As fotografias tiradas por ele são voltadas para cenas da vida cotidiana, mostrando a liberdade de forma poética ou que causam certo estranhamento, por isso se tornaram tão famosas. German teve uma participação decisiva na renovação da fotografia moderna no Brasil, onde registrava de modo intenso a modernização da cidade com experimentações dadaístas e surrealistas, tornando a fotografia um status artístico inédito na época, assim como os fotógrafos e membros da FCCB: Thomaz Farkas (1924) e Geraldo de Barros (1923).
E foi dessa forma que Lorca criou registros poéticos e ao mesmo tempo históricos da cidade de São Paulo. Nascido no bairro do Brás, parte de seu trabalho autoral foi o de registrar as mudanças da paisagem urbana da cidade, se tornando conhecido por conta da sua observação diante de espaços públicos. Seu grande objetivo e dos demais integrantes do FCCB era alcançar a importância artística no mundo fotográfico, ampliando a produção além dos registros e documentação, mas sim, marcando o início da fotografia modernista no Brasil.
Como uma forma de abordar questões sociais, Lorca deixou isso evidente em algumas fotografias, tais como: Revolta de Passageiros (1947) e “À Procura de Emprego” (1951), ou personagens de grande força expressiva, como aqueles de Armazém em Jaú (1949) e Fotógrafo – Largo da Concórdia (1956), imagens que se assemelham a instigantes fragmentos de uma narrativa. Já em “Apartamentos” (1952), destacam-se a geometria rigorosa expressa na arquitetura e o intenso jogo de luz e sombra. German abriu seu próprio estúdio em 1952, e em 1954, se tornou oficialmente o fotógrafo das comemorações do IV Centenário da Cidade de São Paulo.
A partir daí, passou a se dedicar com exclusividade à fotografia, focando na área da publicidade, em que conquistou prêmios como o Prêmio Colunistas, concedido pela revista Meio & Mensagem, em 1985 e 1989.Através da observação da pesquisadora de fotografia, Helouise Costa (1960), pode-se notar a discussão de Lorca em suas obras sobre o conceito da fotografia associado ao registro fiel da realidade, evidenciando que esse real necessariamente passa por uma codificação para se tornar imagem.
Segundo o texto publicado na segunda edição da Revista SP-Arte, em agosto de 2018, German Lorca foi convidado no mês de maio do mesmo ano (após completar 96 anos) para retornar a alguns lugares em que se comprometeu a tentar fotografar, um momento único que transbordava recordações, paixão e nostalgia. O objetivo era a reconexão com a vertigem conceitual e poética das obras de Lorca, um reencontro marcante do artista com sua cidade natal, onde pôde celebrar a potência lírica e atemporal dos registros fotográficos. Ele, com seu olhar atípico sobre as coisas, além de expor um gesto político, demonstrava através de suas obras as “parcelas enclausuradas de beleza”, onde seriam incapazes de imaginar.
German Lorca teve diversas exposições ao longo dos anos, tais como: Individual de German Lorca (03/11/1966 – 14/11/1966); 9ªBienal Internacional de São Paulo (22/09/1968 – 08/01/1967); Coletiva Brasileira de Retratos: anos 80 e 90 (16/05/1995 – 18/06/1995); 7ª Coleção Pirelli / MASP de Fotografia (20/08/1997 – 28/09/1997); German Lorca: fotografias (08/1998 -10/1998).Como forma de homenageá-lo, em agosto de 2018, o Itaú Cultural apresentou a mostra German Lorca: Mosaico do Tempo, 70 Anos de Fotografia, que revisita a vida e obra de um dos mais relevantes fotógrafos brasileiros.
A exposição foi dividida em dois andares do instituto para rememorar seu histórico de produção, apresentando suas fotografias mais icônicas, suas diferentes facetas de atuação –de fotografias autorais a imagens publicitárias –, sua história no Foto Cine Clube Bandeirante e seus registros da cidade de São Paulo. Infelizmente, German Lorca nos deixou no dia 08 de maio de 2021 (98 anos), onde teve uma brilhante e marcante trajetória no mundo fotográfico, e será lembrado por todos aqueles que são apaixonados pela fotografia e arte.