Crônica: A luz de Clara

Por José Lucas Sena/AES

 

Clara. Cinco letras que formam um nome derivado do latim Clarus, cujo significado é brilhante, claro. Poucas vezes conheci alguém que representasse tão bem o nome e posso dizer que Anna Clara Loureiro dos Santos, ou simplesmente Clarinha, é exatamente o que seu nome representa.

Ser mãe era o sonho da Andressa, mãe de Anna. Ela viveu toda a ansiedade de uma mulher que espera sua filha, mas, infelizmente, não pode conhece-la. Andressa Josefa dos Santos, uma exímia trabalhadora, determinada. A representação da pessoa que luta pelos seus sonhos foi uma das vítimas dessa pandemia, que não só deixou Clara sem a mãe, mas deixou pais sem sua filha, uma família sem um integrante e me deixou sem uma amiga, com quem eu tinha 18 anos. Sua partida deixou um imenso vazio e me senti no fundo do poço, mas Clara, a cada foto tirada e enviada por sua avó, dia após dia, me fazia sair desse vazio e me mostrou que, mesmo com a dor, havia esperança.

Clara me tirou do chão. Clara encanta todos que olham para ela e motiva a todos aqueles que precisam de um impulso para seguir aquilo que deseja. A luz de Clara é equiparável e até maior que a do sol. Clara, uma das muitas crianças órfãs da pandemia, mediante tudo, é aurora, é a fé. Mesmo não conseguindo compreender os planos divinos, o sorriso banguela traz sentido, traz beleza ao mundo e mostra que idas e vindas são parte desse espaço-tempo que chamamos de vida.

Tive a oportunidade de colocar esse ser de luz em meus braços e um misto de sentimentos me envolveu, ainda mais que eu tive a sensação de que eu estava pegando a minha amiga nos braços. Posso descrever três sentimentos com clareza: alegria, felicidade e saudade. Sem dúvidas estou embalado pela emoção e, dessa forma, posso estar fora da razão, mas algo me deixou curioso. Enquanto tinha Clara em meus braços, aquela coisinha miúda sempre olhava em direção ao meu ombro direito, sorria e, na sequência, me olhava. A cada olhada vinha um sorriso lindo, cativante e uma lágrima escorria pelo meu rosto. Não sei se ela sentia ou via sua mãe atrás de mim; se sentiu a presença materna que, infelizmente, lhe faltará.

Impressionante com um ser prematuro, que foi retirada do ventre de sua mãe com 6 meses de gestação, se demonstrou forte, guerreira, determinada. Resumindo: Anna Clara tem um impacto de alguém que sempre esteve na minha vida, mesmo sentimento que tive quando conheci sua mãe. Sempre escutei a frase “Em tudo daí graças”. A frase descrita no versículo 18, do quinto capítulo do livro bíblico dos Tessalonicenses, fez sentido quando estive com ela.

Viva a Clara. Viva a vida.