Perfil Fotógrafos | Robert Capa

Perfil Fotógrafos | Robert Capa
Por Vinícius Ramos | 2018-1
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É de se pensar que mesmo com as adversidades e dificuldades do mundo nas décadas de 10, 20, 30 e 40, é incrível como foi possível destacar e reconhecer vários artistas, fotógrafos, fotojornalistas, jornalistas, dentre outras personalidades. Neste cenário de grandes guerras e desestruturação mundial, nascia em 1913, de pais judeus na cidade de Budapeste na Hungria, um dos mais importantes fotojornalistas da humanidade.
 
Batizado como Andre Friedmann, adotou o nome artístico Robert Capa, quando se mudou para Paris e também na intenção de valorizar suas fotografias com um nome norte americano. Estudou ciência política na Deutsche Hochschule für Politik em Berlim e foi expulso da Alemanha pela ameaça do regime nazista, e se estabeleceu em Paris, em 1933.
 
Com 21 anos, iniciou sua carreira como fotógrafo freelancer. Tal começo foi conturbado e cercado de dívidas, tanto que Capa vivia com sua câmera, uma Leica, em penhora em troca de alguns trocados. Segundo o jornalista Alex Kershaw, a câmera passava três semanas penhorada para cada semana que ficava nas mãos de Friedmann.
 
O famoso fotógrafo era mulherengo e nessas reviravoltas, conheceu Gerta Pohorylle, que também mudou de nome para Gerda Taro. O romance durou até sua morte precoce, com 26 anos em 1937, quando Gerda estava com seu amigo Ted Allan numa trincheira fazendo suas fotos. No momento aviões bombardeavam o local e em meio a explosões e estilhaços, tiveram que fugir de carona no estribo de um carro, logo em seguida, no caos do bombardeio, o carro em que estavam foi atingido por um tanque republicano descontrolado e os dois foram arremessados. Os amigos foram socorridos, porém, ela não resistiu. Segundo a enfermeira que trabalhava no hospital de campo, Irene Golden, suas últimas palavras foram: “cuidaram de minha máquina fotográfica?”.
 
Robert Capa mudou sua história registrando imagens das guerras que aconteciam na época. O diferencial do fotojornalista é que ele não tinha medo de se expor em meio a explosões, tiroteio e estilhaços num campo de batalhas para fazer os seus registros. Esta característica, fez com que seus cliques certeiros rendessem talvez o reconhecimento e dinheiro que almejava. Suas fotos não eram vistas com beleza artística, mas sim como forma de despertar o imaginário da guerra, destacando a sua proximidade dos fatos. Entre as suas coberturas fotográficas estão a Guerra Civil Espanhola, a Segunda Guerra Mundial (cujas imagens da batalha da praia de Omaha serviram de base para a reconstrução do filme O resgate do soldado Ryan), a Guerra Sino-Japonesa e a Guerra da Indochina, que culminou em sua morte. “Se  suas  imagens  não  são  boas  o  suficiente  é porque você não chegou perto o suficiente.” – Robert Capa.
 
Intitulada como “O soldado caído”, essa imagem foi feita durante a Guerra Civil Espanhola, publicada na revista “Vu” em 1936 e republicada na “Life” em 1937, ganhando repercussão internacional. Segundo a versão dita por Capa, trata-se do momento exato da morte de um homem alvejado por um tiro. Porém, houve questionamentos quanto à veracidade da fotografia. Muitos diziam que foi apenas um escorregão, ou que a foto foi feita por Gerda, uma vez que ela também utilizava a assinatura “Robert Capa” para vender suas fotografias com um preço mais atraente, ou também que tudo não passava de uma encenação. O próprio Capa em entrevista para uma emissora de rádio aumentou a polêmica sobre a foto quando disse a seguinte frase: “a foto rara nasce da imaginação dos editores e do público que a vê”. Mesmo cercada de diversas teorias para tentar explicar o registro, é fato de que a imagem consagrou Capa como um real fotógrafo de guerra e tornando-se uma poderosa representação da guerra. Era preciso ser frio para enfrentar tantas vezes a morte.
 
Sua vida pessoal era polêmica e há relatos de que depois de ter conquistado a fama e muito dinheiro, Capa perdia grandes quantias em jogos de cartas com soldados, artistas, milionários e por beber muito. Dizia-se que ele extremamente atraente e charmoso, tendo namorado atrizes e modelos famosas como Ingrid Bergman (na época, casada com Petter Lindstrom), Hedy Lamarr e Jemmy Hammond. Ele foi um dos fundadores da agência Magnum, até hoje em funcionamento, que foi criada com um conceito revolucionário, priorizando a relação dos seus fotojornalistas e seus empregadores. Para ele, um fotojornalista que não tivesse controle sobre os seus negativos, estava perdido.
 
Em uma de suas missões, Capa cobriu o “Dia D”, tendo como destaque o desembarque das tropas americanas na costa da Normandia, tornando suas fotografias como registros insuperáveis daquele momento histórico. Depois de cobrir e testemunhar os horrores de cinco guerras, Capa partiu para sua última missão em 1954, com 41 anos, na Primeira Guerra da Indochina, porém dessa vez não voltou vivo. Robert Capa morreu no dia 25 de maio daquele ano, ao pisar uma mina terrestre.
 
Sua curta vida marcada por um início nada fácil, mas que rapidamente conseguiu a fama e sucesso através do seu arriscado trabalho, o consagrou como um dos maiores fotojornalistas da história. Suas fotografias não eram repletas de técnicas e visão artística, o seu poderio fotográfico estava na captura dos preciosos momentos, não era de importância uma foto perfeita, o que valia era estar próximo do fato. Robert Capa arriscou por várias vezes sua vida e faleceu precocemente no auge da sua carreira no lugar que mais odiava, mas fazendo o que mais gostava.
 
 
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