Perfil Fotógrafos | Júlio Souza

| Perfil Biográfico Fotógrafos | Júlio Souza
| Por Letícia de Lima Santos | 4FN2 FTI 2023-2
| 16740 caracteres

Júlio Souza nasceu em 19 de setembro de 1994, na cidade de Santos em São Paulo, viveu sua infância até os 13 anos em São Vicente e voltou para Santos. Atualmente com 29 anos e com várias paixões além da fotografia como música, psicologia e pautas sócias aceitou responder algumas perguntas sobre sua vida na área da fotografia contando experiências e dando dicas para quem quer ingressar na área.

Letícia de Lima: Como surgiu a fotografia na sua vida?

Júlio Souza: Bom, vamos lá então. Primeira pergunta como surgiu a fotografia na minha vida? Cara, fotografia, ela apareceu na verdade desde quando eu era pequenininho, tipo, meu pai tinha uma câmera, eu sempre achava a câmera em si muito bonita e tal, enfim, brisa de criança né? E aí tudo bem, só que tipo assim, a fotografia em si nunca me interessou, né, ela nunca foi apresentada, de fato, para mim. E aí passaram-se muitos anos, eu entrei na faculdade e eu tive aula com o Alisson Montrezol na Unimonte, que agora é São Judas, mas enfim. E aí o Alisson apresentou a fotografia para a sala de um jeito muito f*da, todo poético, mostrando tudo que ele sentia ali pela fotografia, por que ele tirava tais fotos. Teve até um bagulho que eu lembro disso até hoje, que foi ele falando que tipo, ele queria fazer um livro sobre as fotos que ele decidiu não tirar, né, porque ele fazia muita foto de paisagem, assim e tal, e tinha coisas que ele queria presenciar ali, o momento enfim, ele falou de um jeito muito mais profundo, mas eu achei interessante, eu acho que foi uma coisa que também me levou para a ideia de uma fotografia mais conceitual, com uma narrativa e tal, mas enfim, que eu vou falar mais sobre isso para frente. Isso foi em 2014. Já comecei a fotografar, não profissionalmente, mas como hobby.

LL: Qual a sua formação?

JS: Segunda pergunta, qual minha formação? Minha formação é em publicidade e propaganda. É bacharelado graduação. Mas enfim, não sei se é pertinente as outras coisas de curso e tal. Mas eu vou colocar aqui caso seja útil para você. Eu fiz curso de Photoshop focado em imagem. Fiz curso de iluminação também com o Leonardo Pacheco lá em São Paulo. E cara, acho que foi só isso que eu fiz, tipo, mais focado em fotografia assim, o resto foi muita, muita, muita, muita prática, tipo sei lá, ano que vem vai fazer dez anos que eu tô fotografando já. Então, é isso.

LL: Qual o seu estilo de fotografia?

JS: Essa pergunta do…. Qual é o meu estilo de fotografia, ela é bem complexa porque, tipo assim, eu não sou um fotógrafo que trabalha há muitos anos, que nem eu falei há 10 anos como fotógrafo, trabalho como fotógrafo há dois anos e meio eu acho, mas eu fotografo há 10. Então hoje eu tô em um lugar da fotografia em que eu não posso dar o meu estilo para todas as fotos que eu faço. Então tipo, tem cliente que precisa de uma coisa mais clean, tem cliente que precisa de uma coisa mais dura, tem cliente que precisa de uma coisa mais comercial, enfim, depende do cliente. E também depende se você tira foto de comida, de modelo, de evento, depende de um monte de coisa. Mas a minha fotografia em si, quando eu pego para fazer trabalho autoral, é uma fotografia que tem muita sombra, ela é bem carregada de sombra, mas ao mesmo tempo ela tem uma leveza na foto. Eu gosto muito de luz difusa, eu gosto muito de, inclusive, atenuar essa luz difusa na edição, eu gosto muito de cores frias. Então, eu acho que, para definir um pouco melhor, seria cores frias, sombra e leveza, é isso. Eu acho que isso define meu estilo de fotografia. E é isso. Eu acho que, enfim, é isso. E complementando essa resposta aqui, eu gosto muito de uma iluminação que se chama Rembrandt, realmente em referência ao pintor, que usava sempre um foco de luz nas pinturas dele e esse foco de luz sempre produzia muita sombra e é uma iluminação que fica a 45 graus acima do modelo. Então, enfim, só pra…é isso, gosto muito dessa iluminação, acho ela linda, magnífica, perfeita. Até porque ela dá uma sensação de… espiritualidade, assim, na foto. De algo de cima, assim, uma luz de cima, p*ta… eu acho f*da,f*da demais.

LL: Qual o seu diferencial dos outros fotógrafos?

JS: Qual meu diferencial na fotografia? Eu acho que diferencial porque, assim, quando a gente fala sobre foto autoral, sobre o seu diferencial e tal, a gente geralmente imagina a foto em si, né? Mas eu acho que pode vir muito antes. Então essa parada da narrativa, para mim, é muito importante. Não é todo fotógrafo que faz, porque geralmente a gente pensa em fazer um moodboard, definir o estilo do ensaio e tal, aquela coisa. Mas isso eu acho que é o básico do básico. Eu acho que toda vez que você sai de casa para fotografar, você tem que ter isso. Mas eu gosto mais de pensar na narrativa mesmo. Quando eu falo narrativa, eu já falei isso várias vezes, não expliquei muito bem o que é, né? Seria, tipo, assim, montar uma história por trás da foto, né? Então eu fiz um ensaio uma vez que eu junto com minha assistente ali da época, a gente pensou em contar a história de uma moça que tinha assassinado o marido e a gente fez todas as fotos ali, tipo assim, como se aquelas fotos organizadas da forma certa, elas contassem essa história. Porque a foto, como ela é estática, ela não conta literalmente a história. Mas eu acho que você montando de um… existe um jeito de montar uma narrativa visual e estática que consiga contar a história do mesmo jeito, sabe? É um pouco mais complexo, mas eu acho que é um pouco mais bonito também, porque você tem menos recursos para contar a história, então você tem que quebrar mais a cabeça. E outras coisas também, tipo como essas ideias que eu falei, de luz difusa, de sombra, cores frias… que são recursos que todo mundo tem acesso, né? Todo fotógrafo tem. Mas eu acho que também definem bem a minha característica na fotografia. Além de que eu gosto muito de fotografia um pouco mais opaca, assim, aquela coisa com menos contraste, com menos brilho… enfim. É por aí, é por aí. Não sei se expliquei bem, mas é por aí.

LL: Como foi se posicionar e ter o seu espaço no mercado da fotografia?

JS: Então cara, eu ainda não me posicionei. Tipo assim, eu sei o que eu quero, mas eu ainda não consegui viver só desse segmento de fotografia. Então hoje, eu trabalho com fotografia de moda, eu trabalho com evento, trabalho com fotografia corporativa. Eu trabalho com o tipo de fotografia que aparecer, na verdade. Mas o meu foco é trabalhar só com fotografia de moda. Porque a fotografia de moda, ela dá essa possibilidade, quer dizer, uma das possibilidades de trabalhar com moda é fazer os editoriais. São esses ensaios em que o fotógrafo tem a liberdade criativa de colocar a cara dele. Tudo bem que a marca vai pedir uma coisa, é claro que vai ter uma interferência, mas te dá mais liberdade criativa para colocar essas narrativas que eu já repeti milhares de vezes e além de todas as outras características que eu citei, das cores frias, sombras, etc. Mas, eu também gosto muito de foto de show. Então, eu não sei se a minha pretensão é viver única e exclusivamente de moda. Eu gosto muito de fotografar show. É… Enfim, porque eu gosto muito de música, enfim, família de músico. Minha vida foi música a maior parte da vida, então, acho que é uma outra grande paixão dentro da fotografia também.

LL: Logo quando você começou a fotografar, em algum momento você pensou em desistir? Se sim o que fez você mudar de ideia?

JS: Sexta pergunta. Se eu já pensei em desistir da fotografia e o que é que fez eu mudar de ideia? Já pensei em desistir de fotografia milhares de vezes. Muitas e muitas e muitas vezes. Mas o que sempre faz eu mudar de ideia é, realmente, toda essa explicação que eu to te dando. Eu gosto muito dessas coisas. Das narrativas, dos tipos de iluminação. Eu acho que uma coisa muito foda da foto é pensar a luz. Porque a luz é o principal da fotografia. Não que todo o resto seja importante também. Mas criar a luz é um bagulho muito f*da. Uma coisa que eu gosto muito que a fotografia me dá como possibilidade é aplicar outras áreas de conhecimento que eu tenho. Eu gosto muito de psicologia, eu gosto muito de arte no geral, de dança, de um monte de coisa e tudo isso eu consigo aplicar, por conta dessas narrativas inclusive. Que eu estou citando pra caramba recentemente. Tanto que uma coisa que eu descobri, quer dizer, não sei se é todo mundo que vai concordar comigo, mas eu acredito que dança tem tudo a ver com pose. E, inclusive, está aí uma outra característica que eu não citei lá em cima. Eu gosto muito de fazer pose em movimento, porque eu acho que cria um lugar diferente de pose e acho que dá uma característica nova para a foto, além de criar a sensação de movimento mesmo dentro da foto, que é uma coisa estática.

LL: Quais os desafios você acredita ter o profissional de fotografia pela frente na atualidade?

JS: Sétima pergunta. Eu já gravei esse áudio milhares de vezes, porque são muitos os desafios, eu não consigo classificar eles, mas… enfim, cara, tipo, eu acho que os principais são conseguir cliente, conseguir fazer contato para conseguir cliente. Entender, assim, isso eu acho que para todo autônomo, né, tipo conciliar rede social, financiar o serviço em si, e, enfim, saber em que momento investir, mano, tudo isso é um grande desafio e a parte de contato, ela é bem complexa, porque, enfim, as pessoas que já são consagradas no mercado, geralmente as marcas, os clientes chamam essas pessoas, de marcas de médio a grande porte, então isso cria uma panela, tipo, isso seja em qualquer lugar, em São Paulo, em Santos, qualquer lugar, mas principalmente em Santos, claro, porque isso é uma cidade menor, e aí se você é preto dentro dessa ideia é pior ainda, porque as pessoas te descartam muito mais fácil, muito mais fácil, porque o mal da fotografia hoje, no mundo que a gente vive hoje é que todo mundo acha que a fotografia é vídeo maker, vídeo maker, todo mundo acha, por conta de celulares. Sendo que, tipo assim, quando a gente tá com uma câmera na mão, a parte técnica da fotografia, eu acho que, pelo menos pra mim, é a coisa que eu menos penso, tipo, eu penso no ambiente do set, eu penso na iluminação, eu penso, tipo, chegou no horário, quanto tempo que a gente vai fazer isso, como que as coisas estavam planejadas pra serem feitas, então, mano, é muita coisa, então, um ensaio fotográfico, ele não é só pegar o bagulho lá, apertar o botão e boa, né? O que, enfim, até hoje, mesmo sendo a coisa mais clichê do mundo, que todo mundo acha, né? Também já, tipo, trabalhei com muito aquele de moda que acompanha o ensaio e acha que manja pra cacete, sendo que, mano, deixa eu fazer o meu trabalho, tá ligado? E geralmente as pessoas nem sabem do que estão falando, assim, sabe? Então, mano, são muitos desafios. E aí, o que isso tudo gera que eu tô falando? Às vezes uma pessoa chega e fala, eu não gostei da foto. Tipo assim, a foto tá perfeita tecnicamente, tá uma foto bonita, mas não foi do gosto daquela pessoa. Aí pronto, acabou. Te descartou e chamou outro. Isso acontece bastante. E eu acho que isso é um dos principais desafios. Então, mano, é aquele bagulho de ter que agradar, às vezes, enfim. É isso. Às vezes é puxar um saco mesmo.

LL: Queria saber qual o seu critério para a escolha de fotos que você vai postar?

JS:  Mano, oitava pergunta. Meu critério para postar fotos, são as fotos que eu achei que estão assim, perfeitas, tá ligado? Assim, lógico que toda fotografia que eu fiz, eu acho que na minha vida, eu vou achar que tem um ponto que pode ser melhorado, mas são as fotos que eu achei mais coerentes em todos os sentidos. Então, questão técnica, de alinhamento, de pose, de iluminação, a roupa, a modelo, as fotos que condizem mais com a proposta do que foi fotografado, tudo. Então é isso, eu acho que a ideia é de perfeição dentro do que eu tinha de recurso e dentro do que foi a proposta, é isso.

LL: Que dica você daria para quem tem o sonho de viver da fotografia e um conselho para essa pessoa?

JS: Mano, nona pergunta. Eu acho que a primeira dica que eu daria é, cara, pega técnicas, estuda, é muito importante, mas fotografia é prática. Prática, prática, prática e prática. Então, é tipo assim, pô, aprendi um bagulho novo, pega lá o que você tem de recurso e testa. Testa muito para você saber exatamente o que fazer. Outro ponto é que fotografia é feita de detalhe. Geralmente a gente pega a foto, olha pra ela e, tipo assim, pô, foto bonita. Mas, não, você pega os detalhes. Então, tipo assim, põe uma luz difusa, colocada em determinado lugar, porque, cara, você mexe a iluminação um pouquinho pro lado, ela dá um efeito. Você coloca um pouquinho pro outro, dá outro efeito. Você vai usar duas fontes de luz, outro efeito. Então, tipo assim, tudo que é detalhe na fotografia é importante. Tem um cabelo fora do lugar, mano, tira. Porque tudo, como dizem, não contribui com a narrativa da foto. Mesmo que você não tenha pensado em nada antes, você não criou uma história pra fazer aquela foto, a foto vai passar uma sensação pra pessoa que tá vendo. Então, cada detalhe importa. Uma outra coisa importante, tinha até uma dinâmica que o meu professor fazia, o Alysson, que era da gente olhar pra foto e falar o que tem na foto. E aí, conforme você vai praticando, no começo você fala, tipo assim, ah, nessa foto aqui tem uma pessoa, uma flor, sei lá o quê. E aí, conforme você vai fazendo essa dinâmica, você vai começando a perceber detalhes muito importantes. Porque é isso, né? Tudo na fotografia dá um ar de alguma coisa, uma sensação. Então, todo detalhe é importante. Outra dica é, tipo assim, cara, começo de fotografia, a gente trabalha muito de graça pra fazer contato. Mas eu acho que é muito importante a gente saber pra quem a gente tá trabalhando e por que a gente tá fazendo esse trabalho de graça. Porque, enfim, nem sempre o retorno é monetário. Mas ele tem que te trazer alguma coisa. No começo pode ser portfólio, aí depois pode ser contato, pode ser… sei lá, acho que essas são as dicas.

LL: O que você acha que vai acontecer no futuro da fotografia com a inteligência artificial tomando força agora?

JS: Cara, o que eu acho que vai acontecer no futuro da fotografia com IA? Eu acho que, como toda revolução, porque a IA vai criar um grande movimento em absolutamente todos os setores de trabalho, eu acho que o fotógrafo vai ter que se adaptar, porque o fotógrafo que não é editor ou fotógrafo que não sabe mexer no Photoshop, que gosta de fazer uma coisa mais crua, que eu acho que é a menor parte do mercado, vai ter que começar a mexer. O fotógrafo que já trabalha com essas ferramentas, vai ter que dar um jeito de burlar o mercado e continuar trabalhando e se adaptando. Assim como vários outros mercados vão ter que se adaptar. Tipo mercado de texto, de livro, de… mano, a escola, o ensino em si vai ter que se adaptar por conta da IA. Então, todo mundo vai ter que se adaptar, eu, o fotógrafo, vou ter que estar no meio disso. Tudo bem que o nosso mercado é um dos mercados que vai ser mais afetado, mas é isso, né. A gente vai ter que trabalhar junto com IA. Não tem outra resposta, porque assim como na Revolução Industrial que todo mundo achou que o maquinário ia substituir todas as pessoas, ia ficar todo mundo sem trabalho, não foi o que aconteceu, né? Lógico que muita gente foi demitida ali no momento e tal, mas o mercado se adapta as condições, e aparecem novas profissões, outros jeitos de trabalhar, enfim… e eu acho que é isso.

LL: Com tudo que a fotografia já te proporcionou e continua proporcionando, você tem alguma pretensão/sonho/plano que deseja realizar? Ou prefere deixar acontecer e abraçar as oportunidades que vier?

JS: Então, agora a última pergunta, com tudo que a Fotografia já me proporcionou… Cara, o meu plano agora é primeiramente focar só no mercado de moda e de música. E conseguir me estabilizar nesse lugar. A partir do momento que eu me estabilize nesse lugar, eu quero começar a fazer exposição também. Tanto com essa fotografia mais conceitual, tipo contando histórias através de fotografia, que é uma frase bem clichê, mas pra resumir é isso, e cara, provavelmente viver o resto da minha vida disso, eu realmente amo muito o que eu faço, eu vim respondendo essas perguntas com uma euforia no coração, porque eu gosto muito de fotografia, todos os aspectos que ela traz, tudo que ela traz, até a parte de que a gente conhece muita gente, é legal, a gente conversa com uma cacetada de gente, uma porrada de gente, contando como que chegou até aquele set, história de vida, enfim, tudo que a fotografia proporciona é legal, das coisas mais técnicas, das coisas mais humanas. E é isso, é isso.

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