“Ser professora é a melhor profissão do mundo”

Por Jéssica Vieira/AES

 

Conhecida como tia Gio pela criançada, a professora Giovana Aparecida Vieira, de 42 anos, dedica metade da sua vida à educação. Porém, em 2019, sua história profissional teve outro rumo.

Tudo começou com uma mudança de cidade. Nascida e criada em Santos, foi para a grande São Paulo. Sem encontrar uma oportunidade de emprego como professora e precisando pagar as contas, se descobriu na enfermagem. Como ela mesma diz, é uma forma diferente de cuidar das pessoas.

Depois de fazer cursos, hoje trabalha como cuidadora de idosos e, entre um plantão e outro, dá aulas particulares. Em entrevista, ela relembra sua trajetória em sala de aula, conta momentos especiais e aconselha a nova geração de professores.

 

Quando você decidiu que queria trabalhar como professora?

Na verdade, desde criança eu já brincava de ser professora ensinando as bonecas. Eu já gostava disso e percebi que eu tinha esse talento. As minhas brincadeiras favoritas eram, sem dúvida, quando montava uma sala de aula. Então, eu acho que foi quando criança que eu me descobri como professora, desde os 10 anos.

 

Onde foi o seu primeiro emprego como área da educação?

Com 14 anos, comecei a dar aula particular em casa. Na escola mesmo foi quando eu tinha 17 anos. Na época, eu estava fazendo Magistério e fui chamada para ser auxiliar de maternal no Cantinho da Criança. 

 

Conte um pouco sobre as escolas e turmas para as quais deu aula?

Eu não trabalhei em tantas escolas, não. Quando eu entrei no Magistério, fui para o Cantinho da Criança e depois para o Trem da Alegria, que foi a área da Educação Infantil. Logo fiquei grávida da minha primeira filha e parei um ano para me dedicar à maternidade. Depois voltei em uma outra escola, o Colégio Intellectus, para dar aula para o Ensino Fundamental. Fiquei 15 anos lá e foi maravilhoso, um aprendizado enorme porque eu passei por todas as séries do Ensino Fundamental, desde o 1º até o 9º ano, quando eu substitui grandes professores. Então, foi maravilhoso. Depois fui para o Colégio Objetivo, uma escola muito maior. Trabalhei também com Educação Infantil, com alfabetização e com Ensino Fundamental. Fiquei quatro anos lá. Então, são mais de 20 anos de muita experiência, posso falar que conheço desde Educação Infantil até praticamente o Ensino Médio, por todas essas fases eu passei.

 

Qual é a parte mais difícil de trabalhar com crianças e a parte mais gostosa?

A parte mais complicada é conquistar a confiança de crianças mais difíceis. Em todos esses anos na parte da educação, eu já tive vários perfis de alunos. Agora, a parte mais gostosa é quando você consegue criar essa confiança e percebe que tudo que está ensinando, ela está aprendendo. Quando tem esse retorno, sem dúvida… É incrível ver o seu trabalho sendo reconhecido nas mãos de uma criança. Ver que você faz uma conta de dividir em um dia, por exemplo, e, no dia seguinte, o aluno faz sozinho. Você sabe que ajudou nisso.

 

Tem alguma história para contar, alguma recordação marcante em sala de aula?

Tenho várias histórias na época da alfabetização, né. Eu sempre me dediquei muito, principalmente nessa área. Então, eu fazia fichas de leitura, mímicas, teatros, enfim, e, aos pouquinhos, a criança ia descobrindo. Mas, eu posso destacar a minha época de Infantil III e 1º Ano no Colégio Objetivo, são as duas séries de alfabetização.  Você  segura na mãozinha da criança e ela começa a contornar as primeiras letras, isso no começo do ano. Quando chega no fim do ano, ela já está escrevendo tudo, com o movimento certo. O meu ano de infantil III foi maravilhoso porque todos os alunos pegaram muito bem a escrita, o movimento das letras. Não tem um aluno em si, mas, no caso, a turma toda me marcou muito. Aquela criança de 5 anos, que nem consegue segurar o lápis. É um trabalho de movimento com as mãos e depois de ensinar letra por letra para a criança escrever certinho! Isso é maravilhoso e eu tenho uma recordação muito grande dessa época sim. Então, eu junto o ano todo, as crianças todas. E o primeiro ano é quando eles já conhecem as letras e a gente vai fazendo as combinações. Eles vão descobrindo as palavras a cada dia.

 

Você se considera uma boa professora? Por quê?

Eu me considero uma boa professora sim, porque eu amo o que eu faço, eu amo ensinar não só crianças, mas todas as pessoas, até porque eu trabalhei com adolescentes também. Quando a gente gosta de pessoas, quando tem paciência e quando sabe o que está falando… Eu amo o que eu faço, amo dar aula, amo ensinar o que eu sei, então, por isso, eu me considero uma boa professora sim.

 

Por que você decidiu sair das salas de aula?

Eu morava em Santos, onde eu nasci, e vim morar em São Paulo com o meu atual esposo. Por causa da pandemia também e por causa da época do ano, foi praticamente impossível conseguir algum trabalho na área da educação, mas eu precisava pagar as contas. Até que eu conheci a área da enfermagem, fiz cursos e hoje trabalho como cuidadora de idosos.

 

Do que você sente mais saudade da sua rotina como professora?

Eu tenho mais saudade de estar com crianças. Estar rodeada de crianças é maravilhoso! Quando você chega em uma sala de aula, é uma festa. Eu era recebida sempre com festa. Sinto falta disso, do sorriso das crianças, da alegria deles de estarem estudando comigo, aprendendo e felizes por estarem ali. E, além disso, eles iam para casa felizes. Para mim, isso era o que valia a pena.

Vi que você está dando aulas particulares. Está sendo uma forma de matar a saudade de dar aula? 

Sem dúvida nenhuma. Nas aulas particulares, de uma forma ou de outra, eu consigo repassar o meu conhecimento, consigo ensinar e matar um pouquinho a saudade. Quando a gente gosta de ensinar, seja em sala de aula, seja em casa só com um aluno, sempre é muito bom.

 

Como está sendo essa nova etapa de trabalhar com a área da saúde? 

Eu estou gostando muito porque, assim como a área da educação, na saúde a gente trabalha com pessoas. E eu gosto disso, então é bem bacana isso.  Estou me descobrindo sim na enfermagem, quero cada vez mais me aperfeiçoar, fazer cursos e ter essas duas profissões… Estou amando essa nova área.

 

Se você pudesse deixar um conselho para quem está começando a carreira como professora agora, o que você diria?

Eu falaria o seguinte para quem está começando agora: se você ama crianças, se você ama o que você faz, que é ensinar, vai com tudo, porque ser professora… a gente nasce professora! Eu falo que a gente não se forma, a gente nasce professora. Então, se você nasceu com esse dom, abrace as oportunidades que tiver porque é maravilhoso. Eu apoio muito quem ama ensinar. Não é fácil, é um trabalho bem difícil, porque o professor trabalha não só em sala de aula, mas também em casa. Porém, é gratificante você ensinar e o seu aluno aprender, ser sempre recebida com muito carinho. É a melhor profissão do mundo, de verdade.