Júlio Andery como ser humano, que respira e vive a propaganda

Júlio Andery como ser humano, que respira e vive a propaganda

por Victória Ordonez

 

Ele nasceu em 1968, aos 9 conheceu a propaganda e se encantou por ela, com 15 conseguiu a primeira oportunidade de estágio em uma agência, aos 19 ganhou seu primeiro prêmio…Desde cedo entendeu que nada viria fácil como o vento, tudo teria que ser lutado, suado e conquistado com muita garra e vontade.

Julio Andery, 49 anos, pai de dois filhos, ganhador de quase de 600 prêmios ao longo de sua carreira, passou pelas mas conceituadas agências do mundo e hoje atua como diretor de arte da Almap BBDO, éreconhecido atualmente como um dos melhores do mundo na sua área.

Confesso que o frio na barriga foi inevitável quando fui entrevistá-lo, muitas perguntas e quanta admiração! Ele, calmo e dono de uma simpatia e humildade ímpar me deixou a vontade e fez com que a entrevista fluísse e eu até me esqueci do nervosismo.

V- Julio, sua relação com a propaganda foi amor à primeira vista? Qual foi o momento que você quis aprender mais sobre?

J- Lembro como se fosse hoje, eu chegando na casa do meu primo, que era gerente de marketing da Ducon, e dando de cara com as campanhas que ele tinha recebido naquele dia. Eram anúncios lindos, uns mockups, várias maquetes de pontos de vendas…eu tinha 9 anos de idade, fiquei louco quando vi aquilo, até hoje gera encantamento quando chego na agência e tem algum trabalho novo.

 V- Quando você decidiu que queria seguir essa carreira, imaginava onde poderia chegar?

J- Eu nunca pude imaginar, mesmo porque eu não tinha uma coisa de querer chegar lá, uma coisa que sempre me encantou foi o momento, o que eu estou fazendo naquela hora com aquelas pessoas. É sempre intrigante e desafiador, tão delicioso que as coisas foram num ritmo natural. Uma década, duas décadas, três décadas e um pouco mais, sempre cumprindo com excelência, querendo apresentar o melhor, estudando, buscando oportunidades, correndo atrás do que eu acreditava. 

Quando eu percebi num belo dia eu olhei e vi que tinha uma obra, quando eu fiz meu site por exemplo, me pediam pra fazer palestras, pensei em fazer o site por que é uma forma de  mostrar um pouco para todo mundo e fica ali na palma da mão de qualquer um. Eu comecei a selecionar entre alguns pen drives que tinha em casa, numa noite eu escrevi mais de 100 textos, em 2 semana eu tinha quase tudo pronto e aí produzimos o site. Só que quando o site ficou pronto eu olhei e percebi que lá não tem nem 10% do que eu já fiz. Eu fiquei impressionado, realmente faz a diferença…você olhar seus trabalhos de tantos e tantos anos. É a história de uma vida, eu nunca imaginei, mas eu sempre contei com o que há de melhor de informação, tecnologia, fornecedores, então foi uma busca incessante.

V- Eu vi que sua mãe sempre foi presente e te apoiou, você acredita que o incentivo da família faz diferença em todos os momentos?

J- A família, você ter seus pais te apoiando é muito bom. Ainda mais comigo que comecei a procurar cursos na área e emprego aos 9 anos, então eu só consegui ir atrás porque minha mãe me levava em várias escolas, cursos, ela buscava possibilidades. Então foi tudo graças a minha família, e quando eles perceberam que eu queria mesmo, eles me conseguiram um papel com um telefone onde eu liguei sem parar e consegui estágio aos 15, mas tudo isso por conta da minha vontade, minha busca. Eu só sou o profissional que sou no mercado, porque eu tenho todo o apoio da minha família, do meu irmão, meus tios, primos, meus amigos, todos eles são muito entendedores do que eu digo e muito participantes, mesmo que o tempo seja restrito.

V-  Logo que você iniciou sua carreira, várias referências e inspirações te fizeram ter mais vontade de seguir na área. Nomes como Marcelo Serpa e José Luiz Madeira, você teve a oportunidade de trabalhar com eles. Como foi pra você ?

J- Hoje eles são aposentados, mas eu lembro que eu ia nas festas e ficava olhando para o Marcelo Serpa e pensava “Nossa, olha o Marcelo Serpa..” ai quando ele olhou eu virei, no que eu virei fiquei olhando pra parede e ele me olhando e eu olhando pra parede. (risos) Eu achava o cara o máximo.  Quando eu decidi me colocar a prova, eu falei que eu ia trabalhar com o número 1 do mundo,  se não desse certo eu ia fazer outra coisa. Fiz que fiz que consegui ir pra Almap, foi bárbaro. Fui pra lá pra ficar um ano, fiquei três anos e já é a terceira vez que eu trabalho la, de tamanha a paixão e devoção.  Passamos por coisas incríveis!! Eu ganhei, além de lindas histórias de carreira, histórias maravilhosas de amigos pra vida.

V-  Você já passou por alguma situação onde teve um chefe que pegava no seu pé e te colocava pra baixo?

J-  Tive um chefe que falava que eu não tinha talento, o cara me perseguia e ficava com aquilo na cabeça. Eu sempre quero provar que sou capaz, mas é pra mim mesmo. Sempre que eu faço um trabalho, faço para superar algo que eu já fiz, para superar meu medos, minhas dificuldades…não penso em alguém, penso em mim mesmo.

V- Você acredita que as pessoas que duvidaram do seu talento e os obstáculos que você enfrentou te ajudaram a ter mais vontade de se superar e provar para as pessoas que você era capaz?

J- Eu tenho um problema de querer provar que eu sou capaz, mas é pra mim mesmo. Toda vez que eu faço um trabalho, eu faço pra superar o que eu já fiz, pra superar meus medos, minhas dificuldades. Eu não penso em alguém, eu penso em mim mesmo porque aqui eu já tenho um critério tão difícil de passar, eu passei no meu critério pessoal uma vez na vida, em 35 anos de trabalho. Então eu não me preocupo com os outros, porque eu não quero ser melhor do que ninguém, eu acho que cada um tem seu valor e é igual, não tem um melhor do que o outro.

Eu tento superar meus medos, por exemplo, eu tenho medo de altura, então eu faço paraquedismo para domar esse meu medo. Então nos meus trabalhos, eu coloco coisas que eu me desafio. Eu trabalho com a campanha de caminhões Volkswagen a oito anos, dentre elas estão três campanhas entre as dez mais premiadas do mundo, seis leões, dois prêmios Abril com o mesmo cliente, mesmo produto, mesmo conceito por oito anos. Então você fazer mais de uma vez a mesma coisa e ainda assim comover o mundo é difícil.

V- Como vem a inspiração para você?

J- Eu vivo isso, minhas ideias vem de vivências. Eu estou sempre vivendo com um radar ligado, eu não sou um profissional de dentro da agência, sou um profissional de dentro da vida, a vida me ajuda a me inspirar. Eu não fico respirando só o que publicitário faz, eu respiro o que a vida faz, o que as pessoas fazem.

 V- Teu sonho de infância era ter um jeep 76, o que mais você conseguiu conquistar com sua carreira e através da publicidade?

J- O meu sonho eu conquisto diariamente, meu sonho é desenvolver as pessoas, levar oportunidade para quem precisa. Com essa carreira eu pude liderar a campanha contra a escravidão no Brasil, só no primeiro ano foram 21 milhões de reais, o assunto cresceu na mídia mais de 900% e milhares de pessoas foram libertadas.

Pensa que uma campanha que você fizer, pode fazer aquele produto vender tanto que faça com que aquele cliente tenha que contratar mais pessoas, então isso faz com que no final do mês vai ter mais uma pessoa que receberá um salário graças a ideia genial que você teve, isso é lindo demais! A gente tem a oportunidade de ajudar as pessoas o tempo todo, é sempre positivo, desde que você tenha boa intenção e respeito.

Eu fico muito realizado e muito satisfeito de poder proporcionar conforto a quem quer que seja, eu e Dani abrimos nossa casa para receber jovens profissionais e empresários que precisam de apoio, então estamos fazendo um trabalho para uma jovem que está fazendo quentinhas, para um grupo de pagodeiros…

V- Você tem alguém que tenha servido de inspiração para você?

J- São centenas de pessoas na verdade. Por que no final das contas, eu devo tudo a mim mesmo, por que Deus me deu talento, logo esse talento não é meu, tenho que dividir ele com todo mundo. Desde cedo eu entendi isso com muita facilidade.

V- Quando surgiu a vontade de querer desenvolver as pessoas e fazer parte disso?

J- A minha vida na profissão foi sempre muito dura, os caras que eu comecei não me trataram bem, era muito chato, triste e eu prometi pra mim mesmo que se um dia eu chegasse lá eu ia tratar todo mundo com dignidade, não é porque o cara tem menos experiência que ele vale menos. Se você estende a mão, você terá a mão estendida. Minha mãe sempre me disse isso, se algo te trouxe felicidade, divida com alguém,para que mais alguém possa se beneficiar.

V- Você tenta ser, para os jovens que você acompanha hoje, o que foram para você no passado?

J- Na verdade não, eu tento ser muito mais. Eu deixo eles á vontade para trabalhar, eu já cheguei a ir ajudar a alugar um apartamento para ajudar o cara a resolver um problema e aliviar a cabeça e focar no trabalho. Eu falo para eles, nós não somos companheiros de trabalho, somos companheiros de vida, no que precisar eu entro para ajudar. Muitas vezes eles vão lá para casa jantar para conversar, espairecer as idéias, desabafar..eu estou sempre atento com as necessidades da minha equipe. Eu sempre sou um ombro amigo, falo para eles “Antes de se aborrecer, fale comigo.”

V- Você tem a Dani, sua esposa, que sempre te acompanha e que é sua parceira em tudo. Como vocês se conheceram?

J- Eu conheci a Dani à um ano e nove meses, eu me divorciei numa segunda, no sábado eu conheci a Dani. Nesse dia todos os planos para minha vida solteira foram embora, quando a conheci, não vi uma mulher, namorada ou o que fosse…eu vi nela uma grande companheira, e para mim que vivo de projetos, ela é uma super parceira. Nas palestras, ela vai comigo dirigindo enquanto eu vou decorando os textos, assuntos e materiais, ela me ajudou a organizar um espaço na minha casa para meu escritório, para minhas oficinas. Quando eu estou trabalhando a noite, ela pega uma mantinha, deita no sofá ao meu lado e fica lá comigo enquanto eu estou terminando as coisas. Então ela é uma super parceira, companheira, amiga além de uma mulher espetacular.

V- Como foi a chegada dos seus filhos para você?

J- Meu filho Julinho, veio em 2007 e chegou respirando publicidade. Por exemplo, eu levei uma campanha de Havaianas que eu fiz na agência, para mostrar para o Marcelo Serpa, e eu tinha a reunião com o Marcelo no outro dia, às 9 horas da manhã. Ai na noite anterior eu levei para cara e mostrei para meu filho, ai ele olhou e falou “Papai, muito legal. Mas, eu acho que poderia ser mais colorido.”. Ai no outro dia de manhã, eu conversando com o maravilhoso Marcelo Serpa, ele olha para a campanha, põe a mão no queixo, igual meu filho, eu não acreditei, e falou “Eu acho que poderia ser mais colorido.”. Eu caí na risada, ele me perguntou o que foi e eu disse que o pequeno oráculo já tinha cantado a bola.Então eu sempre mostro para meus filhos, por que eles tem um olhar tão doce sobre tudo, que as vezes eles dão toques super legais, no final das contas eu aprendo muito com eles.

Já minha filha Mariana, que nasceu em 2010, gosta muito de fotografar, ela vai para o computador vê o que eu estou fazendo e se interessa, dá palpite. Isso tudo é muito gracioso por que o meu trabalho não se tornou algo a parte da minha família, eles receberam de braços abertos meu trabalho, isso faz toda a diferença. Eu faço tudo isso para eles, por eles mas eles fazem parte disso tudo. Se você olhar no meu site, vai ver que tem os brinquedos lá, tem uma série de coisas que eu faço com eles, justamente para envolvê-los e despertar como família esse amor pelo trabalho, pelo ofício, essa paixão por querer fazer melhor.  Eu não sou o pai que compra a ausência com uma coisa, eu dou um jeito. Acordo às 5 horas da manhã, arrumo minha agenda até as 6h, vou levá-los a escola, justamente para vê-los todo dia, para dividir com eles tudo que está acontecendo de novo na vida da gente.

V- Quem é Julio Andery para você?

J- A única coisa que eu desejo é brincar junto, eu gosto disso.  Eu gosto de ajudar a fazer a diferença, a resolver os problemas, gosto de cumprir desafios, levar a solução que deixará meus clientes felizes verdadeiramente, não gosto que aprovem meus trabalhos, gosto que os caras tenham uma sensação muito boa, e que aquilo faça a diferença na vida deles. Para mim o projeto só tem êxito, quando todas as áreas estão dando o seu melhor e fazendo algo que ela se orgulhe.

V- O que é família para você?

J- É a base de tudo, o começo de tudo, o final de tudo. É o ar que eu respiro, eu quero ser melhor para mim e para minha família, quero ser um excelente profissional para minha agência, minha equipe e para minha família, no final das contas tudo tem minha família no meio, tudo tem minha família participando, é muito forte o meu vínculo com eles. Eu faço tudo isso por eles, para eles mas também eles são parte disso tudo.

V- O que define o companheirismo para você?

J- Eu acho que ele passa pelo “tamô junto”. No final das contas, a gente sempre precisa de apoio, uma vez eu li que um sonho que se sonha a dois vira uma verdade. A gente precisa de um amigo para brincar na nossa vida, eu tenho meus amigos paraquedistas, tenho meus amigos mecânicos, fotógrafos…vários guetos que eu frequento. E foram esses caras que salvaram minha vida, estavam junto comigo, quando eu precisei de um baita fotógrafo, eles estão junto comigo, eu não tinha dinheiro, nome e eles estavam lá.

V- O que é Deus para você Julio?

J- Imagina que te colocaram numa tinta, essa tinta chama Deus. Tira e deixa secar, então sou eu. Deus é tudo, é a fé, ser humano, a natureza, a criatividade, o amor ao próximo. Essa é a minha doutrina, tudo que a gente faz é o talento que Deus deu, então não só nos pertence. Fazer o bem é uma obrigação, eu procuro usar todas as ferramentas que eu posso para fazer o bem, se eu posso é uma palestra, eu dou a palestra…se eu posso é um trabalho, é o trabalho, se eu posso é um cheque, eu dou um cheque. O que eu posso fazer na hora, eu vou fazer.

Com muita gentileza, este grande profissional e ser humano simples termina a entrevista falando: “Procure sempre fazer algo inspirador nas pessoas. Não é porque você é um grande profissional que você não pode tratar as pessoas bem.