Ellora Haonne: Influenciadora da vida Real

Ellora Haonne: Influenciadora da vida Real

por Joyce Fernanda

 

Dou os conselhos que ainda não recebi.

A ideia de fazer o perfil sobre a Ellora, me surgiu quando estava assistindo alguns stories em se Instagram, onde ela falava de como estava se sentindo nesses últimos tempos. “Ultimamente meu coração tem ficado acelerado por nada, quando estou fazendo alguma coisa e lembro que tenho mais um monte de outras coisas para fazer, ou que deveria está fazendo outra coisa…”. E fez uma reflexão sobre se sentir assim. Mais tarde ela agradeceu aos seus seguidores por estarem ao “lado” dela, pois eles a ajudavam muito.

A estudante de arquitetura e youtuber Ellora Haonne se alto intitula como “o deboismo em pessoa”, dona de uma cabeleira ruiva – artificial -, e um sorriso gigante, a garota de 20 anos, encontrou na expressão deboismo – criada na internet para pessoas que vivem sempre de bem com a vida -, uma palavra que expressasse o seu jeito feliz de ser. Atualmente ela mora em São Paulo, que era o seu grande sonho, mas é com nítida emoção que fala da cidade da Baixada Santista Mongaguá, onde viveu durante 9 anos e adquiriu o habito que mantém até hoje de andar descalça. “Vira e mexe eu vou na padaria descalça, e uma “tia” oferece um chinelo, pergunta se eu perdi, se tô com dinheiro para compra” – diz ela rindo. A mudança de cidade se fez necessária também por ter passado no vestibular, para o Centro Universitário Belas Artes. Quando se mudou e até o início de 2017 dormia na sala do seu apartamento, só para todos os dias ao acordar, se deparar com a vista e o sol nascendo, da sua ampla janela sem cortinas.

Nas redes sociais ela conta com um numero grande de seguidores, que a acompanham diária no Instagram onde compartilha seu dia-dia através de fotos e vídeos, disponíveis por 24 hora para, 178 mil, no Twitter com 280 caracteres compartilha, fotos e frases dos momentos do dia que não vão para o Instagram para, 34,3 mil seguidores e Facebook onde divulga seus vídeos para,  178,989 mil e segunda e quinta-feira às 20h. no YouTube onde posta vídeos sobre suas experiências que vão de da fase onde tinha transtornos alimentares e de como aceitou o seu corpo, o vídeo possui 326,465 visualizações, até coisa sobre as quais seus seguidores querem saber sua opinião – ou não no caso do vídeo intitulado “Caguei no primeiro Encontro”, que possui 81,084 mil visualizações. No canal ela tem 340,822 mil seguidores.

“Pagando os boleto”

Ela faz questão de frisar a independência que tem hoje e também o quando falta para ela se 100% independente. Sua principal fonte de renda é o canal no YouTube que hoje é a fonte de renda de muitos jovens no mundo todo, a visibilidade que tem em seu canal e o fato ser considerada uma influenciadora digital faz com que ela receba propostas para outros trabalhos, produtos e convites para participar de eventos, como o festival Popload que ela participou a convite da cerveja Heineken. Ela foi a primeira a sair de casa e consegui se sustentar, mesmo que em partes, seu pai ainda paga algumas de suas contas. Em seu canal, há alguns vídeos onde ela entra nessa questão de pagar os próprios boletos e deixa claro que ser independente está muito além do que pagar as contas. Ela diz que sair de casa e morar um pouco longe da família a fez crescer já que tudo dependia dela. Se ela não fizesse comida ia ficar com fome e coisas desse tipo.

Superei a bulimia

Desde o início de 2015 ela entrou em um processo de superar a bulimia, para ela o processo de aceitação é um exercício diário. Ellora tinha pavor de se olhar no espelho, mesmo que de relance e exatamente esse medo, virou um de seus exercício para se aceitar, se olhar completamente nua no espelho, respirar fundo para ter certeza que aquele é o corpo que ela tem, sem contrair a barriga ou fazer poses que esconda. “Não acho as minhas dobrinhas bonitas, mas me acho bonita mesmo com as minhas dobrinhas”. Ellora diz que faz mal está perto de pessoas que ficam colocando defeitos no próprio corpo, e que tem uma preocupação excessiva em estar sempre bonita. “Esse comportamento não me faz bem”. Deixou de seguir algumas meninas que são magras e tem o corpo considerado perfeito, ver as fotos dessas meninas fazia com que ela ficasse comparando seu corpo com o delas e por medo de voltar a ter transtornos alimentares, ela decidiu que o melhor seria parar de acompanha-las. Ainda diz que consumir conteúdo de pessoas que tenham o corpo mais parecido com o seu, pode te ajudar a se ver de uma forma diferente.

Mesmo gostando de morar na praia isso a fazia mal, pois ficar vendo o corpo “perfeito” de várias pessoas fazia sua bulimia piorar. Ela ainda diz que nesse mundo capitalista que vivemos magreza vende muito, coisas para fazer com que as pessoas percam peso são muito populares, e infelizmente algumas pessoas não lidam muito bem com isso. “Eu tinha muito medo de parecer fútil por querer ser bonita, mas ser bonita é a coisa mais maravilhosa do mundo […], ser bonita tem a ver com o que você sente, como você se enxerga […]”. Quando parou de tentar ser tudo o que ela achava que deviria ser, começou a se sentir muito melhor e como prova é muito comum ver todos dela em suas redes sociais usando lingeries de sua coleção, lançada com a marca Let It Be Intimate, na frente do espelho ou ate sentada mostrando a “pancinha” como ela mesmo se refere a sua barriga.

Feminismo

Ellora é feminista e já falou varias vezes sobre temas ligados ao assunto, em uma vídeo, conta como percebe que a sexualidade da mulher, está ligada ao feminismo e mesmo sem querer, mulheres militantes tende a ser sensuais para mostrar, que podem fazer isso simplesmente por que querem. Ser sensual por escolha própria é muito importante para ela já que vemos em muitos anúncios a sensualidade da mulher como forma de chamar a atenção do publico alvo do produto, que geralmente é o masculino. Ela diz que dança funk sem se importar com as letras que fazem apologia ao estupro, diz que quando está em um lugar para se diverti o que diz a letra do funk se torna irrelevante, e completa. “Qual que é o limite entre militar e se diverti?”.

“Sou feminista, mas não tenho autonomia para descontruir o meu pai” – falaremos mais sobre a seguir. – Ela diz que quando escuta o pai falar algo machista só dá risada e finge que nada aconteceu, e ainda diz que prefere vestir uma burca e fingir que está tudo bem quando vai vê-lo, para não perder os poucos momentos que tem com ele por causa de suas ideologias, e completa que sabe que se entrar nessa briga com o pai os dois irão se magoar e ficar sem se ver novamente, ficar sem ver ele não vale mais a pena, completa ela. “Militar é uma das coisas mais importantes, que a gente tem que fazer, não abaixar a cabeça, mas isso não vale a minha saúde mental e emociona […]”. Ele não está afim de intender, ele quer estar certo”.

“É melhor ligar a minha câmera e falar com quem está interessado”.

Relacionamentos

Ela deixa claro que é simpatizante do poliamor ou amor livre, e amor monogâmico pode até funcionar para algumas pessoas, mas para ela não tá com nada. Defende que se em um relacionamento você está fazendo algo pelo simples motivo de querer, e não pôr está sendo obrigada, está tudo bem, e de forma simples ela passa a opinião dela para as pessoas sem forçar, no estilo “eu faço isso e se você quiser, pode fazer também”.

Em seu canal já fez vídeos sobre os relacionamentos ruins que teve em um vídeo com o título “Tipos de boy: Eu gosto dos estranhos” e com um subtítulo mais popular, “Dedo Podre”, ao lado de sua amiga conta de forma descontraída e leve sobre as pessoas com quem ela já teve algum envolvimento, ou sentiu interesse.  Em outro ela fala sobre sua recente descoberta de que é bissexual, situação com a qual ela ainda se sente um pouco sem jeito, mas está aprendendo a lidar.

“Eu tô mal e tá tudo bem”

Em seu canal ela gosta de desabafar, talvez seja só para ter mais likes, mas ela não tem medo de falar dos seus defeitos e mostra suas imperfeições. Já fez vídeo com maquiagem, sem maquiagem, descabelada e chorando. Quando esta em dias ruins, faz questão de viver o momento e depois contar no canal ou até mesmo em seus stories, como ela fez quando estava com o coração acelerado, por motivos que não entendia.

No vídeo intitulado “Eu tô mal e tá tudo bem”, ela conta sobre os dias em que estava se sentindo apática, disse que tinha medo de perder a sua essência “good vibe” de quando ela tinha 16 anos e agradecia o universo. Ela ainda conta como as coisas estavam insuficientes naqueles dias, mesmo sendo algo que ela queria e/ou esperava que acontecesse e como ela estava triste com a pessoas que ela estava sendo. No vídeo ela cita como exemplo, ter recebido uma proposta de uma empresa, que geralmente a faz pular de alegria, mas naquele momento o seu único pensamento, foi o de que o valor do contrato, poderia ser maior.

“Eu queria informar vocês tudo isso, sinto que vocês são muito meus amigos, eu sinto que vocês conseguem entender isso”. Ela fala ao justificar o motivo de está gravando aquele vídeo, que pode ser considerado baixo astral. Tanto por como ela está fisicamente, como pela música de fundo. Geralmente ela grava de pé com suas luzes de gravação acesas, ou sentada de costas para sua mesa de trabalho. Nesse vídeo em especial ela esta sentada no sofá com uma coberta. Ellora Haonne ainda diz que tem muita dificuldade de se expressar com alguém, e então prefere falar sozinha, com uma câmera. “[…]. Tudo bem tá mal, eu sei que as coisas vão se ajeitar elas sempre se ajeitam.”

Relação com a família

Ellora tem dois irmãos mais velhos Cayque e Athamy, os quais ela fala constantemente, principalmente de Athamy que é mais próximo dela e sempre a visita em seu apartamento.

Os pais da Ellora se separaram quando ela tinha 16 anos, e apesar de ser nova, diz que tentou lidar com a situação, da melhor forma possível. “Eu queria muito que meus pais se divorciassem, porque era muito desgastante viver com os dois, era ódio gratuito o tempo todo”. Ainda diz que era nítido que não tinham mais amor na relação dos dois. Mesmo não querendo ver a família separada, ela conversou com a mãe, pois aquela convivência estava difícil para ela também, afinal ela não queria ver os pais se destruindo e diz que os dois mereciam recomeçar.

“Quando meu pai foi embora de casa, eu estava triste e apreensiva, não tinha a menor ideia do que ia acontecer, de como ia ser dali para a frente, mas eu fiquei aliviada, era como se todas aquelas brigas que eu e meus irmãos ouvimos fosse sumir. Para mim aquilo parecia uma boa”.

Todas as questões que uma separação carrega, Ellora transformou em uma coisa positiva, pois os pais teriam a chance de recomeçar suas vidas e viver novas possibilidades. Os irmãos ficaram muito triste, eles não queriam ver a família terminando assim, mas ela diz que quem tinha que querer alguma coisa, eram os pais. Para mostrar que a questão esta bem resolvida em sua vida, Ellora fez um vídeo em seu canal, falando para seus seguidores que estão na mesma situação, dando conselhos do que eles poderiam fazer, para ajudar os pais nessa fase. No vídeo ela diz “[…]. Tenta conversar com eles nem que seja separadamente, isso vai significar muito para eles […]”.

“Se o divórcio não tivesse acontecido acho que eu seria uma pessoa bem diferente agora, talvez esse canal não existiria, nem essa casa. O meu discurso então estaria longe de nascer, mas eu sou grata a tudo isso […]”. Ela diz no vídeo.

Pais Conservadores 

Enquanto morava com os pais, Ellora tinha que lidar com o conservadorismos de ambos dos pais. A mãe uma mulher ligada à igreja e o pai um homem criado com a ideia de “família tradicional brasileira”. Para ela era mais fácil lidar com a mãe que se mostrava mais flexível, com ela e suas escolhas, mesmo acreditando e priorizando as relações monogâmicas, por conta da igreja, mas nunca invalidou as escolhas da filha. “Minha mãe fala que não intende, mas respeita minhas escolhas”. Conforme foi conversando com a mãe ela conta que provocou mudanças que foram fazendo a mãe se descontruir de alguns pensamento que a sociedade impõe como sento a única e absoluta verdade, mas essa desconstrução da mãe só foi possível por ela esta de cabeça aberta e quere aprender sobre o mundo da filha. “Ela fica super de boa, quando digo que amo uma pessoa, mas vou beijar outra. Ela só diz ‘Vai lá faz o que você quiser, se você tá bem, tá tudo bem’”. Quando foi explicar o mundo LGBT, ela se mostrou igualmente receptiva, “[…] Ela via humanidade naquilo tudo, meu pai não”.

Com o pai as coisas foram e são bem mais diferentes. Com uma postura conservadora ligada a criação e do conceito de “família tradicional”, quando mais nova ela tinha dificuldade de intender o comportamento dele, mas hoje ela mostra que entende os valores que o pai carrega. “Eu sempre fui a ovelha negra da família e meu pai sofria demais comigo”. Enquanto via os irmãos mais velhos, que podiam fazer praticamente tudo o que ela não podia, simplesmente por serem homens, o pai incentivando os meninos a ficarem com varias garotas, levá-las para casa, ela não podia nem pensar em beijar na boca, que Ellora e o pai brigavam. “Era uma relação muito difícil”. O pai não para por aí nas coisas que os filhos poderiam fazer, mas a filha não, nota baixa, na escola advertências, sair sozinha. “Se eu fosse sair para algum lugar, e ele não poderia me levar, meu irmão tinha que ir e ficar comigo o tempo todo, para garanti que eu não fosse fazer nada de errado”. Ellora lamenta que o pai tenha perdido muitas coisas que ela viveu, pelo simples medo dela de contar para ele e de como seria sua reação. “Até hoje eu tenho esse medo, de como ele vai reagir a certas coisas”. “Nem cama de casa eu podia ter. Enquanto todo mundo na minha casa tinha cama de casal eu tinha que ficar com a de solteiro”. Lembra ela em um de seus vídeos. “Mesmo agora que moro sozinha e falei para ele que tinha arrumado uma, ele ficou indignado e me perguntou o que eu ia fazer com ela e se eu estava louca”.

Ela diz que um dos maiores medo do pai é que ela vire lésbica, já até perguntou se ela era ‘sapatão’. O pai não sabe da bissexualidade da filha, pelo menos ela disse que não falou para ele, mas ele já assistiu a seus vídeos e disse que não achava certo ela falar sobre alguns assuntos, e pediu educadamente para que ela repensasse um deles, que falava sobre masturbação feminina. Como mulher morando com seu pai conservador, ela diz que não tinha liberdade nenhuma, nem mesmo quando ia se vestir tinha, ela disse tinha que pensar o que o pai ia falar de suas roupas. “Todo dia ele falava mal das minhas roupas”.

Ellora finaliza dizendo que essa geração tem muita sorte de estar inserido em um contexto, onde se encontra muito apoio na internet, que apesar de ser um ambiente muito aberto a hostilidade, por permitir comentários sem ser necessário identificação, ainda se encontra muito apoio. “Me pergunto quantas mulheres, não teriam sido violentadas, se soubessem disso desde pequenas ou quantos homossexuais, não teriam se assumido mais cedo se tivessem esse apoio que a gente tem”. E lamenta que a geração dos pais dela não tiveram essa força e o entendimento que temos hoje sobre sexualidade e violência doméstica.

“Vivemos em níveis diferente de consumo de informação, o que o seus pais estão sabendo agora você já sabia a muito tempo”.

Este não é o fim

Diariamente ela expõe a si mesmas e a quem esta ao seu lado nas redes sociais, essas pessoas acabam tendo que lidar com essa exposição também, mesmo que seja pouca. Mas sua vida na internet vai além de se expor, com seus vídeos e os assuntos que aborda neles, ela acaba por ajudar alguns jovens que estão em determinadas situações, os seguidores encontram nela palavras de conforto. Basta ler os comentários feitos em seus vídeos que logo percebe-se que Ellora faz bem para muita gente.

“Julia Souza – ESSE VÍDEO NÃO PODERIA TER SAÍDO EM MELHOR HORA. Meus pais se separaram, inclusive minha mãe saiu de casa hoje, mas eu sei que foi o melhor também. Obrigada pelas palavras ❤” – (comentário retirado do seu vídeo sobre divórcio)

“Thamires Cruz – Esse vídeo veio no dia certo, na hora certa. Meus pais se separaram há um ano, e desde que isso aconteceu minha vida virou um inferno. Eu tenho 15 anos e tenho um irmão de 5, eu só penso na felicidade dele e fico muito triste em saber, que ele não vai viver nem metade dos maravilhosos momentos que vivi. Para piorar meu pai começou a namorar e eu não consigo aceitar isso de jeito nenhum! Foi tudo muito rápido, meu pai saiu de casa de um dia para o outro, nunca entendi isso direito […]”. (comentário retirado do vídeo sobre divórcio).

           

Com seu jeito humano e verdadeiro ela encontrou uma forma de ajudar o próximo, um próximo que ela nem conhece e para alguns é só um número. Por que eu escrevi sobre ela? Porque eu sou o próximo que ela não conhece.