Os altos e baixos da literatura na pandemia

por Caterina Montone

 

Após o aumento do hábito da leitura nos tempos de isolamento, livrarias independentes tiveram de se adaptar às demandas e traçar estratégias para sobreviver

Em razão da pandemia causada pela covid-19, escapar da realidade através da literatura se tornou tentador. Sendo assim, o universo da leitura no Brasil viveu o seguinte paradoxo: o brasileiro passou a comprar e ler mais livros, mas por e-commerce, pois as livrarias ficaram fechadas. Diante do isolamento físico e social, que fez com que as pessoas saíssem de casa apenas para trabalhar e buscar alimentos, as lojas físicas tiveram de se reinventar para não fechar, como aconteceu com algumas unidades da rede Saraiva.

As pessoas estão lendo e gastando mais com literatura desde o início da pandemia e os números revelados numa pesquisa feita pela Nielsen são surpreendentes: apenas em 2021, a procura por livros aumentou 38,38% em número de exemplares, e 28,46% em faturamento quando comparamos ao ano de 2020. O campeão de vendas é o jornalista e humorista George Orwell, com 1984 e A Revolução dos Bichos, obras atemporais e politizadas.

O livreiro e dono da Realejo, em Santos, José Luiz Tahan detalhou como foi encarar de frente a alternativa de adicionar o varejo online em uma tradicional livraria de rua existente há 20 anos. Ele conta que, no início da pandemia, adotou mudanças que acompanharam o momento. As preocupações eram com a saúde e com o negócio, o medo de contrair a doença e falir. Uma dessas adaptações foi o delivery, medida que consumiu 187% dos gastos do brasileiro durante a pandemia, segundo o Mobilis. No caso da Realejo, o entregador era o próprio Tahan, que assumiu todo o trabalho da livraria sozinho, desde tomar conta das redes sociais a realizar as entregas nas casas dos leitores.

Ainda na pandemia, foi possível perceber um aumento significativo de pessoas falando sobre livros na internet. Com dancinhas, resenhas e recomendações, esses perfis têm pessoas apaixonadas por leitura, que chegam a atrair grandes editoras como a Intrínseca, que procura por influencers para divulgar novos livros do catálogo e o clube de assinatura mensal, o Intrínsecos. O aumento desses clubes também ocorreu e a oferta é tentadora: nos boxes mais conhecidos chegam a conter a obra inédita, brindes, postais e marcadores de páginas personalizados.

A Realejo também criou o seu clube mensal, o Clube Realejo (@cluberealejo). “Um clube de assinatura de livros feito por amor à literatura”, como está escrito no site oficial. O empreendimento funciona de forma curiosa: todo mês, um livro é selecionado pelo livreiro para o assinante, passando por um processo de escolha criterioso. O kit mensal contém, além da obra do mês, uma ilustração do autor desenhada pelo próprio Tahan, marcador de páginas personalizado, vídeo especial com discussão sobre a obra e uma playlist temática, misturando arte, música, informação e claro, a leitura. O clube oferece 3 planos diferentes, que vale a pena dar uma olhada e escolher qual te atrair mais.

A livraria também retomou o projeto Choro de Bolso, evento que ocorre todas as sextas-feiras, há mais de 16 anos, e aberto ao público que deseja ouvir músicas ao vivo enquanto desfruta da paisagem curiosa que os livros na vitrine propõem. “A volta da música e do evento é algo extremamente essencial para nós. Faz parte da nossa identidade. Claro que estamos vivendo uma transição ainda, mas está sendo importante porque a gente tem se conectado com as pessoas, estamos saboreando esse retorno aos poucos”, diz o livreiro sobre a volta das apresentações depois de 18 meses de pausa.

A Realejo se encontra na Avenida Marechal Deodoro, 2, no Gonzaga. Ou, caso preferir, os livros podem ser entregues em sua casa. Você pode conferir mais informações sobre a livraria em: www.realejolivros.com.br.