Perfil Fotógrafos | João Maia

Perfil Biográfico Fotógrafos | João Maia
Por Anna Carolina Prado | FPP 2019-2
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Nascido em Bom Jesus do Piauí, cidade com quase 20 mil habitantes, ele viveu durante 20 anos na última fronteira agrícola do estado. Sempre apaixonado pela fotografia e mundo artístico, Maia aos 14 anos, ainda enxergando, realizou um curso técnico de agropecuária na Escola Federal de sua cidade. Tocado pelo professor que havia ganhado um prêmio de fotografia na época, ele começou a criar mais ainda o gosto pela arte e passou a fotografar diversos colegas e cenários que o chamavam a atenção.
 
 
O pessoal da escola começou a perceber o repentino interesse e dom, e começou a convidar João para fotografar eventos internos, tanto da escola quanto da cidade.Segundo ele, foi nesses momentos que ele desenvolveu ainda mais a paixão pela fotografia.Procurando uma vida melhor na cidade grande, João se mudou a capital paulista e passou a morar com os primos.
 
 
Logo de começo na cidade trabalhou como despachante e após isso carteiro. Em 2004, João relatava problemas nas vistas e dor nos olhos, na época, ele sofria de miopia e astigmatismo e passou a ter episódios de dificuldade de enxergar, o que resultou em idas freqüentes ao oftalmologista, troca de óculo. No entanto, após uma série de exames que duraram um ano, saiu o diagnóstico de glaucoma. Ele começou a realizar diversos tratamentos durante um ano, no entanto, não via diferença e apenas ia piorando com o tempo.
 
 
Maia agendou uma consulta no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e descobriu que o diagnóstico estava incompleto. “Uma vez eu desci do ônibus para ir ao trabalho e uma pessoa esbarrou em mim com tanta violência que os meus óculos caíram e eu não os encontrei. Fui ao trabalho naquele dia sem enxergar. Naquela tarde eu ganhei óculos novos, mas tive que trocar dois meses depois. Passei um ano tratando glaucoma”.
 
 
O diagnóstico correto saiu, ele descobriu que, na verdade, havia desenvolvido Uveíte bilateral, uma inflamação nas íris dos dois olhos. Ele sofreu uma inflamação de alto grau, teve descolamento da retina e perdeu a visão por completo no olho direito. Já no esquerdo, sofreu uma lesão do nervo ótico, ele possui uma visão conhecida como: conta dedo. Em até 1,20 metros de distância, têm percepções de vultos coloridos.
 
 
Abalado pelo diagnóstico demorou aceitar como seria sua vida daquele momento para frente. João começou a buscar atividades físicas para melhorar a sua cabeça então se deixar cair na depressão. Realizando natação e corrida de rua com a ajuda de guias, ele descobriu sua paixão pelo atletismo. Após os treinos, ele parava para fotografar seus colegas corredores. Depois de 4anos do diagnóstico, tocado pela saudade do seu dom, ele começou um curso de fotografia para deficientes visuais. Suas fotos começaram a fazer sucesso e ele foi convidado a fotografar em campeonatos nacionais, e alguns anos depois sua vida mudaria.
 
 
Em 2016, João foi convidado para fotografar diversas modalidades nas Paraolimpíadas que aconteciam no Brasil. Suas fotos e divulgação ganharam repercussão mundial após ele lutar para conseguir ir para Tóquio em 2020. Vendeu camisetas, fez financiamento coletivo e teve o apoio da Fundação Dorina Nowill e parcerias do Guia do Deficiente e da Andef. Após todo o barulho que João conseguiu, ele foi convidado para fotografar Tóquio 2020, e desde então fotografa eventos de esportes, e sua outra paixão, tribos e grupos indígenas. Por ser deficiente visual, Maia utiliza a experiência sensorial.
 
 
Por ser baixa visão, ele se direciona com vulto de cores e auxílio técnico das pessoas que estão ao redor. Informando qual raia tal determinado atleta está, assim como qual distancia ele, a partir disso, é apenas sensorial e sentidos apurados. Contando com a ajuda do foco automático, as configurações da câmera são realizadas por ele com a ajuda do modo esporte pré-configurado, ele consegue realizar fotos excelentes que capturam a essência do momento.