A chama viva da esperança

por Agência Esamc Santos

A página “Eu Empregada Doméstica”, criada no Facebook pela ex-empregada doméstica e hoje rapper santista Joyce Fernandes, conhecida como Preta-Rara, trouxe visibilidade e voz ativa às mulheres que seguem essa profissão, expondo relatos muitas vezes abusivos, que são vivenciados por uma minoria que pode ser considerada como marginalizada pela sociedade. 

Lucimari Rodrigues, de 46 anos, moradora da cidade de Guarujá, faz parte dessa minoria. Largou os estudos ainda muito jovem, por falta de condições financeiras, e começou a trabalhar na área. Entretanto, pensa em transformar as dificuldades que já passou em aprendizado.

– Quantos anos você tinha quando abandonou os estudos para começar a trabalhar?

Eu tinha 13 anos. Não tinha condições financeiras e a minha mãe limpava apartamentos, então me tirou da escola. Ela colocou uma filha (nós éramos em três) em cada apartamento para limpar, ajudando no sustento da casa. Mas eu não parei por vontade própria, por isso fiquei muito triste. Até os professores e diretores iam em casa me buscar para estudar, mas minha mãe não deixou, porque tinha que trabalhar ou não teríamos o que comer.

– Você se arrependeu, em algum momento, por ter seguido esse caminho?

Muito, porque eu vejo que minhas amigas estão todas formadas, estavelmente  bem. Arrependo muito de não ter lutado contra isso e até minha professora disse que lutaria comigo, mas eu fiquei com medo dos meus pais.

– O que você gostaria de ter feito?

Na época tinha o curso de Magistério, já tinha até decidido estudar de noite, mas minha mãe não deixou sair pela noite, aí eu desanimei, segui o caminho de trabalhar como empregada doméstica. Eu tinha um sonho muito grande de ser professora.

– Como você lidou com a realidade dos fatos?

Eu lembro como era inteligente, tirava as melhores notas, os professores sempre elogiando. Fico pensando “se eu tivesse voltado atrás, aceitado ajuda, hoje eu já estaria quase me aposentando.”

– Você considera que as pessoas têm algum tipo de preconceito em relação à profissão?

Tem muito preconceito. Por exemplo, eu entrei em uma loja, para comprar um perfume muito caro e eu falei: “esse perfume é muito vendido?” e a vendedora disse: “quem compra mais esse perfume são pessoas como advogados, engenheiros, médicos…” sendo que eu estava com o dinheiro em mãos. Eu vi que ela fez acepção de mim, pelo meu modo de vestir, de ser, pelo meu português.

– Você tem planos para o futuro?

Tenho vontade de voltar a estudar, de voltar para fazer Pedagogia, Letras ou até mesmo Direito, que é meu grande sonho. Eu vou voltar ainda, assim que tiver a oportunidade.