Perfil Fotógrafos | João Silva

Perfil Fotógrafos | João Silva
Por Bruna Martins Hüsemann Gonzalez – 2018-1
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O fotógrafo João Paulo da Costa da Silva, mais conhecido como João Silva, nasceu em nove de agosto de 1966 (atualmente com quarenta e nove anos), em Lisboa e é radicado na África do Sul e ficou muito conhecido por trabalhar em cenários de guerra, principalmente pelo trabalho que fez do fim do Apartheid na África do Sul, onde foi um dos quatro membros, sendo o único estrangeiro, do Clube Bang Bang (The Bang Bang Club), que possui sua historia eterniza em um roteiro de cinema produzido em 2010. O filme conta a história de como o grupo se formou a partir da chegada do fotógrafo Greg Marinovich. João Silva estava no set de filmagem durante algumas gravações.
 
Em 2000, ele foi contratado pelo New York Times, trabalhou em Ruanda, Croácia, Israel, Paquistão, Somália, Sudão, Iraque e Afeganistão. Ele mora com sua mulher sul-africana e com seus dois filhos em Johanesburgo. Em 2010, quando tinha quarenta e quatro anos, João ficou gravemente ferido após pisar em uma mina, no Sul do Afeganistão. Ambas as pernas tiveram que ser parcialmente amputadas. Em um relato ao jornal DN, pelo porta-voz Robert Christie, a jornalista Carlotta Gall contou que João Silva “continuou a tirar fotografias após a explosão, enquanto os médicos habilmente aplicaram torniquetes, lhe deram morfina e o levaram em maca para o helicóptero”. Passado um ano, ele entrou para uma maratona de Nova York em uma cadeira de rodas.
 
“É uma questão de fazer o melhor com aquilo que tenho. Chegará o tempo em que voltarei a correr. Agora só ando.”  ― João Silva.
 
Em uma entrevista ao The New York Times, em cinco de maio de 2011 junto com seu colega fotógrafo Greg Marinovich, João em resposta a pergunta do por que as pessoas continuam a fotografar guerras, respondeu: “A razão pela qual eu continuo fazendo isso e escrever o livro é porque o meu foco sempre foi o de estar na borda da história. Eu sempre quis mostrar a realidade da guerra para aqueles que têm a sorte de não viver em uma zona de guerra […]. Eu acho que se você vá lá no fundo é muito mais complexo do que isso […]. Mas, certamente, estar na borda da história é real, sabe? Aqueles poucos momentos de adrenalina, que são muito curtos; aquelas poucas explosões de atividade. Eu acho que é complexo. Não é apenas uma resposta única a respeito de porque nós fazemos esse tipo de coisa. Fazemos porque ele está lá, nós fazemos isso porque podemos e porque existe uma necessidade para que o mundo saiba. E nós podemos ir lá e fazê-lo”. ― João Silva
 
Em uma parte da entrevista eles são perguntados se de alguma forma ser exposto a tanto horror acaba fazendo com que eles se tornem mais fortes emocionalmente e a resposta vem de maneira breve: -“Não. Digamos que, se algum fotógrafo vem até vocês, alguém em seus 20 anos, e ele diz: “Eu quero ir e fazer esse tipo de coisa”  ― João Silva
 
O que você diz sobre isso?
R: “Eu não sei, […] Eu poderia fazê-lo tentar entender certas realidades e certificar- me que ele entre com os olhos bem abertos. Eu não iria desencorajar ninguém. Eu não estou aqui para salvar alguém de si mesmo. Mas é bom que, com a experiência que você tem, de tentar capacitá-lo com algum tipo de conhecimento sobre o que ele esta preste a mergulhar. Há um preço emocional que está associado a ele. E, em seguida, pode haver um preço físico. Pode custar-lhe uma vida […]. Não é o meu dever desencorajá-lo. Mas é o meu dever educar. Eu posso educar. Com 20 anos de experiência, posso educar”. 
 
Em 2011, Obama recebeu o fotojornalista a quem deu as boas vindas. Na Sala Oval, Obama perguntou a Silva qual a sensação de voltar ao trabalho, “Vou saber isso mais tarde, quando tirar uma foto”, respondeu.
Em 2012, Silva mostrou seu trabalho, que fez no Afeganistão, em uma exposição em Lisboa na Cordoaria Nacional. Hoje em dia há uma página no Facebook, onde pessoas que apreciam seu trabalho conseguem se inteirar mais. O filme, dirigido por Steven Silver não só mostra a formação do grupo Bang Bang, mas também o quanto é difícil ser a pessoa que dispara a foto, se vale tudo por uma boa imagem, o modo como lidam com a guerra tendo que ser imparciais aos acontecimentos e o confronto psicológico de apenas capturar uma imagem e não fazer nada a respeito.
 
Bang Bang começou em um jornal chamado “The Star” onde  Ken Oosterbroek e Kevin Carter eram contratados e João Silva e Greg Marinovich eram freelances. Durante o filme eles mostram o modo como eles tiravam as fotos e o que enfrentavam. Abaixo estão algumas cenas e falas interessantes: “Esquece as teleobjetivas, só ficam boas de perto”. 
 
Então Kevin, o que acha que torna uma fotografia boa?”.
R: “Eu realmente não sei. Você tira a foto e vê o que conseguiu mais tarde, mas talvez, a grande foto seja aquela que também faz a pergunta, sabe? Não é apenas um espetáculo, é mais do que isso, […] Você sai e vê coisas ruins e você quer fazer algo, então o que você faz é tirar uma foto que mostre isso. Mas nem todo mundo vai gostar do que vê, é preciso entender que eles podem querer matar o mensageiro. Observe-o, o segredo é a leitura do momento, […] Ele sempre trabalha de fora para dentro. E quando acontece o ápice, você está lá […] Então você bate uma foto preta para mostrar ao redator que essa é a sua melhor foto”. Foi pura sorte, eu garanto. É a mais pura sorte estar a três metros de um homem em chamas. Por sorte ele estava a meio metro de um cara com uma faca, dando golpes na nuca, e é preciso. Manter o olho no visor, certo? Escolher a exposição correta para uma parede de fogo, certo? Quando tiver essa sorte me procura e discutiremos se Greg Marinovich merece um Pulitzer. Talvez você tenha que ser assim para fazer o que faz”.
 
Assim como?”
R: “Tem que esquecer que são pessoas de verdade. Eu não podia fazer nada por aquelas pessoas, nenhuma delas, a não ser tirar uma fotografia. Todos aqueles que dizem que é nosso trabalho ficar parado e ver as pessoas morrendo, estão certos”.
 
 
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