Perfil Fotógrafos | Fernanda Novaes

| Perfil Biográfico Fotógrafos | Fernanda Novaes
| Por Luis Miguel Lima | 3FM1 FTI 2023 – 2
| 10730 caracteres

Fernanda Novaes é fotógrafa, youtuber, produtora audiovisual e leciona sobre cinema, criação e estruturação de roteiro, na plataforma AvMakers. Atualmente reside em Santa Catarina e um de seus trabalhos mais recentes foi como diretora de fotografia na produção do curta-metragem nacional “A Pedra que Cresce” (2022), dirigido e roteirizado pelo cineasta carioca Matheus Benites.

Luis Miguel Lima – Hoje, como você descreveria Fernanda Novaes?

Fernanda Novaes – “Profissionalmente, me descreveria como produtora de audiovisual. No sentido em que a produção envolve desde o momento da idealização de um projeto até a fase de pós-produção. Muitos descrevem isso como ‘videomaker’. Gosto desse termo e usaria tranquilamente também, porém, acredito que a produção de audiovisual vai além de apenas filmar para um certo cliente, pois é também pensar no projeto desde a sua concepção, sendo parte da idealização da coisa em si.”

LM – Como e quando surgiu o seu interesse por fotografia?

FN – “Eu sempre respondo essa pergunta dizendo que eu nasci quando a internet nasceu. Faço parte da geração que nasceu e cresceu na era digital, na era das imagens. Cresci vendo imagens em todo canto. A beleza das imagens profissionais sempre me chamou a atenção. Fiquei fascinada desde muito nova por imagens. Hoje percebo que eu, por uma inclinação natural (pois não sei explicar o porquê), sou ligada à estética das coisas ao meu redor. Me emociono sempre que vejo algo belo ou sublime. A fotografia, quando excepcional, como as fotografias de Sebastião Salgado, por exemplo, consegue me transportar para aquele momento, ou se não, me inspirar, ampliar minha visão sobre o mundo. Por volta dos 11 anos de idade eu pedi minha primeira câmera para os meus pais. Desde lá eu nunca parei.”

LM – Qual foi sua rede de apoio para ingressar nessa área?

FN – “Por mais receosos que fossem meus pais sempre estiveram do meu lado. Muitos amigos, na época, já sentiam essa inclinação também. Nunca ninguém colocou barreiras emocionais ou psicológicas, na verdade sempre recebi muito carinho e apoio de todas as pessoas que cruzaram meu caminho nessa jornada da fotografia e cinema.”

LM – Como foi o percurso até encontrar seu nicho de atuação?

FN – “Eu sempre soube que queria fazer algo relacionado a mídia, seja cinema ou vídeo. Com uma câmera fuleira, semi-profissional, bem básica, abri um blog de moda e entretenimento e fui atrás de lojas da minha cidade para tentar parcerias. Nessa época eu tinha em torno de 15 /16 anos. Cheguei a aparecer no site da Capricho como ‘It Girl’. Eu queria continuar com aquilo, ser uma espécie de blogueira na época, porém… Mais tarde, como eu morava em cidade pequena, longe de qualquer possibilidade de cursar uma área do tipo, acabei fazendo quase um período de Engenharia Civil (por pressão). É até engraçado quando conto isso para as pessoas, pois parece não ter nenhuma relação comigo. E realmente não tem, apesar de eu admirar essa profissão. A ideia era ‘fazer engenharia para construir meu próprio cinema’. Mas não consegui durar muito tempo. Quase entrei em depressão. Vivia triste e tentava me enganar todos os dias. Tentei mesmo continuar, mas não rolou. Preferi sair da faculdade de engenharia e trabalhar numa loja de sapatos para ganhar dinheiro de forma independente (nessa época eu tinha entre 17 e 18 anos) e comprar uma câmera ou fazer o curso que eu realmente quisesse.”

LM – Por quais nichos já passou?

FN – “Apesar de ter trabalhado em uma loja de sapatos como vendedora, eu nem conto como um ‘nicho’, pois também fiquei pouco na loja, pois logo consegui ir para Poços de Caldas e começar a faculdade de Publicidade — que não era exatamente o que eu queria, porém na grade curricular continha matérias de Fotografia e Cinema, então acabei me interessando por isso. Na época da faculdade eu cheguei a fazer estágio em agência como Social Media, mas nunca gostei realmente disso. Fazia pelo dinheiro. Em uma prova de monitoria da própria faculdade, acabei passando na segunda vez que fiz e fui Monitora de Fotografia por um semestre. Nessa época todos já sabiam da minha paixão por cinema e fotografia, pois no primeiro dia de aula eu já tinha comentado isso com todo mundo. Foi nessa época também que eu criei meu canal no YouTube para falar de cinema.”

LM – Segundo o seu processo de construção de autoridade e posicionamento no mercado, quais decisões poderiam ser aplicadas por aqueles que pretendem sair do amadorismo?

FN – “Primeiro: Insistência e Constância. Essas duas atitudes devem andar juntas. É preciso insistir para mostrar o seu interesse pelo trabalho, projeto, seja o que for, e é preciso manter a constância para melhorar a cada trabalho e experiência que tiver. Parece óbvio, mas são essas duas atitudes que mais faltam nas pessoas no geral. Por um simples ‘não’, críticas negativas, resultados não excelentes, as pessoas começam a desanimar e pensar que talvez isso não seja para elas.  Foi por insistir muito, ou seja, mostrar a todo momento que eu gostava de fotografia que as pessoas naturalmente me associavam com isso e pensavam em mim para fazer algum trabalho ou ajudar com algo. Segundo: Seguir as regras, quebrá-las com propósito. É preciso fazer o básico, seguir o que é essencial na fotografia, e depois brincar, explorar, se divertir, porém SABENDO que está fazendo isso. É só assim que alguém consegue achar sua própria voz, sua própria identidade na área. Terceiro: Consumir obras de arte. Verdadeiras obras de arte. Seja na música, na arte pictórica, no cinema, no teatro, nos livros, etc. Tudo que consumimos acaba influenciando no nosso modo de ver a vida, na nossa percepção de realidade, então consumir os clássicos, os que permanecem apesar do tempo, você já sai ganhando de 90% das pessoas hoje em dia.”

LM – Tem uma foto favorita – que não seja, necessariamente, sua melhor foto (se possível, descreva-a)?

FN – “O retrato que fiz de Pedro Paulo, em Gramado, no ano de 2020. Fui conhecer a cidade de Gramado, pois muitas pessoas falavam bem da cidade e ela parecia ser encantadora. Infelizmente não gostei muito da atmosfera turística que paira a cidade, então eu e o Caio, meu marido, resolvemos adentrar na área rural da cidade. Lá tiramos muitas fotos das paisagens, dos animais, das casas antigas, e eu já estava bem satisfeita com o dia. Até que avistei um senhor sentado em frente à um casebre quase caindo aos pedaços. A paisagem era surreal: um campo verde, estrada bem-feita, cavalos bonitos, e um casebre no meio disso tudo que contrastava de maneira extremamente estética.  Fui até ele e pedi gentilmente para fotografá-lo. A reação não poderia ser melhor. Ele gostou tanto da ideia de ser fotografado que nos chamou para entrar na casa. Lá dentro eu tirei minha fotografia favorita: O retrato de Pedro Paulo, o senhor, em plano médio, sem camisa, olhando ligeiramente para a câmera, com um meio sorriso tímido, semblante carregado e pesado, consequência de muito trabalho duro, mas feliz, com a energia bastante vibrante. E o que eu mais gosto dessa fotografia: ele está parado em pé próximo a um quarto onde colocara um pano verde na janela. O resultado foi uma luz esverdeada em toda sua face, como se, de alguma forma, tudo se integrasse naquele momento.   É uma foto simples, muito simples. Simples até demais. Pedro Paulo, depois de sua sessão surpresa de fotografia, pegou algumas uvas, sentou-se em um banquinho lá fora, nos mandou sentar também, e comemos como se fôssemos bons amigos a muito tempo.”

LM – Qual é o seu kit/ equipamento de trabalho mais usual (Câmera, lentes, iluminação…)?

FN- “Para fotografar uso uma Canon 6D com lentes 35mm e 50mm. Para vídeos uso uma Blackmagic 4k e uma lente Meike de 25mm. Apesar de ter dois Softboxes, gosto de trabalhar com iluminação natural.”

LM – Até onde sei, sua formação foi majoritariamente autodidata. Qual é sua visão sobre a academia no âmbito da fotografia e audiovisual?

FN – “Eu fiz Publicidade e Propaganda na PUC Minas de Poços de Caldas. Não cheguei a terminar. Parei no sexto período pois tive a oportunidade de me mudar para Santa Catarina, onde vivo até hoje. Na época eu não imaginava que tinham cursos específicos sobre fotografia e cinema que eu poderia fazer online ou investir em Workshops, me faltavam essas informações. 

 Se eu soubesse que seria possível eu ter feito um curso menor, online (ou até mesmo um Workshop), mais voltado para a fotografia e vídeo, ter gastado menos dinheiro com faculdade e moradia em outra cidade, eu teria feito. Mas como não dá pra voltar no tempo, eu agradeço à experiência que tive, que fora realmente muito boa. Conheci pessoas interessantíssimas na faculdade e tive a experiência de morar sozinha e me virar por um bom tempo. A faculdade é um lugar que, se você realmente estiver disposto, poderá sair uma pessoa melhor e super comprometida. Mas também é um lugar onde, se você desviar um pouquinho sua atenção de seu propósito, ela pode te engolir e você sairá mais perdido do que quando entrou. É uma experiência rica, de qualquer forma.”

LM – Acredita que sua experiência, tendo em vista o seu perfil, te trouxe mais prerrogativas (se sim, cite alguns motivos)?

FN – “Apesar da faculdade de Publicidade não ser focada em fotografia (e o fato de que eu nem sequer terminei o curso), pude fazer parte de uma monitoria no Laboratório de Convergência da faculdade, onde ajudava os alunos com a parte fotográfica do laboratório. Foi interessantíssimo pra mim, com certeza, principalmente na parte de montar um estúdio. Sou eternamente grata pelos ensinamentos sobre estúdio que o professor me proporcionou e eu agarrei com todas as forças. Mas depois disso, eu quis ‘transcender’ os ensinamentos e experiências que tive dentro da faculdade, e acredito que essa é a forma com que todos acabam aprendendo mais profundamente. Quando você explora sozinho com certeza encontra desafios, e talvez seja mais devagar aprender o que está procurando, porém, a exploração em si, a procura solitária, já é um processo pelo qual você obtém uma independência, e isso é fundamental para o mercado de trabalho. Saber pesquisar, saber procurar, saber fazer boas perguntas é essencial para ter aquilo que busca ou pelo menos se aproximar da resposta. Dentro da faculdade temos tutores que sempre nos auxiliarão, mas na vida, no mundo fora da academia, nem sempre haverá pessoas que nos ajudarão a encontrar as respostas. Ser um pouco ‘autodidata’ é bom para todo mundo, acredito que todos deveriam se colocar nessa posição em algum momento de sua vida.”

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