Perfil Fotógrafos | Juliana Zacarias

| Perfil Biográfico Fotógrafos | Juliana Zacarias
| Por Gabriela Medeiros | 4FN2 FTI 2023-2
| 7818 caracteres

Juju Zacarias está no início de sua carreira de fotografia, foi minha escolha pois eu já havia tido contato com seu trabalho enquanto realizava sua formação na ESAMC, a partir dos eventos da atlética.

Gabriela Medeiros – Faça uma breve apresentação com nome, idade, onde nasceu e descrição da carreira

Juju Zacarias –  “Sou a Juju Zacarias, tenho 19 anos e esse nome artístico e social veio depois que me descobri não binárie, unindo o útil ao agradável passei a me apresentar assim pois meu nome de nascimento é terminando em a, virado totalmente ao feminino. Nasci em São Paulo quando tinha três meses de idade, minha família decidiu se mudar para Mongaguá, por ser uma cidade bem menos agitada. Mongaguá tem suas vantagens, mas as oportunidades no audiovisual ainda são muito restritas, além da escassez de cursos superiores.

A partir daí minha carreira foi e continua sendo construída em Santos, onde cursei produção audiovisual e iniciei meus trabalhos como freelancer em fotografia, edição, roteiro e tudo o que envolve esse universo. Nesse último ano comecei a atuar numa produtora audiovisual, onde tive ótimas oportunidades e experiências e que pretendo continuar até a realização de um sonho: trabalhar somente como roteirista. Para isso um grande trabalho vem sendo feito, é abraçar cada pequena oportunidade para avançar. “

GM – Como e quando começou o seu interesse por fotografia?

JZ – “Meu interesse pela fotografia começou creio que no mesmo tempo que o interesse por outros tipos de arte. Eu aprendi a tocar violino e bateria, comecei a desenvolver melhor minha escrita, fui fazer aulas de dança, pintar, criei monólogos em mente… Enfim, aos 15 eu era a pessoa da arte, mas uma pessoa perdida porque queria fazer tudo ao mesmo tempo. Quando me dei conta que havia uma vertente que conseguia transmitir sentimento e até mesmo colocar as outras formas de arte dentro dela eu me encantei pelo audiovisual, e assim também pela fotografia. Eu entendi que era uma coisa que eu poderia sim monetizar mas que não me faria perder o encanto pela composição. Entrei na faculdade com 17 anos e comecei a entender o papel de cada parte ali. É enxergar algo bonito, captar e transmitir aos demais.”

GM – Qual a sua formação?

JZ –  “Cursei produção audiovisual, um tecnólogo de apenas 4 semestres, mas que me ajudou muito a formar a percepção que tenho hoje da fotografia.”

GM – Qual é o seu kit/equipamento de trabalho (câmera, lentes, iluminação etc.)?

JZ – “Geralmente nós utilizamos uma câmera, o instrumento base para iniciar, e hoje mesmo a gente já vem apostando também na fotografia mobile, aquela feita com o celular, isso porque a tecnologia tem nos permitido ter a qualidade de uma câmera profissional em alguns celulares, mas na minha opinião nada dispensa a fiel amiga. No momento eu estou infelizmente sem nenhum equipamento, pois como dito antes o meu propósito é o roteiro, e nesse caso, eu sigo utilizando os equipamentos que tenho disponíveis na empresa que atuo hoje, são eles: as câmeras, sendo minhas queridinhas a Canon EOS 6D Mark II, utilizada com lente 50mm e a Sony ZV10, utilizada com a lente 100mm, ambas entregam muito bem, sendo a 50mm para fotos mais fechadas, na prática é preciso ficar mais pra trás pra que caibam mais objetos no quadro, e a 100mm para fotos um pouco mais abertas, a distância do objeto então pode ser menor. Para iluminação utilizamos softbox, mas isso somente no estúdio, o clássico flash, que precisa ser usado com cautela e raramente bastões de led, pois é uma coisa 8 ou 80: o que você pode fazer com a led, também pode ser feito com um flash, e vice versa, o que vai determinar é a proposta e geralmente a nossa é só a foto ficar visível com o que não foi possível ser feito no iso (lembrando que o isso às vezes pode chegar a valores muito altos, mas isso danifica a foto, ela fica granulada).”

GM – Qual a sua principal área de atuação, você atua na área  desejada ou gostaria de mudá-lá?

JZ – “Hoje minha principal área de atuação é na edição de vídeo, porque nós precisamos entregar rápido aquilo que as pessoas estão consumindo com mais frequência. É raro hoje alguém parar pra ver um portfólio com 100 fotos, que seja. Mas se eu deixar disponível um demo reel de até um minuto com os vídeos que já fiz o acesso vai ser bem maior. Infelizmente a fotografia tem ficado em segundo plano numa visão geral, mas se souber observar dá pra aproveitar muito. Sobre a minha pretensão com o roteiro, só continuo apostando nisso porque essa leitura já é toda estruturada às pessoas certas, que vão determinar se aquilo vai ser gravado ou não, porque se dependesse do público ler e aprovar seria muito mais complicado.”

GM – Como foi se posicionar e chegar a ter o seu espaço no mercado da fotografia? Sofreu algum preconceito ou dificuldade no caminho?

JZ – “Me posicionar não foi fácil. Como uma pessoa preta, com deficiência, que faz parte da comunidade lgbt+ e de outros contextos que colocam o meu acesso em segundo plano, eu achei que fosse demorar muito mais pra conseguir trabalhar na área. Preconceito a gente sofre todos os dias por ser quem é, isso é duro, mas precisamos ser inabaláveis e isso começa quando a gente acredita em si mesmo. Eu só consegui sair do lugar a partir do momento que eu me mostrei e disse “isso é o que eu sei fazer”. Não é todo mundo, a gente não pode esperar que todo mundo se interesse, mas as pessoas certas estão esperando pra ver, e a gente precisa arranjar um jeito de chegar até elas.”

GM – Quais desafios acredita que o profissional de fotografia tem pela frente na atualidade?

JZ – “As IA’s, as queridinhas do momento. De repente um mecanismo pode substituir uma foto artística que levaria tempo, ajuste e edição antes da entrega. De repente não só a fotografia mas várias outras profissões se veem ameaçadas, porque um robô pode perfeitamente fazer um trabalho que seria feito por você. Muitos pensam que se ganha, mas se perde não só em questão de técnica, mas também de emoção. Não trago aqui a tecnologia como vilã, pelo contrário, é nossa aliada, mas precisamos ter cautela e utilizá-la ao nosso favor, por exemplo para estruturar uma ideia.”

GM – Qual o seu conselho para quem quer começar nessa carreira?

JZ – “Vai em frente, eu sei que é clichê, mas vai! Tem dias que o bloqueio criativo ou até mesmo as ideias excessivas nos paralisam. Respira, escreve num papel, pega referências, vai aos poucos, não precisa seguir o tempo de todo mundo porque na verdade tá geral perdido. Estude técnica sim, mas também treine o seu olhar, se pergunte qual ponto de vista vai ser sua marca registrada e siga. Não dá para fazer tudo ao mesmo tempo, então foque em aprimorar o que decidiu que seria.”

GM – Alguma opinião sobre a fotografia na era da tecnologia? Seria o nosso momento atual algo bom ou ruim para o cenário fotográfico?

JZ – “É a era do imediatismo. O Instagram mesmo, que era uma rede social só para fotos, se tornou uma rede para compartilhar vídeos de 15- 30 segundos. Tem muito conteúdo valioso, mas a gente precisa garimpar nos perfis uns dos outros, e quando eu digo isso é porque ultimamente quem tem apoiado o trabalho dos fotógrafos são os próprios fotógrafos.“

GM – Deseja acrescentar alguma coisa que não perguntei?

JZ – “O pessoal chama quando quer ter uma foto bonita do casamento, do aniversário, até de velório… Mas a arte tá ficando no esquecimento, aquela foto que tu olha e te faz pensar em mil coisas tá difícil de achar. O maior desafio de quem trabalha nessa área é fazer a galera parar tudo e admirar, mais do que qualquer outra coisa.”

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