O peso do jornal impresso

Por Rafaela Ribeiro/AES

Sérgio Willians, 53 anos, é jornalista e escritor, autor da coluna “Era uma vez… Santos”, publicada quinzenalmente pelo jornal A Tribuna desde 2016, e criador do Blog Memória Santista.
 
Publicou seu primeiro livro em 2007, “Nas curvas de Santos”, uma ficção histórica, também publicou livros de não ficção como “Sua majestade, a mais bela”, que conta a história de Maria José Leone, conhecida como Zezé Leone, a santista que foi a primeira vencedora do Miss Brasil, em 1923. Willians possui quatro livros publicados, em seus livros ele narra histórias, tanto reais quanto fictícias, ambientadas em Santos.
 
Entramos em contato com Sérgio, que atualmente ocupa o cargo de Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Santos (IHGS), para conversar um pouco sobre sua trajetória como jornalista, escritor, memorialista e também sobre o projeto que o IHGS está conduzindo, em parceria com a Hemeroteca digital Brasileira, para digitalizar o acervo de jornais e revistas históricos de Santos.
 
Para você, como é trabalhar com a preservação da memória regional?
Eu posso dizer que pra mim é uma paixão, um hobby, um lazer, eu nem diria que é um trabalho, eu prefiro as vezes estar aqui escrevendo sobre as histórias, que ver um filme, qualquer coisa.” Afirma “Eu já nem assisto mais televisão, pra você ter uma ideia, gosto de ler bastante, mas eu leio muitas coisas do passado, é até engraçado que quando eu vou convidado pra falar em programa de rádio, e eles começam a falar sobre assuntos do dia a dia, e perguntam ‘Sérgio, o que você acha sobre tal coisa?’ meu, eu tô tão por fora, que se você me perguntam uma coisa que aconteceu em 1937 eu vou saber, mas do que aconteceu ontem eu não vou.” Ele fala, de forma descontraída, mas ressalta “Eu não sou um alienado, mas eu não tenho uma profundidade de conhecimento sobre esses assuntos, por exemplo o Bolsonaro esteve na Onu, falando as besteiras lá que ele fala, mas eu não me aprofundei, eu não posso falar sobre o assunto, eu sei a manchete, mas não me aprofundei, agora se você me perguntar sobre o que o Getúlio Vargas falou em um congresso, eu vou saber responder, porque é uma questão de foco, no jornalismo, tem jornalistas que optam em trabalhar certos segmentos, se você pega um jornalista esportivo o cara só vai falar de futebol, e se você perguntar pra ele sobre o aeroporto metropolitano na base aérea do Guarujá o cara não vai saber nada, vai saber só o superficial, então é normal isso, aliás a tendência do jornalismo hoje é muito essa, se segmentar, você pegar uma área, trabalhar nela, obviamente não deixando as outras escaparem muito, que caso der uma zebra você pode pular pra outro lugar, mas o ideal hoje é você se especializar, se segmentar.
 
Qual foi sua motivação para a criação do blog Memória Santista?
Essa paixão pela história, eu carrego ela desde a minha adolescência, eu gosto muito de história, a revolução francesa, história do descobrimento, antigo Egito, enfim história em geral. Só que uma coisa que começou a me chamar foi a história da cidade, a gente sabe muito sobre a história do mundo, se a gente falar sobre as cruzadas, o período medieval, segunda guerra mundial, mas a gente acaba deixando um pouquinho de lado a história do nosso quintal, a história da nossa cidade, das pessoas, nós vemos o nome de uma pessoa em uma rua,  não sabemos dizer quem foi aquela pessoa, então eu muito curioso, comecei a pesquisar a história da nossa região e eu me apaixonei, pela questão da colonização, Brás Cubas, a fundação da via de Santos, e aí foi crescendo, crescendo, eu me tornei jornalista, mas eu não me foquei nisso, no começo da minha carreira jornalística, eu fui trabalhar em televisão em outras coisas, mas chegou um momento que eu precisava unir, a minha profissão, a minha tarefa, que é o jornalismo, e a minha paixão que era história, então do fruto dessa união eu comecei a desenvolver alguns trabalhos, já em 2007, 2005 por aí, eu já comecei a escrever sobre o assunto, em 2007 eu lancei um livro sobre a história da primeira viagem de automóvel, que aconteceu entre São Paulo e Santos em 1908, e a partir daí eu comecei a desenvolver vários trabalhos relacionados a história regional, principalmente a história de Santos, fiz almanaque para o instituto histórico de Santos, fiz uma coleção sobre a história de Santos pra distribuir para as escolas, e aí com uma carga de muitos textos já escritos, eu tomei coragem para fazer um blog, que é a ferramenta do século XXI, o papel é bacana? É, a revista, o jornal, etc, é legal, mas a gente não pode tapar o sol com a peneira e deixar de entender de internet hoje, que é o veículo de massa de maior alcance.
 
 Você sente que o povo santista é um povo que conhece a sua história?
Infelizmente não, existe uma falta de interesse das pessoas em relação a esse assunto, e todos nós, eu posso dizer que eu sou uma exceção, porque eu gosto, eu vivo isso, mas assim, que nem você tá fazendo a entrevista, mas se eu fizer algumas perguntas pra você, por exemplo, você conhece o Centro Real Português? Você já subiu de bondinho o monte Serrat?”  Eu respondi que não, o que me rendeu um “puxão de orelha” de Sérgio. “Então assim, você tem que fazer sua lição de casa, porque você acabou de fazer uma crítica a cidade e a população, mas você tá no contexto, e você tem culpa disso? Não, você não tem culpa disso, porque na base, quando você estava no primário, quando você estava no ensino médio, ninguém te estimulou a isso, ninguém falou ‘Pô Rafa, você conhece o centro real português?’, mas o que que tem lá? pô as pessoas não vão à Europa? As pessoas não vão à Paris? Não é lindo, ver o palácio de Versalhes? O Louvre? Não é maravilhoso? As pessoas não tiram selfie? Não acham lindo aquilo? Se eu te mostrar o Salão Camoniano, do Centro Real Português que fica na Amador Bueno, você fala ‘não Sérgio, isso aqui não é em Santos, isso aqui é na Europa, é absurdamente lindo aquilo, lindo. Lição de casa pra você se tornar uma santista de verdade, vá conhecer o Salão Camoniano, no centro real português na Amador Bueno, na hora que você entrar, vai arrepiar todos os pelos do seu braço, e é só um lugar dos vários lugares dessa cidade que são maravilhosos.
 
Quando se fala em história, a gente costuma ter uma visão muito mistificada dos acontecimentos do passado, como se fosse algo muito distante da nossa vida cotidiana. Na sua opinião as histórias que você traz, tanto no seu blog “Memória Santista” quanto na coluna “…Era uma vez, Santos” aproximam seus leitores do passado, ajudando a desmistificar essa imagem que normalmente temos sobre ele?
Pra você estar fazendo essa entrevista comigo, você deve ter lido alguma coisa que eu já escrevi, então você deve ter percebido o meu estilo literário, qual é a opção que eu tive pra fazer as pessoas terem interesse pela história, é a forma de escrever, eu uso muito o que a gente chama de jornalismo de nariz de cera, eu chamo de licença poética, porque eu faço a pessoa entrar no contexto da história para despertar o interesse, então se eu pegar por exemplo, eu vou tomar a liberdade de pegar um dos meus textos, eu vou pegar esse último agora que eu escrevi sobre o filme alameda da saudade, que foi um dos filmes dos anos 50, eu sempre, eu não digo sempre, mas 95% das vezes eu começo meus textos da seguinte forma ‘santos, dia tal, de mês tal do ano tal.’ Aí eu descrevo na forma de uma cena como se fosse uma cena de cinema. Então ele começa a narrar um dos textos de seu blog, memória Santista, o texto conta a história do filme “Alameda da Saudade, 113”, rodado em Santos entre os anos de 1950, e 1953, e conta a história do filme, de uma forma que se assemelha a um romance histórico, Sérgio faz um excelente trabalho de ambientação em seus textos, se apropriando da linguagem utilizada na época, fazendo com que o leitor imerja por completo no contexto da época. O meu estilo de contar ás histórias, ele é um estilo que trava quase como um romance histórico, eu faço uma licença poética, pra depois no meio daquele texto colocar as informações do lide, “que, quando, onde, como e porque”, toda matéria tem que ter essas perguntas, isso aí é o jornalismo, é você responder o lide, só que existem formas de você levar essas informações desse lide, diversas, eu optei por tornar atrativo para o leitor fazer dessa forma, com a licença poética, então eu faço essa introdução, que no jornalismo clássico a gente chama de “nariz de cera”, que é você dar uma introdução antes de começar a dar a notícia em si, eu acho isso muito importante porque traz uma leveza na leitura, esse que é o meu diferencial em relação aos antigos memorialistas do passado, eles faziam textos acadêmicos ou jornalísticos, mas acredito que um jornalismo mais seco, o texto acadêmico, como o próprio nome diz ele é um texto para a academia, não é um texto para a dona joana da esquina, eu tinha um professor na faculdade chamado Gerson Moreira Lima, o Gerson era um cara muito famoso na época dele, ele dava aula de introdução ao jornalismo, o Gerson uma vez ele subiu na mesa, literalmente ele gostava de chamar atenção, e ele falou assim, ‘ O bom jornalista é aquele que escreve pra minha mãe, que se minha mãe entender o que está querendo ser dito, então você cumpriu o seu papel como jornalista.’ Porque o jornalista, não tem que escrever para um grupo específico ele tem que escrever para a massa, então assim, quando você escreve algo você não tem que escrever só para que meia dúzia entenda, tem que escrever pra que todo mundo entenda, porque o teu papel é difundir e informar, então desse o advogado, um cara intelectual, até o porteiro do prédio, todo mundo tem que entender o que você escreveu, é diferente quando você tem uma função, por exemplo, você é da acessória de comunicação de uma empresa farmacêutica, e seu papel é escrever um boletim pra classe médica, obviamente você vai escrever de um jeito diferente, já não vai escrever para o porteiro do prédio, você vai escrever para o médico que tem que compreender quais são os benefícios daquele remédio que está sendo lançado pela empresa que você assessora, mas aí são papéis específicos, então quando eu Sérgio, me propus a escrever sobre história no meu blog, eu falei ‘ eu quero escrever pro porteiro, eu quero escrever pro médico, eu quero escrever pro presidente do Brasil, pro governador do Estado, pro deputado, pro vereador, pro carrinheiro, eu quero escrever pra todo mundo’, agora é obvio que apesar de eu querer escrever pra todo mundo, eu preciso que o outro lado, o receptor da minha mensagem tenha o mínimo de conhecimento pra também ler, se o cara for um analfabeto vai ser difícil, e também, eu procuro dar leveza pros meus textos mas as vezes também eu dou uma rebuscada, mas a minha rebuscada é proposital, porque eu também quero que a pessoa saia da zona de conforto.
 
E você acha que estudar jornais antigos te ajuda a entender a linguagem da época?
Sim, aliás é muito difícil a linguagem da época, as reportagens antigamente, a gente fala do jornalismo opinativo, aquilo que você coloca a sua opinião no texto, cara antigamente os jornalistas eram muito opinativos, eles eram quase como o Faustão.” Brinca “Rasgando elogios, tinha textos que eles falavam assim, ‘Santos essa praça comercial pujante e maravilhosa.’ Sabe, era uma rasgação de seda absurda, então você não via informação ali, você via só elogios, então as vezes o cara escrevia uma página inteira, e de uma página inteira você conseguia três parágrafos de informação, porque o resto era rasgação de seda, era impressionante como as pessoas escreviam antigamente, mas era o jeito da época, era a forma como as pessoas se comunicavam, era muito elogioso, e quando era crítico era uma crítica muito contunda assim, bem forte, mas muito poético, o jornal impresso era pra pouca gente, não era uma coisa democrática, as pessoas não liam não era pra elas, porque não tem coisa pior na vida, que você ler um texto e não entender nada, então eu não quis fazer com que as pessoas aprendessem história dessa maneira, ler e não entender nada, é muito importante que as pessoas entendam.
 
É inegável como nos últimos anos, os jornais impressos vêm perdendo espaço para as mídias eletrônicas, apesar disso, os jornais impressos foram um dos principais meios de divulgação de notícias, durante grande parte da história da humanidade, sendo assim, uma ótima maneira de entender o passado, é através das notícias publicadas na época. Quais os esforços vêm sendo feitos, para preservar, e catalogar essa parte da história?
O Google iniciou a alguns anos atrás um projeto, que era meio ousado, eles queriam digitalizar os acervos de jornais do mundo inteiro que era o Google News Archive, eles iniciaram esse projeto, mas eles pararam porque eles viram que a encrenca era muito maior do que eles imaginavam, mas não importa, foi um grande passo na época, tem vários jornais americanos lá, e tem um jornal Brasileiro que eu acho que é o jornal do Brasil, acho que foi o único jornal Brasileiro que eles fizeram, mas ó o Estadão seguiu essa linha, o Estadão digitalizou todo o acervo, a Folha de São Paulo digitalizou todo o acervo, a revista Veja digitalizou todo o acervo, hoje nós temos a revista Cruzeiro, a revista Manchete, a revista da semana, hoje os grandes veículos de comunicação impressa, do século XIX, do século XX, já estão quase todos disponibilizados em plataformas como a hemeroteca digital Brasileira, que pertence a fundação biblioteca nacional. E esse projeto da hemeroteca digital brasileira, nós aqui em Santos do instituto histórico geográfico, no caso o papai aqui.” Disse, em um tom brincalhão “Eu fui ao rio de janeiro, a três anos e meio atrás, e eu comecei as tratativas pra celebração, de um termo de cooperação técnica do nosso instituto histórico geográfico com a biblioteca nacional, estabelecemos esse termo, e desde o começo de 2020 nós iniciamos um projeto de digitalizar os acervos dos jornais de Santos, e pra mandar pro Rio de janeiro, e hoje nós temos mais de 40 mil páginas de jornais digitalizadas aqui da cidade, que já estão disponibilizados nessa plataforma, só que nós temos ainda um baita caminho pela frente ainda, nós temos ainda um milhão e meio de páginas para serem digitalizadas, ainda temos um caminho bem longo pela frente, nós tivemos que paralisar esse projeto por conta da pandemia, os recursos baixaram bastante, mas a gente pretende retomar agora em 2022, nós fizemos um PROAC pra isso, e nós também estamos comprando os equipamentos, eu consegui um dinheiro do ministério público e também de emenda parlamentar de deputado pra conseguir comprar os equipamentos e tocar o projeto a partir de 2022, como eu te falei pra digitalizar um milhão e meio de páginas de jornal.
 
Na sua opinião a internet, é uma aliada, não só na preservação deste conteúdo, mas como uma forma de torna-lo mais acessível?
Eu sou um cara que trabalha com história, e no passado outras pessoas trabalharam com história, e quando a gente fala de Santos eu vou dar alguns nomes por exemplo Frei Gaspar da Madre de Deus, foi o primeiro historiador da região ele foi um historiador do século 19, que mecanismos ele tinha pra contar a história da região? Documentos só, ele era um cara que ia lá, pegava documento por documento, lia documento por documento, fazia a interpretação dele sobre o que estava escrito e transcrevia, e assim ele construiu um livro chamado “memórias da capitania de São Vicente”, lastreado totalmente em documentos, e pior documentos manuscritos, com aquela letra horrorosa, que hoje só paleólogos conseguem entender, são quase que hieróglifos egípcios, mas era o que o cara tinha na época na mão. Daí a gente entra no século XX, já com a imprensa de Gutenberg, tipos móveis, ou seja, a imprensa já tinha formas de escrever diferente, daí a gente pega historiadores como Alberto Sousa do começo do século XX, depois Francisco Martins do Santos, Costa e Silva Sobrinho, que era pessoas que tinham já ferramentas diferentes, já não tinham textos só manuscritos, e outra o Frei Gaspar já tinha feito boa parte do trabalho, então eles já estavam em um momento diferente, já tinham textos datilografados vamos dizer assim, aí vem já na década de 60, 70 um cara chamado Olao Rodrigues, o Olao já tinha então referências de livros já escritos, já mastigados pra ele, e ele já tinha fotografia, ou seja ele já tinha recursos de imagens, recursos visuais e áudio visuais, o rádio que começou na década de 20, a televisão que começou na década de 50, ou seja ele já era um cara que já tinha outros meios de pesquisa para poder executar, aí depois nos anos 70, 80 a Professora Vilma Terezinha, aí já começa a ter o vídeo texto, já começa a ter um pouco mais, e aí vem o Carlos Pimentel que cria o primeiro instrumento de internet sobre história regional, um site chamado Novo Milênio, o Pimentel ele faz o primeiro grande trabalho, e daí você fala do grande benefício da internet pela preservação da história, o Pimentel faz uma coisa que a gente chama no jornalismo de Clipe, o que ele faz, ele transcreve reportagens de jornais, ele transcreve livros inteiros, ele transcreve teses acadêmicas e ele faz o grande banco de dados que é o Novo Milênio, eu sou fãzaço do Pimentel, e foi através do Pimentel que eu comecei a pensar a fazer os meus trabalhos na internet, e aí surge o meu trabalho, já no século 21, já na década de 2010, na verdade o memória santista começa em 2011, e daí eu dou uma linha diferente, eu não faço o clipe como o Pimentel faz, eu não transcrevo textos de jornais e revistas, e livros e teses acadêmicas, eu faço um trabalho de pesquisa e produção de textos históricos a partir destas pesquisas, muito aprofundadas e compartilho com as pessoas, esses textos que a gente chama de artigos, eu compartilho esses artigos no memória santista desde 2011 até os dias de hoje, ou seja dez anos de memória santista, e hoje eu posso dizer, que eu tenho mais de 450 mil artigos no memória santista escritos por mim, e outra vantagem eu compartilho nos meus textos imagens, só que se você olhar no memória as minhas imagens estão em alta resolução, é claro que em alguns textos não tem imagem boa, então eu coloco o que eu tenho, mas tem imagens que você pode publicar uma matéria em jornal, e usar imagens retiradas do blog, porque eu acho que hoje, a internet é uma plataforma importante pra você difundir as coisas.
 
Pra você, no futuro, as mídias digitais, serão um objeto de estudo, tão importante quanto, são hoje as mídias impressas para historiadores?
 claro, com certeza, é a nossa história, lá nos primórdios, eu Sérgio aprendi HTML, eu precisei aprender porque a linguagem era HTML, depois começou a ter o Java e outras coisas, hoje já é uma coisa que eu nem sei o nome de tão avançado que é, mas na época, era o HTML, eu aprendi o HTML ali na raiz, eu pegava um bloco de notas e fazia uma página de internet só com HTML, e aí eu criei alguns sites, eu tenho um quer ver?” Ele compartilhou algumas de suas criações da época comigo,  um deles um site criado em 2001, ano do nascimento de sua filha Mariana, no site ele armazenou uma série de fotos da família, o que mostra, que o seu interesse pela preservação da memória através da internet, não se limita apenas ao seu trabalho como memorialista da cidade, mas se estende até sua vida pessoal. “Esses sites eu fiz a muitos anos atrás, tem uns mais antigos dos anos 90, tinha um negócio chamado GeoCities, que era tipo uma hospedagem, então lá nos primórdios da internet, eu já fazia parte da internet, e hoje muitas dessas coisas que você viu estão preservadas nesse internet archieve, lá tem muita coisa antiga, então assim, é um repositório importante, que conta a história da internet e consequentemente a história da humanidade, porque faz parte. A internet não só é importante como ela é vital, só que é muito perigoso, porque a forma de preservação disso é que é muito volátil, porque quando se fala de fotos por exemplo, quando você pega fotos do século XIX, antigamente era negativo de vidro, essas negativos de vidro estão preservados até hoje e a qualidade da foto é maravilhosa, depois vem os acetatos, também são guardados, agora quando você entra na era digital as pessoas começaram a guardar suas fotos em CDs, depois DVD, cara se você arranhasse você perdia tudo, quando eu era criança os pais faziam álbuns das crianças, e você tem isso preservado até hoje, a da minha filha, eu tenho muita coisa dela em papel, porque ela nasceu em uma transição do papel pro digital, mas hoje eu não tenho mais nada da minha filha, de 15 anos de idade dela pra cá, hoje eu tenho tudo digital, se eu perder eu perdi a história da vida dela, é legal, é importante sim, mas tem muito risco de perder, eu tenho todos os meus trabalhos em Hds externos, mas eu também tenho várias cópias desses hds e tenho uma cópia na nuvem, mas assim, a gente precisa ter isso em vários lugares, porque se você perder um você tem o outro, agora se você tiver em um só lugar você é doido, então a internet é importante mas a gente que saber guardar as coisas.
 
Então a mídia física não perdeu o seu lugar no mundo?
Não tem como perder o seu lugar, nem que seja um datasafer com vários hds, mas você tem que estar sempre fazendo backups, sempre fazendo cópias, e de vez em quando é bom imprimir pra você ter o registro físico.