“Você não precisa puxar o tapete de ninguém para crescer?

Por Jaqueline Nunes/AES
 
 
Quando a comunicação digital ainda não fazia brilhar os olhos dos jornalistas em 2008, ele entendeu que ali estava a oportunidade de abrir caminhos e inovar na Baixada Santista. Alexandre Lopes, 34 anos, quase 15 dedicados à profissão, iniciados como estagiário e, depois, como um dos responsáveis pelo antigo TVTribuna.com. Tornou-se repórter e galgou outros cargos como produtor, coordenador web, gerente web e editor-chefe, recriando a área digital do Grupo Tribuna e implantando o G1 Santos. Hoje, é diretor de conteúdo do grupo e apresentador do G1 em 1 minuto. 
De jeito simples, voz firme e eloquente, ele conta de maneira leve sobre o trabalho, rotina, família, viagens, e além disso, compartilha alguns exemplos para quem deseja se destacar no jornalismo. Confira a entrevista a seguir:
Você já sonhava em fazer jornalismo? Como foi o seu processo de escolha do curso? 
“Eu não sonhava em fazer jornalismo, eu quis fazer muitas coisas na minha vida. Quando era mais novo pensava em fazer medicina, queria ajudar as pessoas, mas não tive oportunidade. Meu grande sonho na verdade era fazer astronomia. Uma vez na escola, no terceiro ano do ensino médio no Liceu Santista, a gente fez uma apresentação, que era de final da disciplina. Cada um tinha que falar sobre um tema e eu fiz sobre conflitos árabes e israelenses, e a professora de história, chamada Idalina, falou que eu me comunicava muito bem e tinha que fazer alguma coisa voltada para comunicação. Daí eu pensei ‘ah, vamos ver o que é jornalismo, vamo fazer’. Mas eu vi que jornalismo pagava mal, trabalhava muito, não tinha oportunidade de emprego… ‘o que é que eu tô fazendo da minha vida, vou ter que me dedicar pra caramba’. Mas foi por causa dessa professora de história que eu decidi fazer jornalismo. Acho que até hoje, pelo menos, ela tinha razão (risos).”
Você comentou do seu sonho de fazer astronomia. Você conseguiu estudar e escrever sobre isso? 
“Sim, eu estudei depois, fui me especializar em astronomia e fiz curso. As minhas primeiras matérias dentro do Grupo foram sobre astronomia. Quando eu entrei aqui em 2007, no jornal, na época em que eu fui estagiário, tinha um cara chamado Marcos Fernandes, que era o editor do caderno de Ciência. Ele viu que eu era apaixonado por ciência e me deu a oportunidade de escrever para o Jornal A Tribuna, no caderno dele e, nenhum estagiário escrevia matéria e as minhas eram assinadas. Já entrevistei uma pessoa da Nasa, uma brasileira que trabalhava lá e fiz uma matéria muito legal sobre Supernova, que são estrelas gigantescas”.
Continua escrevendo sobre isso? 
“Hoje eu não escrevo mais, até porque eu não tenho tempo, mas astronomia é a paixão da minha vida. Eu amo jornalismo, mas todo mundo tem uma paixão e essa é a minha. A última viagem que eu fiz antes da pandemia foi pra Rússia, e eu fui na Agência Espacial Russa, consegui uma autorização para entrar lá, expliquei que eu sou apaixonado. Já fui para os Estados Unidos e conheci a Nasa”. 
Além dessas viagens que você comentou, quais outras você já fez a trabalho ou a passeio? 
“Já tive a oportunidade, graças a Deus, de conhecer muitos lugares do mundo. Já fui pra mais de 40 países, muitos por causa do trabalho, outros de férias, passeando. Uma das maiores paixões da minha vida é viajar, conhecer o mundo e culturas novas.Quando eu viajo, em geral, vou para lugares meio ‘bizarros’ que ninguém vai, por exemplo, eu já fui para Bósnia, para Rússia e pro Polo Norte. Em 2010, o Edu, Eduardo Silva – que era o antigo diretor de jornalismo da TV Tribuna – me mandou para África do Sul quando eu tinha 21, 22 anos, para cobrir a Copa do Mundo da seleção brasileira lá, e foi muita sorte, era uma outra jornalista que estava escalada para ir e ela não ia mais, então ele precisava de alguém que soubesse editar, daí ele chegou pra mim: ‘oh, moleque, quer ir pra África?’ e eu ‘claro, já tô lá, já’ (risos)”.
E falando de trabalho, como foi a sua entrada no Grupo Tribuna? 
“Eu fiz o processo seletivo de fato no jornal para entrar no Grupo. Era uma prova e entrevista. Fiquei lá [no jornal] até o fim de 2007, e o Edu me chamou. Não tinham como contratar, eu estava no terceiro ano quando fiz estágio. Alguém no qual eu não lembro, me indicou pro Edu que conversou comigo e a gente se deu bem. Ele foi me dando oportunidades até que ele me chamou e falou ‘olha, tem um site aqui não sei se você vai gostar’ e eu falei ‘quero, lógico que quero’. Em setembro de 2008, antes de me formar ele me contratou e as coisas aconteceram”.
Como foi a implantação do G1 e GE Santos? A ideia foi sua ou em conjunto? 
“Na verdade, esse é um projeto da Globo, das afiliadas, mas é uma demanda muito grande. Eu e o Sérgio Tavares, que é do Paraná, da RPC, pensávamos ‘por que que tem as afiliadas de TV e não tem no digital?’. A Globo tem uma força tão grande, nós somos 400, 500 ou mais jornalistas só de digital espalhados nas afiliadas e não tinha uma conversa sobre isso. E aí veio essa ideia, começaram a implantar, se não me engano em 2011. E aqui em Santos foi em maio de 2012 que eu implantei aqui. O G1 Santos veio junto com o GE (Globo Esporte.com) e desde 2015, o G1 Santos é considerado o melhor G1 do país, o que tem a maior audiência e isso pra mim é o meu maior orgulho”.
Você já trabalhou em outro lugar antes? 
“Já, mas foi pouco tempo. Entre o segundo e o terceiro ano de faculdade, eu fiz um negócio que era das prefeituras, que pegam geralmente os alunos por média das notas no semestre, e assim, eu fui chamado para ser estagiário da comunicação em São Vicente. Fui alocado na TV Primeira que e fiquei por três meses. Em seguida, já fui puxado para Tribuna. Eu fui chamado, na verdade, pro site do jornal impresso, que era A Tribuna online que existe até hoje. 
Você já se imaginou um dia contratando pessoas?  
“Nunca quis isso, nunca quis o cargo em que eu estou hoje, nunca almejei isso, mas sou ambicioso. Quando comecei a crescer na empresa eu sonhava em um dia o Roberto Santini, o Marco, a família Santini, pudessem identificar o meu trabalho no G1 da Tribuna e criarem o cargo de diretor de internet, que não existia. Então eu sempre pensei em um dia conseguir isso, que era o que eu fazia.Sempre falo pra todo mundo, todos os cargos que eu ocupei aqui, eu nunca precisei puxar tapete de ninguém. Eu ocupei cargos que não existiam, eles foram sendo criados para mim, nunca precisei querer por exemplo o lugar do Edu. Eu não estou no lugar do Edu. Não existia o cargo diretor de conteúdo, nem de gerente de jornalismo web, nem supervisor web. Eu fui criando o caminho e isso é muito legal porque é uma prova de que você não precisa puxar tapete de ninguém pra crescer na profissão”. 
Como é o Alexandre fora do trabalho?  
“Eu assumi o jornal impresso, a TV, o G1, o Globo Esporte, Gshow, rádio, redes sociais, então geralmente, eu tenho entrado aqui 7h da manhã, saio 8, 9 da noite, chego em casa, tomo um banho e durmo. Mais ou menos isso, mas são períodos porque a gente está colocando a casa em ordem, tem muita coisa a ser feita, a empresa está se transformando. Fora do trabalho, em geral eu sou muito brincalhão, gosto de estar com meus amigos, super fã de música sertaneja, adoro Zezé Di Camargo (risos). Gosto muito de jogar meu videogame, de jogar bola, enfim, gosto de show, sempre que tem show gosto de ir, e gosto de viajar”.
Você tem um lema de vida? 
“Acho que o lema é você fazer o que você gosta, ser feliz e o principal, que é meu maior mantra, é dormir com a consciência tranquila de que eu fiz o melhor naquele dia”.
E seus pais, sua família, eles influenciaram na tua escolha em relação ao jornalismo? 
“Não. Quando eu falei que ia fazer jornalismo todos acharam legal, ninguém questionou. Meu irmão mais velho fazia publicidade na época, entaão ele já era da comunicação, mas não teve nenhuma influência. Eles sempre ficaram orgulhosos com minhas conquistas. Minha mãe já faleceu há mais ou menos seis anos. E minha família é muito pequena. De sangue, vivos, sou eu, meu irmão e meu pai, só. Não tenho tio, nem primo porque meu pai e minha mãe eram filhos únicos”.
Você já pensou em desistir de ser jornalista? 
Não, nunca, eu gosto de ser jornalista e gosto mais ainda hoje que eu posso ajudar muita gente. Quando a gente tem uma redação dedicada, eu posso chegar e falar ‘gente, tem uma pessoa que está precisando de uma doação de sangue’, ‘uma rua tá com buraco’ ou ‘uma criança precisa de remédio’, eu consigo unir os principais veículos da região em prol de uma boa causa. E o contrário também é verdadeiro, claro, que nem o prefeito de Guarujá, que foi preso e os veículos foram em cima. Mas o maior prazer é poder ajudar os outros. Desistir nunca passou pela minha cabeça, não sou um cara que desiste fácil das coisas”.
O que você diria pra quem está chegando agora ao mercado e quer crescer no jornalismo? 
“Sempre me falam ‘ah, você deu sorte, você entrou na hora certa’. Eu não estou aqui para ficar dando os temperos mágicos pra ninguém, mas é muito fácil: ache uma coisa que ninguém está fazendo. Vou te dar um exemplo: nós não temos aqui na redação hoje nenhum especialista em SEO que é questão de otimização de conteúdo do Google. Eu já falei para um monte de gente, ‘olha, vai por esse caminho’, mas daí não adianta se especializar você tem que mostrar resultado. O dia que aparecer aqui um especialista em SEO esse cara vai crescer de uma forma meteórica, porque não dá para chegar aqui, produzir uma pauta e basta. Não dá. Você tem que ir por um caminho que ninguém faz e eu fui pelo caminho do digital que ninguém queria fazer na época. ‘Ah, sitezinho, ah eu quero aparecer na TV’. Em 2008, todo mundo achava que era TV. O Edu chegou para mim e perguntou se eu queria ir para TV mas eu não queria, porque eu já tinha aquela visão, ninguém fazia aquilo. O espaço é meu, então eu vou implantar o que tiver de ser implantado, e desde então, eu fui começando a dar resultado. Vou te dar um outro exemplo: hoje o jornalismo não pode se separar de linguagem de programação. O dia que aparecer uma pessoa aqui pra mim um jornalista, que tenha um bom texto e eu saiba R e Python, que são duas linguagens de programação, eu vou dar um abraço nessa pessoa, e já por um puxadinho na minha sala (risos). Porque é isso, qualquer um pode crescer, mas você tem que saber o que você pode fazer de diferente que os outros não fazem”. 
Se você pudesse voltar no tempo, hoje, e pudesse conversar com o Alexandre do primeiro semestre da faculdade, o que você diria pra ele? 
“Seja quem você é. Não me arrependo de nada”.