Perfil Fotógrafos | Andrey Haag

| Perfil Biográfico Fotógrafos | Andrey Haag
| Por Esthela Ribeiro | 4FN2 2023-2
| 5175 caracteres

Andrey Haag, fotógrafo de 28 anos, natural de Ribeirão Pirese cresceu em Praia Grande, no bairro Samambaia, desde os 11 anos. Sua vida artística começou de modo dramático, quando foi expulso de casa por fazer parte da comunidade LGBTQIAPN+ algum tempo depois de comprar seu primeiro Smartphone e ter seu primeiro contato com a plataforma de fotos Instagram.

Segundo o fotógrafo, no meio das caminhadas para encontrar um lugar para morar,ele tirava fotos de qualquer coisa que chamasse sua atenção, como fios elétricos e bitucas de cigarro, e postava em seu perfil no Instagram. Essas pequenas fotos começaram a circular na empresa que trabalhava na época, junto do rumor que ele fotografava.

Aí um dia uma menina me convidou para fazer o ensaio dela. E eu disse ‘Puts, mas eu só fotografo com o celular’ e ela ‘Não, eu gosto do seu olhar’ e tals

foram as falas que o fotógrafo usou para descrever seu primeiro contato mais sério com a fotografia, e a partir desse ponto Andrey viu uma possibilidade em sua vida, começando a procurar e pesquisar mesmo sem ter dinheiro para faculdade. Na mesma época ele começou a fazer horas extras na empresa que trabalhava, porém foi demitido e com a rescisão e o banco de horas que ganhou conseguiu comprar sua primeira câmera, uma Canon T5i, e seu primeiro notebook.

Após a compra de sua primeira câmera Haag se interessou mais por fotos de nudez masculina, mas sem erotismo e sim o corpo como algo da natureza. “Eu sofri muito pudor, né? Minha família é uma família evangélica, então sempre tive essa coisa do corpo ser demoníaco e a gente não poder mostrar o corpo” falou o fotógrafo, explicando sua busca por quebrar desse paradigma e retratar a humanidade do corpo masculino através de fotos de nudez masculino em pedras ou no mato.

Andrey também conta um pouco de como foi que fotografia deixou de ser apenas um hobby e virou algo profissional. Segundo ele, a partir do momento que comprou a câmera e começou a investigar as coisas, não era mais apenas um passatempo.

Haag entendeu que era uma pesquisa e que queria se comunicar por meio de fotos. “Demorou tempo para ganhar dinheiro, mas assim… a partir do momento que eu entendi que eu queria me comunicar, que aquilo tinha um proposito. Ali deixou de ser hobby, sabe?”, disse Andrey.

Hoje em dia eu uso uma câmera 7d… uma lente 50mm com fungo e uma 24 [risos] com fungo também.”

O fotógrafo também falou sobre seu posicionamento de mercado. Haag diz que seu posicionamento tem muito a ver com seu posicionamento político e se deu conta disso enquanto trabalhava com vídeos de casamento, onde aprendeu muito do que sabe hoje, mas mesmo que ganhasse dinheiro e conhecimento, não estava feliz.

Registrar a ‘quebrada’, registrar meus amigos, fazer fotos das pessoas que estão ao meu redor… isso acabou abrindo portas que eu nem sabia que existindo e acabou me dando possibilidades. Então meu posicionamento no mercado tem a ver com meu posicionamento político, que é para além de fotografar ou prestar um serviço. Eu quero me comunicar, quero falar sobre a beleza do meu lugar, quero falar sobre a beleza das pessoas que me cercam”.

Andrey vai adiante com sua linha de raciocínio e diz que seu posicionamento também tem a ver com seu estilo de arte, buscando explorar o equipamento precário em comparação a algumas empresas de fotografia de eventos e modelos. Ele diz que seu estilo de fotografia, o qual chama de “fotografia de quebrada”, busca se comunicar com a precariedade de seus equipamentos, do lugar em que mora e dos meios que circula.

Sua experiência mais marcante também retrata o seu estilo de fotografia. Foi quando participou da escola de arte e território do Instituto Procomun e a proposta era criar um conteúdo artístico, onde Andrey criou a pesquisa chamada “Eu posso sonhar?”. A pesquisa foi inspirada em uma fala da mãe do próprio fotógrafo, que afirma não conseguir mais sonhar mesmo tendo apenas 50 anos de idade.

Aí isso mexeu comigo e me fez ir para as ruas gravar as pessoas, perguntar os sonhos delas”, diz Haag, que além de gravar também fez retratos dessas pessoas. O artista diz ter feito essa pesquisa com 30 pessoas. “Ver a disponibilidade dessas pessoas de posar para uma câmera, contar seus sonhos e histórias mexeu muito comigo”.

Andrey diz que a gentrificação e o apagamento das “quebradas” e as pessoas que vivem nelas são os critérios que ele usa para escolher as paisagens, pessoas e objetos que ele fotografa. Segundo o fotógrafo ele procura retratar e documentar essas pessoas e lugares. “Que memórias tem desses lugares? Que memórias tem dessas pessoas? Se não tiver eu quero deixar registrado, se tiver, eu quero deixar mais ainda”.

Essa foi a biografia de um fotógrafo que não tem formação formal, porém que aprendeu com a rua e com os recursos que tinha, como YouTube. Aprendeu experimentando e investigando, e assim quer retratar a vida de mais pessoas que são esquecidas e excluídas da sociedade.

Instagram:
https://www.instagram.com/andreyhaag