Entrevista: Profº. Dr. Marcelo Marcochi

Por Wagner Micali

Nossa entrevista perfil acontece no pátio da faculdade numa das mesas da lanchonete, no final do expediente noturno.Com cabelos curtos um pouco ralos e olhos castanhos mas esbanjando simpatia. Esse é o nosso entrevistado o Dr. Marcelo Marcochi. Ninguém suspeitaria que por trás de trajes de roqueiro, com uma camisa e calça jeans preta e uma tatuagem no braço esquerdo, estaria um professor de Direito Penal e Processo Penal, especialista nas duas áreas, com mestrado em Direito Penal. Um grande defensor da causa das mulheres, tanto dentro quanto fora das salas de aula.  No auge dos seus 42 anos, formado desde 2000 pela faculdade São Judas, em São Paulo, ele nos recebe com grande empatia e satisfação, para contar um pouco sobre sua história, curiosidades da profissão e um breve comentário sobre o movimento feminista.

Em breves palavras, como foi sua trajetória da infância até se formar em Direito?

Eu nasci em São Paulo. Tenho outros dois irmãos, um gêmeo e outro sete anos mais novo, que esta terminando Engenharia aqui na Esamc. Sou de família classe média alta. Sempre estudei em escolas particulares em São Paulo. Depois fiz minha graduação numa faculdade particular, prestei exame da ordem, passei no exame da ordem… imediatamente e mesmo sem pegar minha carteira da OAB, comecei a dar aula em cursos preparatórios para concurso publico, fiz uma pós-graduação em Direito Penal, depois em Direito Processual Constitucional e então o mestrado também na área Penal. Hoje eu advogo. Sempre advoguei e sempre na área Criminal. Foi a área em que me especializei e também ministro aulas de Direito Penal e Direito Processual que é a área Criminal.

Fale um pouco sobre suas principais conquistas, depois de formado até hoje.

Profissionalmente falando, com certeza absoluta o estágio em que estou na academia. O fato de eu ser professor é o que me realiza profissionalmente. E ter chegado até aqui com estudo, graduação e titulação, por conta de lutas… de batalhas com certeza absoluta. No final da faculdade, meus pais passaram por uma dificuldade bastante grande… Foi preciso que eu estudasse muito para poder conquistar tudo que conquistei até hoje.

Teve alguma frustação?

 Profissionalmente, ouso dizer que não. Eu digo para os meus alunos que o único concurso que prestei foi para Juiz Militar. Não passei por conta de 1 ponto, mas nunca me frustrei , talvez se tivesse passado, não seria hoje professor…e eu não me vejo fazendo outra coisa que não seja dando aula. Talvez se fosse juiz, seria um juiz frustrado. Considerando que hoje eu sou professor e me realizo profissionalmente sendo professor, digo se eu ganhar na megasena da virada eu vou continuar dando aula, pois não me sinto frustrado não.

Numa faixa de tempo de 5 a 10 anos, pretende realizar algum sonho?

Eu me sinto realizado, mas gostaria na verdade ter mais alunos do que eu tenho hoje. Gostaria de poder ter tempo pra dar 200 horas/aula semanais. Pessoalmente, desejo realizar sonhos como casar e ter filhos… eh pessoalmente tenho muitos sonhos…viajar…sonhos naturais de todo mundo.

Você também é bem envolvido com o movimento feminista, o que sabe desse movimento?

A primeira onda do movimento feminista surgiu na Inglaterra e na França, com a Revolução Francesa. Naquele primeiro momento, a luta das mulheres era por mais igualdades sociais nas questões política, direito de voto. Na sequência, começou o novo movimento, entre os anos 1960 e 90, por mais igualdades sociais… e a gente tem a partir dos anos 90 o que alguns chamam da 3º onda feminista, quando as mulheres lutam por igualdade especificamente, mas também por direitos relativos à violência sofrida por mulheres…Mas o movimento feminista no Brasil é mal entendido. Hoje, se tem a ideia de que o que querem as mulheres é não se depilar, por exemplo… ainda que seja um direito, ainda que integre essa questão, mas não é só isso absolutamente, é muito mais do que isso.

Você se encontra engajado em algum movimento hoje? Qual?

O meu engajamento com o movimento acredito que seja dentro da advocacia mesmo. O fato de eu procurar defender mulheres…de não defender homens agressores…eu faço essa escolha. Já defendi algumas mulheres vítimas de estupro. Nos casos em que tive que defender acusados de estupro, que foram três, eles eram efetivamente inocentes. Por isso que eu os defendi. Mas já abri mão de incontáveis casos de clientes que confessavam ser violentadores e aí eu não os defendi, independentemente do valor a ser pago. 

O que você acha da política para mulheres?

Eu acho fundamental a política para as mulheres. Acho que deve haver um engajamento dos homens. É necessário que os homens entendam o que é o feminismo, que os homens entendam o que é política para as mulheres, mas infelizmente é necessário que as mulheres também entendam, pois eu vejo muitas mulheres em rede social deturpando a questão do feminismo. Aí eu acho triste para dizer o mínimo, que homens não entendam, mas mais triste ainda é que as mulheres não se engajem.

Hoje, em vista de tantos feminicídios, qual sua opinião a respeito do assunto?

Acho que o crime praticado contra a mulher é aberrante, um dos crimes mais graves, porque a mulher, sem dúvida, está numa condição inferior ao homem, uma condição física, especificamente nesse caso de se defender, de força física. E, culturalmente, a mulher ainda está infelizmente numa condição inferior, de que as mulheres precisam ser donas de casa, precisam servir seus maridos Então, muitas vezes, as mulheres se sentem acuadas até pela sociedade para seguir em frente.

É adepto de algum partido?

Não sou adepto de nenhum partido, não sou filiado a nenhum partido até pela questão jurídica e o fato de eu dar aula. Isso está muito enraizado no meu dia a dia, eu dou 10 horas de aula todo santo dia, e tenho o cuidado de não fazer discurso político em sala de aula. O meu discurso é sempre jurídico, então eu bato em todo mundo de todos os lados e defendo todo mundo de todos os lados.

Participa de algum movimento estudantil?

Não participo de nenhum movimento estudantil por ser professor, mas, por exemplo, aqui na Esamc, o diretório acadêmico da faculdade leva o meu nome. A formação do diretório acadêmico do curso de Direito, quem participou fui eu,  que redigi o estatuto, que registrei o diretório acadêmico  no cartório e ajudei os alunos a formarem o diretório acadêmico.

O que você acha da lei Maria da Penha?

Eu acho a lei Maria da Penha fundamental. É necessário que haja reformulação em alguns pontos, mas eu acho que a lei é indispensável. É uma pena que ela exista, porque o fato da lei ser necessária demonstra que as mulheres ainda são vítimas de violência. Do contrário, não haveria necessidade de uma lei para protegê-las. Mas eu acho que a lei é fundamental, mas ela deve ser ainda mais rigorosa na questão da violência contra a mulher. Não pode nunca passar batido. Não pode ficar de lado, a gente não pode ignorar.

Se fosse político, o que faria pela causa das mulheres?

Eu brigaria muito mais do que faço em sala de aula, com os discursos, entre aspas, feministas. Eu me engajaria em propostas legislativas que pudessem beneficiar as mulheres em todos os sentidos e protegê-las de todo tipo de violência, com medidas mais graves como aumento de pena em relação à lesão corporal contra mulheres e de medidas de proteção. Torná-las mais eficazes, especialmente autorizar que os delegados pudessem determinar as medidas protetivas, o que acontece hoje é que as medidas de proteção, como o afastamento dos homens de casa e a proibição dos homens de chegar perto das mulheres, são tomadas sempre por um juiz e não é o juiz a pessoa que ouve primeiro a mulher, é o delegado. Então, minha primeira medida seria nesse sentido, de permitir que o delegado tivesse competência legal, pudesse ter autorização legal para fazer a medida protetiva. A mulher chega na delegacia, conta a história dela e o delegado imediatamente determina que o agressor saia de casa ou que não chegue nem perto. Hoje, o delegado tem que pedir para o juiz dar essa medida, e aí o juiz não toma conhecimento do fato ouvindo a mulher. Ele lê um papel com uma declaração fria. É aí que a gente vê que essas medidas não são tomadas e, mais dia menos dia, o agressor volta e acaba matando aquela mulher.