteres

Madu Barbosa é uma jovem preta de 24 anos, nascida e criada na periferia, que atua como arte-educadora e fotógrafa. Seu interesse pela fotografia começou antes mesmo de compreender plenamente o significado dessa arte. A família foi sua primeira influência, seus pais registravam momentos do cotidiano com uma câmera analógica, e, aos 3 ou 4 anos, sua tia a presenteou com uma câmera de brinquedo. Mais tarde, aos 10 anos, em um projeto social do qual participava, Madu visitou uma exposição de Sebastião Salgado, momento em que teve um insight profundo: “É isso que eu quero para a minha vida, é isso que eu quero fazer!”

A arte sempre se fez presente na vida de Madu. Ela cantava e gostava de escrever, mas sentia que essas atividades não eram suficientes para expressar suas vivências e visão de mundo. Foi então que, com uma câmera Cybershot, ela começou a explorar a fotografia, capturando o cotidiano e refinando seu olhar artístico.

No ensino médio, incentivada por uma professora, Madu se inscreveu no Instituto Querô. Sem grandes expectativas, passou por todas as etapas, começou nesse projeto e reconheceu a importância desse passo. No Querô, teve a oportunidade de se aprofundar na fotografia, dirigiu a fotografia de alguns filmes e encontrou seu lugar no audiovisual.

Entre suas referências na fotografia, destacou Walter Firmo e Hellen Salomão, artistas pretos que Madu admira profundamente e com os quais se identifica. No campo do audiovisual, Juliana Vicente, diretora, cineasta e fundadora da Preta Portê Filmes, produtora de Cores e Botas e do documentário dos Racionais: Das Ruas de São Paulo Pro Mundo (disponível na Netflix), é uma de suas principais inspirações. Além disso, Madu encontra uma ligação forte entre a fotografia e a música, tendo Luedji Luna e Xênia França como referências.

Para Madu a fotografia e a música se entrelaçam de forma profunda, pois a música inspira e desperta sentimentos que influenciam o seu olhar ao fotografar. As artistas que ela admira expressam intensamente seu lugar no mundo, e isso á faz refletir sobre qual é o seu legado.

“Elas falam muito sobre o lugar delas no mundo. E aí eu fico pensando, e qual é o meu lugar no mundo? O que eu quero deixar? O que eu quero fazer? E isso reflete nas minhas fotografias, pelo meu território!”

Sua formação técnica em fotografia começou no projeto Querô, onde passou dois anos em intenso aprendizado. Atualmente, Madu cursa Pedagogia e atua como arte- educadora uma de suas paixões, compartilhando suas experiências em oficinas de fotografia e audiovisual.

“No ano de 2021 eu comprei minha primeira câmera, foi uma promessa que fiz a mim mesma. Meus pais super me incentivaram, e quando eu recebi os meus primeiros salários trampando com audiovisual, juntei uma grana, inclusive através das leis de incentivo, e comprei uma Canon SL3”

Madu ressalta que essa conquista só foi possível graças às leis de incentivo cultural, como a Lei Paulo Gustavo e a Lei Aldir Blanc. Embora muitas pessoas acreditem que esses editais não são acessíveis, eles também são para nós. Apesar da linguagem complexa desses processos, é preciso estar atento para não perder oportunidades.

Durante seu curso de cinema, adquiriu também um computador, que utiliza para editar suas fotos e vídeos. Quando precisa de algo mais prático, utiliza o celular, especialmente para edições rápidas no CapCut. Assim é como Madu trabalha atualmente.

Embora sua família fosse profundamente ligada à arte, com irmãos dedicados à música, cada um acabou seguindo caminhos diferentes. Quando chegou sua vez de escolher um rumo, uma discussão familiar se instaurou, pois, enquanto cursava cinema, ela já havia completado 18 anos e precisava trabalhar. A situação trouxe um dilema: abandonar o curso para trabalhar ou persistir e concluir os estudos.

Madu argumentou: “Isso vai ser bom a longo prazo; vamos pensar no futuro!”. E dentro desse contexto, especialmente para pessoas pretas, pobres e periféricas, que vivem em uma constante ansiedade de sobreviver. “Será que eu vou ter um futuro legal? Será que eu vou ter comida para comer amanhã? Será que eu vou conseguir pagar minha conta? E isso era uma preocupação da minha família.” ressalta Madu

Finalmente, quando conseguiu economizar e comprou sua câmera, o momento foi impactante. Foi um investimento alto, e seus irmãos ficaram surpresos, já que nunca tiveram um gasto tão significativo de uma só vez. A compra foi emocionante para todos.

Esse passo representou, para ela, uma quebra de estereótipos e um rompimento do padrão que muitas vezes lhe era imposto. Sua mãe, que teve cinco filhos antes dela, nunca acreditou que algum deles seguiria esse caminho, mas Madu conseguiu transformar um pouco dessa história, mostrando que é possível construir mais.

Como profissional da fotografia, Madu também enfrenta desafios contemporâneos, como a ascensão da inteligência artificial e o impacto das políticas de extrema-direita, que podem restringir o acesso a recursos e verbas culturais. Ela ainda lida com dificuldades financeiras para aquisição de equipamentos fotográficos, uma barreira comum para artistas independentes e periféricos.

Sua principal dica para quem deseja iniciar na fotografia é: “Se joga! Faz com o celular mesmo, que é nossa maior ferramenta, isso tá na nossa mão, quando você conseguir um trampo, depois você compra seu equipamento com calma, vai atrás do seu sonho, que você pode realizar.”

Nas oficinas de audiovisual que ela ministra com o celular, sempre destaca o potencial para produzir filmes, podcasts ou outros projetos criativos. Há diversas ferramentas na internet, incluindo aplicativos de edição. Embora muitos sejam pagos, as versões gratuitas também permitem bons resultados.

Essa foi a biografia de uma mulher preta, potente, multiartista, fotógrafa, arte- educadora, que encontrou na fotografia uma forma de expressar e mostrar para o mundo sua visão!

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